São Paulo, sexta-feira, 02 de abril de 2004

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CRIME NO RIO

Suposto assassino dos americanos, mortos enquanto dormiam, trabalhava na casa vizinha e alega vingança

Caseiro confessa a morte do casal Staheli

DA SUCURSAL DO RIO

A polícia prendeu na madrugada de ontem o caseiro Jociel Conceição dos Santos, 20. Ele é apontado como assassino do executivo da Shell Zera Todd Staheli e da sua mulher, Michelle. Antes, a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio havia apresentado pelo menos seis versões para o crime. Em entrevista coletiva à noite, conduzida pelo secretário Anthony Garotinho (PMDB), Santos confessou o assassinato.
O crime ocorreu na madrugada do dia 30 de novembro, na casa em que a família americana morava havia três meses, no condomínio Porto dos Cabritos (Barra da Tijuca, zona oeste do Rio).
Embora tenha realizado exames sofisticados, a polícia só chegou ao suposto assassino por acaso. De acordo com a versão da secretaria, Santos, por volta das 4h, foi flagrado ao pular o muro da casa onde mora o cônsul da Grécia, que fica no mesmo condomínio dos Staheli. A mulher do cônsul viu o invasor e gritou. Santos acabou detido por seguranças, que chamaram a polícia.
Na delegacia, segundo a secretaria, o caseiro, que trabalha em uma casa vizinha à da família americana, confessou ter matado o casal. Santos afirmou que pretendia roubar a casa do cônsul.
Na entrevista, ele disse que foi duas vezes à 16ª DP (Delegacia de Polícia), na Barra da Tijuca (zona oeste), a fim de confessar o crime. Nas duas ocasiões, os policiais teriam dito para ele voltar depois porque o delegado não estava.
Santos disse que golpeou o executivo e sua mulher com um pé-de-cabra (alavanca de ferro). A suposta arma do crime foi localizada pela polícia, assim como as roupas que ele estaria vestindo quando ocorreu o crime. O objeto estava na caixa de ferramentas da casa em que ele trabalhava. Santos levou os policiais até o local onde o escondera.
Após o crime, teria lavado as mãos em uma torneira ao lado da cozinha. Garotinho considerou "um detalhe" o fato de a perícia policial não ter descoberto digitais na torneira.
Ele afirmou que conhecia a casa porque era amigo do caseiro dos Staheli, Alex Carneiro. Santos inocentou Carneiro.
Segundo Garotinho, o relato de Santos não o convenceu completamente. "Acho que tem mais pessoas envolvidas no crime", disse, acrescentando que Carneiro será convocado a depor.

Versões
Antes da prisão, a polícia já apresentara diversas versões para o crime. Na primeira delas, a suspeita recaiu sobre a filha mais velha do casal. Wesley, 13, chegou a ser impedida de sair do país pelo Juizado de Menores.
Depois, o motorista do casal, Sebastião Moura, foi investigado. Exames com a substância luminol, que identifica vestígios imperceptíveis de secreções humanas, detectaram uma substância que poderia ser sangue no carro de Moura. Dias depois, descobriram que a substância era resquício de uma bebida isotônica.
O vigia Jonatas Basile de Almeida, que trabalhava no condomínio, foi o suspeito seguinte. Nada ficou provado contra ele.
Policiais investigaram também a possível ligação da morte dos Staheli, que eram mórmons, com a do aposentado José Prata Frossard, 61, freqüentador da mesma igreja que a família.
Em janeiro, a polícia começou a suspeitar que o crime poderia ter motivos profissionais e decidiu investigar a vida dos Staheli na Arábia Saudita, onde moraram.
Depois, um operário que teria trabalhado na casa antes de o casal se mudar entrou na lista de suspeitos. O crime teria sido cometido a mando de um ex-colega de Staheli na Shell. O operário teria sido o executor do crime. Mais uma vez, nada foi provado.
No último dia 16, em entrevista, Garotinho apresentou a última versão policial. Ele disse que o crime "teve conexões internacionais". (MARIO HUGO MONKEN, MURILO FIUZA DE MELO E TALITA FIGUEIREDO)


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