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São Paulo, domingo, 02 de março de 2003

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SAÚDE

Dentistas também estudam a relação das doenças periodontais com problemas cardiovasculares e infecções pulmonares

Infecção na gengiva leva a parto prematuro

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O sangramento frequente da gengiva, ao toque do fio dental, por exemplo, é o principal sintoma de uma doença bacteriana chamada periodontite, que afeta 75% da população brasileira.
Além de levar à perda dos dentes, a periodontite está associada a outros problemas de saúde mais sérios, como doenças cardiovasculares, infecções pulmonares e partos prematuros, segundo vários estudos internacionais.
No Brasil, essa relação começa a ser estudada de uma forma mais abrangente em uma pesquisa da Faculdade de Odontologia da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto (SP), com financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Desde janeiro, pacientes da rede municipal de saúde que tenham, além de inflamações gengivais, problemas cardiovasculares, diabetes, artrite e osteoporose ou sejam gestantes são acompanhados por uma equipe de periodontistas da faculdade.
Segundo Mário Taba Júnior, professor da faculdade, o principal objetivo do trabalho é avaliar o efeito do tratamento periodontal sobre as outras doenças.
Vários estudos internacionais já teriam comprovado que o cuidado com a periodontite previne o aparecimento de algumas doenças e facilita o controle de outras já existentes. "Quando não tratada, a periodontite alimenta e agrava os sintomas das doenças sistêmicas", afirma Taba Júnior.
De acordo com o professor, há evidências de que a infecção gengival prejudica o controle do diabetes do tipo 2. Taba Júnior diz que, após o tratamento da periodontite, há casos de diabéticos que passaram a necessitar de menores doses de insulina.
As bactérias causadoras da periodontite também podem migrar para o coração e provocar endocardite (uma infecção no forro das válvulas do coração) e outros problemas cardiovasculares, como a aterosclerose [depósito de gordura nas artérias", que pode evoluir para isquemia e infarto.
De acordo com Rodrigo Bueno de Moraes, 31, um dos diretores da Sobrape (Sociedade Brasileira de Periodontologia), existem autores que consideram as infecções bucais fatores de risco para o coração comparáveis ao tabagismo e à hipertensão.
A periodontite também pode levar ao nascimento de bebês prematuros. Segundo a periodontista Idelana Maria Luz Lopes, 40, professora do curso de especialização da Sobrape, há estudos demonstrando que as bactérias periodontais podem provocar contrações uterinas e dilatação prematura do colo uterino, apressando o parto.
Para Lopes, é necessário acabar com o mito de que o sangramento gengival em mulheres grávidas "é normal", uma consequência das alterações hormonais ocorridas durante a gestação. "Nenhum sangramento na gengiva é normal. A grávida precisa ser tratada, sim, para manter a doença periodontal controlada", afirma.
Segundo ela, em pessoas "saudáveis", que não têm doenças associadas, o processo infeccioso da periodontite costuma gerar mal-estar e desânimo. É o que sentiu o engenheiro Marco Antônio Pupo, 53, no ano passado, após ser acometido por uma periodontite severa, causada por uma bactéria resistente que só foi eliminada com o uso de antibióticos.
"Depois do tratamento, senti um bem-estar indescritível", recorda-se. Pupo afirma que apresentava sangramentos na gengiva desde os 20 anos. "Ia ao dentista, fazia raspagem no dente, mas a inflamação persistia", conta. Há cinco anos, começou a se tratar com uma periodontista, mas no ano passado descuidou da higiene bucal. "A infecção voltou com carga total. Levei a maior bronca da dentista", diz.


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