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Jornalismo investigativo e policiais bonitos
MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas
Os Estados Unidos continuam dando o exemplo de que,
quando nem a polícia nem a
Justiça funcionam, o jornalismo funciona.
O poder do jornalismo investigativo americano se consagrou no escândalo político de
Watergate, em 1972. A investigação de jornalistas do "Washington Post" descobriu o envolvimento do então presidente Nixon com a espionagem
contra o partido de oposição, o
Democrata. Nixon renunciou
em 1974, e seus assessores foram presos.
Esse mesmo jornalismo volta
à cena agora, no caso de um
homem negro e inocente que se
livrou da pena de morte graças
ao trabalho de estudantes de
jornalismo da universidade
Northwestern, em Illinois.
Anthony Porter passou 17
anos no corredor da morte,
acusado do homicídio de dois
adolescentes. Foi salvo dois
dias antes da execução com injeção letal. Os estudantes,
orientados por um professor da
cadeira de jornalismo investigativo, não só provaram que
Porter era inocente como encontraram o assassino.
Cinematográficos os Estados
Unidos e essa faceta de suas
instituições, em que jornalistas
(e mesmo policiais) vão logo virar filme, ter a cara bonita de
atores de cinema, de Mel Gibson ou Denzel Washington.
Enquanto aqui, essa atmosfera de mentira constante que
nos ronda. Um jornalista que
trabalhou na Câmara Municipal de São Paulo me explicou,
outro dia, que a imprensa só
não desbarata a máfia da corrupção instalada na prefeitura
e na Câmara porque não quer.
Observava que não é papel
dos jornais só repetir o que a
polícia ou o Ministério Público
descobrem. Disse que toda a
imprensa sabe disso, que qualquer repórter acostumado a cobrir o assunto poderia trabalhar para chegar aos grandes
operadores da corrupção de
São Paulo, que se arrasta desde
antes da ditadura.
O interesse econômico da imprensa na cidade, a pressão de
grupos políticos e empresarias
explicavam a falta de empenho, ele disse, e o fato de nenhum órgão de imprensa peitar a máfia do lixo, outro esquema de corrupção de idênticas proporções encravado nas
Administrações Regionais.
Segundo ele, ainda que a imprensa brasileira esteja mais
responsável, acurada e autocrítica, o jornalismo investigativo não tem independência.
Basta ver o exemplo da compra
de votos para a reeleição de
FHC. A própria Folha investigou, reuniu provas, denunciou,
mas a história foi enterrada
junto com alguns de seus personagens centrais, que já morreram. Ninguém foi punido, FHC
foi reeleito e está aí fazendo miséria, completou.
Era um jornalista desanimado, que desistira da grande imprensa por não se sujeitar a censura de nenhuma espécie. De fato, nesses anos FHC, os jornalistas que mais têm espaço são
cães de guarda do regime, todos
homens da elite rica e branca
(não há negros no jornalismo
nosso), todos loucos para aparecer bem aos olhos do público,
ganhar prêmios de jornalismo e
estar nas primeiras páginas. Ou
são velhos acomodados a seus
nomes e a suas fontes de moral
duvidosa. Fica o lixo pelo lixo.
E-mailmfelinto@uol.com.br
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