São Paulo, sexta-feira, 02 de março de 2007

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Idade pode reduzir fertilidade masculina

Estudos sugerem que filhos de homens mais velhos correm mais riscos de apresentarem anomalias como autismo e esquizofrenia

Médicos ressalvam que ainda não se conhece a extensão dos problemas, pois pesquisas são poucas e inconclusivas

DA REPORTAGEM LOCAL

Se havia uma área em que os homens pareciam invulneráveis era na capacidade reprodutiva. Enquanto para as mulheres a menopausa (entre os 45 e os 55 anos) representava o final inexorável da possibilidade de ter um herdeiro genético, para eles os exemplos de Charles Chaplin e do cantor Ives Montand, que tiveram filhos com idades avançadas -73 e 67 anos respectivamente- eram um atestado de que, pelo menos nos testículos, os homens mantinham-se sempre jovens. Isso está caindo por terra.
Autismo, esquizofrenia, nanismo, anomalias cranianas e faciais, entre outros problemas, parecem ser mais freqüentes em filhos de homens com idades entre 45 e 50 anos. E a causa seria o envelhecimento da fábrica de espermatozóides, os testículos. O mesmo envelhecimento seria o responsável pela queda da fertilidade masculina.
O diretor do Centro Reprodutivo Masculino da Universidade de Columbia, Tarry Fisch, autor de "The Male Biological Clock" (o relógio biológico masculino), disse ao jornal "The New York Times": "A fertilidade vai cair para alguns homens; outros vão continuar férteis, mas não no mesmo grau, e há um risco aumentado de anormalidades genéticas".
Um dos estudos mais instigantes a favor dessa tese foi o realizado a partir de dados de 87.907 nascimentos em Jerusalém, entre 1964 e 1976. Cruzando-se esses dados com os registros psiquiátricos israelenses, os especialistas concluíram que filhos de homens com mais de 45 anos tinham o dobro de chance de desenvolver a esquizofrenia, quando comparados a filhos de pais com menos de 25 anos.
Para autismo, outro estudo mostrava que filhos de homens com mais de 40 anos tinham as chances de desenvolver o distúrbio multiplicadas por 5,75, em relação aos filhos de homens com menos de 30 anos.
O estudo da esquizofrenia impressiona pelo número de "cobaias" que envolveu -87.907. Mas os críticos apontam pontos frágeis, como o fato de não se saber se os filhos que desenvolveram esquizofrenia eram herdeiros de homens com o problema. Nesse caso, talvez a própria doença mental do pai fosse responsável pelo adiamento da paternidade.
O médico Artur Dzik, diretor do Serviço de Reprodução Humana do Hospital Pérola Byington, acha que é possível e até esperado que a idade interfira na fertilidade masculina e na incidência de doenças genéticas no filho, mas ressalta que ainda não se conhece a extensão dos eventuais problemas, porque os estudos são ainda poucos e inconclusivos.
"Para as mulheres, o fator idade já está mais do que estabelecido, existem estudos exaustivos mostrando que as taxas de gravidez caem com a idade a partir dos 35 anos. Para os homens, isso não está claro."
Jorge Hallak, médico urologista da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, explica que os estudos aprofundados sobre a fisiologia do sistema reprodutivo masculino são muito recentes (têm menos de dez anos). "É de 2000 para cá que se está pesquisando intensamente o testículo. Ainda há muito a desvendar", diz. Mesmo assim, ele considera que, até aqui, os homens estiveram tranqüilos demais em relação ao seu sistema reprodutivo, só se preocupando com a próstata, e mesmo assim só depois dos 50 anos.
"Tem, sim, de cuidar da saúde dos testículos. É preciso fazer uma avaliação urológica geral já a partir da puberdade. Depois, deveria haver um exame no jovem de 20 anos. A partir daí, de dois em dois anos", prescreve o médico. "O testículo é mais frágil do que o ovário, porque está mais exposto a agressões ambientais, com conseqüências danosas para os espermatozóides."


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