São Paulo, segunda, 2 de março de 1998

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DESABAMENTO
Parentes protestam no enterro; até início da noite de ontem, os corpos de 7 dos 8 soterrados já haviam sido achados
Cinco vítimas são enterradas no Rio

Agência Folha no Rio

Os corpos de cinco vítimas do desabamento do edifício Palace 2 foram enterrados ontem de manhã no Rio. No final da tarde, foi encontrado mais um corpo, e há mais um ainda sob os escombros.
O prédio, na Barra da Tijuca (zona sul), desabou parcialmente no domingo de Carnaval e foi implodido anteontem. Oito pessoas morreram. O primeiro corpo foi localizado logo após o desabamento, mas, como o prédio ameaçava cair, as buscas dos outros sete só foram retomadas após a implosão.
Os sepultamentos foram marcados pelo desespero de pais e mães que perderam os filhos e pela dor de filhos que ficaram órfãos. Houve protestos contra o deputado Sérgio Naya, dono da construtora Sersan, e a falta de fiscalização.
No cemitério São Francisco Xavier, no Caju (zona norte), foram enterradas quatro pessoas da mesma família: o médico Milton Luiz Martins, 42, sua mulher, Rosângela Quaresma, 27, o filho do casal, Miltinho, 5, e a filha do primeiro casamento dele, Luísa, 12.
A mãe de Luísa, a médica Bárbara de Alencar, dizia acreditar que a filha estivesse viva sob os escombros. O corpo de Luísa foi o primeiro a ser localizado, na tarde de anteontem. No enterro, Bárbara chorava. Não teve coragem para ver o caixão ser coberto pela terra. "É uma dor sem palavras", disse.
Os corpos do médico, de sua mulher e do garoto foram encontrados ontem às 2h sob a mesma laje. Miltinho estava no colo da mãe. Os três tiveram o enterro pago pela prefeitura, e Luísa foi enterrada no jazigo da família da mãe.
Rosângela Quaresma deixou um filho do primeiro casamento, Rafael, 10, que mora com o pai. A mãe de Rosângela, Arlete Quaresma, chorava muito, com o neto no colo. Antônio de Souza Quaresma, primo de Rosângela, criticou a falta de fiscalização da prefeitura.
O corpo do estudante Leonel Edgardo Benavides, 18, também foi encontrado no sábado e identificado na madrugada de ontem pelo pai, o síndico do Palace 2, Oswaldo Benavides. No enterro, realizado no cemitério de Jacarepaguá (zona oeste), o pai fez um protesto quando o caixão era colocado na cova: "Esse é o apartamento que eu paguei ao deputado Sérgio Naya: o túmulo do meu filho".
O caixão de Leonel foi coberto com as bandeiras da Argentina -onde ele e o pai nasceram- e do Flamengo, time pelo qual o rapaz torcia. Colegas de Leonel acompanharam o enterro.
O corpo de uma mulher encontrado ontem às 16h50 é o de Fátima Ferraz, 30. Ela foi identificada pelo marido, Marcelo França, porque carregava duas bolsas e usava uma aliança de ouro de duas voltas. Ela voltou ao apartamento depois que o Palace 2 já tinha sido interditado para pegar fantasias para desfilar. Ela será enterrada em São Paulo, em data ainda não definida.
(FERNANDA DA ESCÓSSIA, MARCELO MONTEIRO e MARCELO MOTA)




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