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URBANIDADE
Escritora de rua
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
Para resistir aos olhares
suplicantes das crianças de
rua e não dar uma esmola, a escritora Patrícia Secco transformou-se em uma biblioteca ambulante. Estende a mão e, no lugar de dinheiro, entrega um livro
infantil. "Eu fico com a consciência tranqüila e as crianças sentem-se satisfeitas."
Patrícia é daquele tipo de pessoa que não gosta de dar esmola
para crianças. "Elas acabam viciadas em ser pedintes. Além disso, muitas delas são exploradas
por adultos", afirma. Mas a escritora não consegue dizer não.
"Eu fico me sentindo culpada."
Ela encontrou na literatura a solução para o dilema de dar ou
não dar esmola.
Formada em administração,
Patrícia passou 11 anos trabalhando no mercado financeiro.
"Eu estava ganhando dinheiro,
mas o meu prazer não estava
naqueles relatórios repletos de
números", diz. Encontrou prazer
como escritora de livros infanto-juvenis. Aprendeu, no entanto, a
tirar proveito de sua vivência
empresarial.
Patrícia -que possuía contato
com empresas e tinha estudado
planejamento tributário- queria escrever suas histórias e distribuí-las gratuitamente. Ela levava um projeto de livro para diretores de empresas e ensinava
como abater os custos de sua
produção dos impostos. Escolhia
então as escolas e as entidades
sociais para receberem as doações desses livros.
Daí que não ela não enfrentou
dificuldades para manter a biblioteca ambulante dentro do
carro. "No começo, dava o livro
somente por um impulso. Depois, fui percebendo que as
crianças se encantavam com o
inesperado presente. Deixavam
o que estavam fazendo e ficavam sentadas no chão fascinadas com as figuras."
O que era uma prática coletiva
está se tornando um hábito de
um grupo de amigos de Patrícia,
a quem ela passou a entregar cotas de seus livros a cada mês -e
assim vai surgindo na cidade de
São Paulo uma série de minibibliotecas ambulantes. "É uma
delícia ver o prazer de quem dá e
de quem recebe os livros." Ela
passou a ter cada vez mais pedidos porque os amigos estão convencendo outros amigos e entrar
em essa corrente literária.
Esse jeito de substituir a esmola está começando a se tornar
um livro também: agora inspirando uma nova história a ser
publicada. "Só fico imaginando
a reação das crianças de rua ao
lerem sobre crianças que lêem livros na rua."
@ - gdimen@uol.com.br
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