São Paulo, quarta-feira, 02 de maio de 2007

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GILBERTO DIMENSTEIN

O resumo da ópera

A regente Muriel Waldman ficava muito decepcionada quando, nos concertos, percebia a ausência de jovens

EXECUTADA NUM teatro de Alexandria, no Egito, a ópera Aída iria influenciar para sempre a vida de uma menina, de seis anos, que estava na platéia. "Desde então, a música me arrebatou, tamanha foi a força do que vi e ouvi. Voltei para casa a estudar piano", lembra-se Muriel Waldman, filha de pai francês e de mãe italiana. Os efeitos daquele espetáculo se propagam agora, 54 anos depois, em escolas públicas de São Paulo, numa experiência batizada de "Quem tem medo da música clássica?".
Por razões políticas, a família fugiu do Egito e veio para São Paulo. Mas Muriel ainda teria de pular obstáculos até se dedicar integralmente à música. Seguiu o conselho dos pais: na década de 70, graduou-se em física pela USP e, durante 15 anos, deu aula. "Meus pais achavam que o futuro estava na ciência."

 

Mas Muriel estava convencida de que seu futuro estava na música.
Voltou a estudar, desta vez para se formar maestrina. Em 2005, concluiu seu mestrado na USP; já estava, então, rumando aos 60 anos de idade. Transformou-se em regente da Orquestra Laetare e dos corais Catincorum Jubilum e Vox Aeterna.
Mesmo que as apresentações fossem boas, ela se incomodava com a faixa etária da platéia.
 

Muriel ficava muito decepcionada quando, nos concertos, percebia a ausência de jovens. "Nos meus pesadelos, imaginava platéias vazias para a música erudita. Por que o rock é tão mais atrativo para eles?"
Misturou, então, sua vivência de professora de física com a habilidade de maestrina e saiu à procura de apoio para tentar demonstrar, entre crianças e jovens, o preconceito contra a música erudita.
Conseguiu sensibilizar a Secretaria Estadual da Cultura para que uma orquestra de 20 integrantes, quatro deles adolescentes, fizesse aula-espetáculo em escolas públicas -as apresentações ocorrerão todos os sábados gratuitamente. "Quero mostrar, com calma, a beleza das composições." Ilusão? Talvez. No mínimo um grande desafio.
 

Não só o desafio de fazer crianças e adolescentes ouvirem Bach e Mozart no final de semana mas o de mudar os ouvidos mais acostumados a rock, samba e pagode. "Se eles se sensibilizarem, provavelmente estarão mais abertos a uma sala de concerto", aposta.
A aposta de Muriel tem raízes naquele dia em que o seu pai a levou para ver a ópera em Alexandria, quando ela nunca mais foi a mesma -e passou a acreditar que as crianças seriam encantáveis pela música erudita.
 

PS - Neste final de semana, durante a Virada Cultural, o barracão da escola de samba Vai-Vai, no Bexiga, talvez sirva como um modelo de fazer jovens gostarem de música erudita. A bateria da Vai-Vai executará Bach e Beethoven acompanhada da Orquestra Bachiana, regida por João Carlos Martins. Se o sambista não vai à sala de concerto, a sala de concerto vai à escola de samba.

gdimen@uol.com.br

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