São Paulo, sexta-feira, 02 de maio de 2008

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Policial é suspeito também de matar colega

Augusto Peña, preso anteontem acusado de extorquir dinheiro do PCC, também é investigado pelo assassinato de investigador

Promotoria suspeita que Peña e a vítima brigaram após o sumiço de uma carga apreendida pela equipe em que ambos atuavam

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O policial civil Augusto Peña, preso anteontem sob a acusação de ter seqüestrado o enteado de um dos chefes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) e exigido R$ 300 mil para não prendê-lo, também é investigado pela corregedoria da corporação sob suspeita de participação no assassinato do investigador Douglas Pereira dos Santos, 42.
Santos foi assassinado em 14 de setembro. Ele foi atingido por sete tiros pelas costas quando fazia bico como segurança no Clube Atlético Paradise, no Itaim Bibi, bairro nobre da zona oeste de São Paulo.
Peña, segundo sua ex-mulher Regina Célia de Carvalho declarou à Folha, é amigo e protegido do atual secretário-adjunto da Segurança de São Paulo, Lauro Malheiros Neto. O secretário-adjunto nega.
Ontem, o delegado Nelson Silveira Guimarães, ex-chefe do Demacro (Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo), afirmou que, em 18 de abril, confirmou ao Gaerco (Grupo de Atuação Especial Regional de Combate e Repressão ao Crime Organizado), do Ministério Público de Guarulhos (Grande SP), que recebeu uma ligação de Malheiros Neto solicitando que Peña fosse transferido de Suzano (Grande SP), onde realizava tarefas administrativas, para o Deic (Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado). A transferência foi feita.
À época, Peña estava afastado das ruas por suspeita de negociar com o PCC, por R$ 40 mil, a libertação de um acusado de tráfico. A libertação não aconteceu e a facção atacou a delegacia de Suzano, matando sete pessoas em abril de 2006.
Em 1993, Peña e Malheiros Neto, à época delegado, foram colegas no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa). O escritório de advocacia da família do secretário-adjunto já atuou para Peña em duas ações cíveis -uma delas a separação do investigador e Regina Célia.
Desde a prisão de Peña, na quarta, a Folha pede, sem sucesso, que a Secretaria da Segurança viabilize um contato com o policial. Também não foi informado se ele já tem advogado. Foi preso ainda o policial José Roberto de Araújo, do Deic, também sob acusação de extorsão ao PCC.

Suspeita de assassinato
Peña (lotado hoje na Divisão de Investigação de Crimes contra a Fazenda) e o investigador Santos trabalharam juntos, em parte do ano passado, na equipe Vênus 60 da 3ª Delegacia de Estelionato do Deic.
A corregedoria suspeita que o crime tenha sido motivado por uma discussão entre Santos e Peña causada pelo desaparecimento de uma carga de videogames Playstation apreendida pela equipe Vênus 60. Em depoimento ao Gaerco, a ex-mulher de Peña afirmou que a carga foi vendida pelo policial.
Os investigadores Santos e Oto Frederico Rangel, ao perceberem que toda a equipe responderia pelo sumiço, teriam ameaçado denunciar Peña.
No banco de dados sobre investigações que mantinha em seu computador pessoal, Peña tinha vários documentos sobre essa apreensão. Um deles é o relatório assinado por Santos em 18 de junho de 2007, no qual são descritos, entre outros aparelhos, 95 Playstations.

Seqüestro
O investigador Peña foi preso sob a acusação de, em março de 2005, ter exigido R$ 300 mil para não prender Rodrigo Olivatto de Morais, 28, enteado de Marco Willians Herbas Camacho, Marcola, apontado pela polícia como chefe do PCC.
No computador de Peña havia escutas telefônicas em que Morais foi flagrado na negociação de linhas telefônicas para presidiários. Esse foi o motivo alegado por Peña para mantê-lo na delegacia de Suzano (por 48 horas) até que os integrantes do PCC pagassem os R$ 300 mil para libertá-lo.


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