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Manoel Venâncio, mestre do guerreiro
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Há em Alagoas muitos folguedos, do coco ao bumba-meu-boi, que perpassam gerações de músicos. Mas na
tradição do guerreiro, "síntese da cultura de Alagoas", na
visão de um folclorista -tradição feita de roupas coloridas, chapéus na forma de
igrejas e cantos religiosos-,
mestre Manoel Venâncio de
Amorim era imbatível.
Nascido em Monte Alegre,
no interior de Alagoas, desde
menino trabalhou nas lavouras de cana, quando já cantava pagode nas rodas de gente
grande sob o olhar orgulhoso
do pai. Mas foi como músico
conhecido que criou, nos
anos 1970, o grupo Guerreiro
Mensageiros de Padre Cícero. Só deixou sua liderança
quando morto.
Dificuldades não faltaram
para manter o grupo com remunerações mensais na casa
das centenas de reais. Muito
tempo ficaram sem sede. Um
incêndio, certa vez, queimou
todas as roupas do grupo.
Lá foi Venâncio refazer tudo, uma por uma.
O reconhecimento de secretarias de cultura em todo
o Nordeste chegou muito
tempo depois. Aí ele já era reconhecido como "patrimônio vivo da cultura do Estado
de Alagoas" -outros tempos.
Em janeiro subiu no palco
do museu local, já velhinho,
sem enxergar direito, e logo
se desculpou, pois esquecera
o chapéu em casa. Mas tocou
bonito até o fim.
Tinha cinco filhos e, há um
ano, lutava contra o câncer.
Morreu na quinta, aos 86
anos. Na voz de um amigo, o
adeus ao mestre. "Agora, o
seu pandeiro se calou e a cultura popular está triste."
obituario@folhasp.com.br
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