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Idade pode reduzir fertilidade masculina
Estudos sugerem que filhos de homens mais velhos correm mais riscos de apresentarem anomalias como autismo e esquizofrenia
Médicos ressalvam
que ainda não se conhece
a extensão dos problemas, pois pesquisas são
poucas e inconclusivas
DA REPORTAGEM LOCAL
Se havia uma área em que os
homens pareciam invulneráveis era na capacidade reprodutiva. Enquanto para as mulheres a menopausa (entre os 45 e
os 55 anos) representava o final
inexorável da possibilidade de
ter um herdeiro genético, para
eles os exemplos de Charles
Chaplin e do cantor Ives Montand, que tiveram filhos com
idades avançadas -73 e 67 anos
respectivamente- eram um
atestado de que, pelo menos
nos testículos, os homens mantinham-se sempre jovens. Isso
está caindo por terra.
Autismo, esquizofrenia, nanismo, anomalias cranianas e
faciais, entre outros problemas,
parecem ser mais freqüentes
em filhos de homens com idades entre 45 e 50 anos. E a causa seria o envelhecimento da
fábrica de espermatozóides, os
testículos. O mesmo envelhecimento seria o responsável pela
queda da fertilidade masculina.
O diretor do Centro Reprodutivo Masculino da Universidade de Columbia, Tarry Fisch,
autor de "The Male Biological
Clock" (o relógio biológico
masculino), disse ao jornal
"The New York Times": "A fertilidade vai cair para alguns homens; outros vão continuar férteis, mas não no mesmo grau, e
há um risco aumentado de
anormalidades genéticas".
Um dos estudos mais instigantes a favor dessa tese foi o
realizado a partir de dados de
87.907 nascimentos em Jerusalém, entre 1964 e 1976. Cruzando-se esses dados com os
registros psiquiátricos israelenses, os especialistas concluíram que filhos de homens com
mais de 45 anos tinham o dobro
de chance de desenvolver a esquizofrenia, quando comparados a filhos de pais com menos
de 25 anos.
Para autismo, outro estudo
mostrava que filhos de homens
com mais de 40 anos tinham as
chances de desenvolver o distúrbio multiplicadas por 5,75,
em relação aos filhos de homens com menos de 30 anos.
O estudo da esquizofrenia
impressiona pelo número de
"cobaias" que envolveu
-87.907. Mas os críticos apontam pontos frágeis, como o fato
de não se saber se os filhos que
desenvolveram esquizofrenia
eram herdeiros de homens com
o problema. Nesse caso, talvez a
própria doença mental do pai
fosse responsável pelo adiamento da paternidade.
O médico Artur Dzik, diretor
do Serviço de Reprodução Humana do Hospital Pérola
Byington, acha que é possível e
até esperado que a idade interfira na fertilidade masculina e
na incidência de doenças genéticas no filho, mas ressalta que
ainda não se conhece a extensão dos eventuais problemas,
porque os estudos são ainda
poucos e inconclusivos.
"Para as mulheres, o fator
idade já está mais do que estabelecido, existem estudos
exaustivos mostrando que as
taxas de gravidez caem com a
idade a partir dos 35 anos. Para
os homens, isso não está claro."
Jorge Hallak, médico urologista da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo,
explica que os estudos aprofundados sobre a fisiologia do sistema reprodutivo masculino
são muito recentes (têm menos
de dez anos). "É de 2000 para
cá que se está pesquisando intensamente o testículo. Ainda
há muito a desvendar", diz.
Mesmo assim, ele considera
que, até aqui, os homens estiveram tranqüilos demais em relação ao seu sistema reprodutivo,
só se preocupando com a próstata, e mesmo assim só depois
dos 50 anos.
"Tem, sim, de cuidar da saúde dos testículos. É preciso fazer uma avaliação urológica geral já a partir da puberdade. Depois, deveria haver um exame
no jovem de 20 anos. A partir
daí, de dois em dois anos", prescreve o médico. "O testículo é
mais frágil do que o ovário, porque está mais exposto a agressões ambientais, com conseqüências danosas para os espermatozóides."
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