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MÁFIA DA PROPINA
Savelli, que trabalhou na gestão de Celso Pitta, é acusado de favorecer empresa; ele poderá recorrer em liberdade
Ex-secretário é condenado a 17 anos de prisão
JOÃO CARLOS SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
O engenheiro Alfredo Mário Savelli, ex-secretário de Vias Públicas e das Administrações Regionais na gestão Celso Pitta, foi condenado, em primeira instância, a
17 anos e quatro meses de prisão
por crimes de concussão, formação de quadrilha e prevaricação
em um caso da chamada máfia da
propina -esquema de corrupção
promovido por servidores da Prefeitura de São Paulo contra camelôs irregulares e comerciantes.
Procurado ontem pela Folha, o
advogado de defesa de Savelli,
Aloísio Lacerda Medeiros, classificou a condenação de "absurda"
e diz que recorrerá da decisão.
A concussão (extorsão cometida por funcionário público), prevaricação (deixar de cumprir função pública, como investigar uma
denúncia) e formação de quadrilha teriam ocorrido em um caso
que envolve suposto favorecimento à empresa W.Sita na comercialização de barracas para
camelôs irregulares.
O esquema teria sido montado
em 98, na época em que Savelli
chefiava a Secretaria das Administrações Regionais. A mesma
condenação, também em primeira instância, recebeu o ex-administrador regional da Sé João Bento dos Santos Filho.
Há ainda outros três condenados no caso, mas esses a 16 anos e
quatro meses de prisão por concussão e formação de quadrilha,
de acordo com a sentença do juiz
Sidney Celso de Oliveira, da 4ª
Vara Criminal.
São eles: Akira Yoshikawa e Hélio Furmankiewicz, ex-servidores
da então Secretaria das Administrações Regionais, e José Novaes
Neto, empresário que comercializava as barracas da W.Sita.
Eles não foram localizados pela
Folha para comentar a sentença,
mas também poderão recorrer da
decisão em liberdade. Em depoimentos à Justiça, todos negaram
as acusações.
Todos foram condenados a partir de ação penal proposta pelo
Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público.
Os promotores sustentaram, a
partir de depoimentos de vítimas,
que foi dada exclusividade para
um representante da W.Sita comercializar bancas em camelódromos que estavam sendo criados pela prefeitura.
Segundo o depoimento de ambulantes, quem não comprasse as
bancas padronizadas correria o
risco de perder o ponto.
O principal depoimento obtido
pelos promotores e pela Justiça
partiu de uma ex-assessora de Savelli, que disse ter denunciado o
caso a ele. O ex-secretário, porém,
não teria tomado providências
para apurar a denúncia.
Em depoimento à CPI da Máfia
da Propina, que investigou o caso
na Câmara Municipal, Savelli chegou a dizer que as denúncias que
recebera eram "palavras ao vento" e que fez uma "cruzada contra
a propina".
Na mesma comissão, o empresário Novaes Neto admitiu ter pago propina a Yoshikawa e a Furmankiewicz. Na Justiça, ele também disse que chegou a vender
220 barracas a camelôs.
Na sua sentença, o juiz Oliveira
diz que os acusados se aproveitaram "da superioridade de forças,
que a própria condição de entes
do Poder Público lhes confere, para coagir, amedrontar e extorquir
[dinheiro de] pobres e humildes
camelôs". "Não se pode olvidar
também que os motivos que os
impulsionaram à prática delituosa é altamente repugnante visto
que, abusando da função pública
e à custa do sacrifício alheio, tinham como único escopo o aumento ilícito de seus patrimônios", diz o juiz da 4ª Vara Criminal na sentença.
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