São Paulo, domingo, 02 de março de 2008

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Manoel Venâncio, mestre do guerreiro

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Há em Alagoas muitos folguedos, do coco ao bumba-meu-boi, que perpassam gerações de músicos. Mas na tradição do guerreiro, "síntese da cultura de Alagoas", na visão de um folclorista -tradição feita de roupas coloridas, chapéus na forma de igrejas e cantos religiosos-, mestre Manoel Venâncio de Amorim era imbatível.
Nascido em Monte Alegre, no interior de Alagoas, desde menino trabalhou nas lavouras de cana, quando já cantava pagode nas rodas de gente grande sob o olhar orgulhoso do pai. Mas foi como músico conhecido que criou, nos anos 1970, o grupo Guerreiro Mensageiros de Padre Cícero. Só deixou sua liderança quando morto.
Dificuldades não faltaram para manter o grupo com remunerações mensais na casa das centenas de reais. Muito tempo ficaram sem sede. Um incêndio, certa vez, queimou todas as roupas do grupo.
Lá foi Venâncio refazer tudo, uma por uma.
O reconhecimento de secretarias de cultura em todo o Nordeste chegou muito tempo depois. Aí ele já era reconhecido como "patrimônio vivo da cultura do Estado de Alagoas" -outros tempos.
Em janeiro subiu no palco do museu local, já velhinho, sem enxergar direito, e logo se desculpou, pois esquecera o chapéu em casa. Mas tocou bonito até o fim.
Tinha cinco filhos e, há um ano, lutava contra o câncer. Morreu na quinta, aos 86 anos. Na voz de um amigo, o adeus ao mestre. "Agora, o seu pandeiro se calou e a cultura popular está triste."

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