São Paulo, terça-feira, 02 de maio de 2006

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VIOLÊNCIA

Assassinato é investigado como represália por prisão de gerente da facção na zona norte; arma usada é de guerra

PCC é suspeito de fuzilar PM com 37 tiros

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Integrantes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) são suspeitos de ter assassinado, com 37 tiros, o soldado da PM Carlos da Silva Cardoso, 31. A arma utilizada foi um fuzil 5.56 mm, de uso restrito do Estado.
O fuzilamento aconteceu às 22h30 de domingo, na porta de uma padaria na Vila Santista, na região da Casa Verde (na zona norte). Ao menos quatro homens, que estavam em um Fiorino, teriam participação no crime. Outros dois carros deram cobertura aos assassinos, que estavam usando toucas tipo "ninja".
PM havia 13 anos, pai de dois filhos e casado, Cardoso trabalhava na tropa de elite do 23º Batalhão, na região de Perdizes (zona oeste), e, segundo testemunhas, se preparava para entrar em seu carro, um Opala Comodoro, quando foi surpreendido pelos assassinos.
Fora do horário de serviço, o PM estava armado com uma pistola .380 mm. Ele também vestia um colete à prova de balas, que foi destruído pelos tiros. "Aonde quer que fosse, ele estava com o colete por baixo da camisa", disse ontem um colega da corporação, durante o velório, no Cemitério Chora Menino, no Imirim.
A maior parte dos tiros atingiu a cabeça, as costas e as nádegas do PM. No código não-escrito da criminalidade, tiros nas nádegas têm um significado: vingança contra um possível delator.
A Fiorino usada para levar os atiradores, segundo a Polícia Civil, havia sido roubada no último dia 23 de fevereiro, na Freguesia do Ó (zona norte), e estava com as placas clonadas. Minutos depois do crime, o veículo foi abandonado em uma rua da Casa Verde.
Dentro do carro havia uma touca "ninja" manchada de sangue. Existe a suspeita de que um dos atiradores tenha sido ferido, ainda que de raspão, por uma das balas do fuzil disparadas contra o PM e que ricocheteou nas paredes externas da padaria.
A morte de Cardoso, segundo seus colegas disseram, foi uma represália da cúpula do PCC à prisão, no último dia 12 de abril, de Marcelo Vieira, 34, conhecido com Capetinha, uma espécie de gerente da facção criminosa para toda a região da zona norte da capital. Quando foi preso pela PM, Vieira andava pela Vila Brasilândia, bairro próximo ao local onde o policial foi fuzilado ontem.
Ontem à tarde, vários homens da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), ex-companheiros da vítima, e do 23º Batalhão estiveram no velório. Muito deles, longe dos parentes da vítima, disseram que, com o fuzilamento do soldado da PM, "uma guerra estava declarada na zona norte, já que o PCC estava cobrando com sangue a prisão de Capetinha".
Vieira também é acusado de ter participação no seqüestro e morte, em março deste ano, de quatro pessoas que seriam da facção CRBC (Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade), rival do PCC. Outra acusação contra ele é sua ordenação para que membros do PCC cometessem atentados contra bases da PM.
Alguns PMs afirmaram, inclusive, que tinham conseguido fotos de três suspeitos de participação no ataque contra Cardoso, isso mesmo diante da informação de que os atiradores usavam toucas no momento do crime.
Segundo dados da Secretaria da Segurança Pública, em 2005 22 PMs foram assassinados, em todo o Estado, durante o trabalho. Nas estatísticas fornecidas pela pasta, porém, não aparece o número de policiais militares mortos quando estavam de folga.


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