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Sangue no carro é de Isabella, diz polícia
Relatório entregue à Justiça desmonta, para a polícia, a versão do casal de que a menina foi levada incólume para o apartamento pelo pai
Segundo o documento, ferimento foi feito pela madrasta da menina, que, afirma a polícia, atingiu Isabella com uma chave
LUÍS KAWAGUTI
KLEBER TOMAZ
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O relatório final da Polícia
Civil sobre o assassinato de Isabella Nardoni afirma de modo
taxativo que o sangue encontrado no Ford Ka da família é
mesmo da menina.
"O sangue (...) na lateral esquerda da cadeirinha de transporte do bebê, que se encontrava no interior do veículo, tem o
perfil genético de Isabella", escreveu a delegada-assistente
Renata Helena da Silva Pontes
no documento, entregue ao juiz
Maurício Fossen e ao promotor
Francisco Cembranelli.
A informação sobre o sangue,
que tem base no laudo anexado
na página 783 do inquérito, é
considerada pela polícia como
uma das principais provas contra o casal Alexandre Nardoni e
Anna Carolina Jatobá.
Isso porque, na visão da polícia, a constatação do sangue
desmonta a versão apresentada
pelo casal -que em seu depoimento afirmou que o pai da
menina a levou dormindo nos
braços para o apartamento,
sem ferimento algum.
Alexandre, diz o casal, teria
deixado a menina na cama dela
e voltado para a garagem a fim
de buscar as outras crianças.
Nesse ínterim, afirma, um criminoso invadiu o apartamento
e matou a menina.
Defesa contesta
Procurada ontem pela Folha, a defesa do casal afirma
que a perícia não conseguiu
provar que o sangue no carro é
de Isabella e que vai contratar
peritos particulares para analisar os laudos oficiais.
Os advogados afirmam que
Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá são inocentes.
Um dos peritos do Instituto
de Criminalística afirmou à Folha que somente em uma hipótese o sangue encontrado no
carro poderia não ser de Isabella: se ela tivesse uma irmã gêmea (ela não tem).
Tal afirmação corrobora o
que já foi dito pelo promotor
Francisco Cembranelli: "A conclusão é clara, absolutamente
clara. Só não vê quem não quer.
Temos a posição de Isabella no
carro, confirmada pelo próprio
casal, e são marcas [de sangue]
bastante significativas. Isso e
outros fatores- não pretendo
entrar agora na discussão disso- permitem concluir que se
tratava de sangue de Isabella".
Consultada pela Folha sobre
como é possível obter o "perfil
genético" de alguém, a hematologista Patrícia Pranke, pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, afirma que os peritos tiveram necessariamente de fazer um exame de DNA nas amostras de
sangue coletadas.
Segundo ela, seria possível
para os peritos saber se aquele
sangue era de Isabella, de seus
irmãos ou do pai. Para isso, podem ter comparado a amostra
de sangue com as das demais
pessoas que estavam no carro.
Chave tetra
O documento com as conclusões da polícia tem 43 páginas e
detalha a dinâmica do crime na
visão da polícia, mas não aponta motivações.
Afirma que o sangue deriva
de um ferimento de cinco milímetros, "provocado por um
instrumento contundente,
não-cortante, (...), assemelhando-se o ferimento à ponta de
uma chave tetra".
Ainda de acordo com a polícia, o ferimento foi feito pela
madrasta, considerando a posição dela no carro.
Uma fralda teria sido usada
para estancar o sangue e impedir Isabella de gritar.
Depois disso, já no apartamento, a menina teria sido atirada no chão da sala -o que lhe
causou, diz o documento, fratura no "isquion" (osso da região
da bacia) e no pulso esquerdo.
Anna, então, teria tentado esganar a menina. Nesse momento, o irmão de três anos teria
gritado "papai, papai, pára", pedindo que o pai interferisse a
fim de parar a agressão.
A frase, diz a polícia, foi ouvida por duas testemunhas. Depois disso tudo, ele ou ela (a polícia não faz a distinção no relatório) teria limpado os vestígios
de sangue e feito um buraco na
tela de proteção.
Alexandre, por fim, diz a polícia, jogou a filha pela janela
-informação baseada em laudo (folha 713 do inquérito) segundo o qual marcas na roupa
("sujidades em forma de losangos") apontam que ele se
apoiou na tela.
O relatório e o inquérito devem fundamentar na próxima
semana um parecer do promotor Cembranelli sobre o pedido
de prisão temporária do casal.
Ele também prepara a denúncia de Alexandre e Anna Carolina à Justiça.
O juiz Fossen, por sua vez,
decidirá sobre o pedido de prisão preventiva.
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