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Expedição ao Rodoanel vê ameaça à Billings
Trecho sul do anel viário, no ABC, deve provocar aumento populacional na área da represa, que abastece 1,5 milhão de pessoas
Representante do Dersa
que estava no grupo que
visitou a região ontem
afirma que há problemas
de adensamento no local
CONRADO CORSALETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Iniciadas há cerca de um ano
e meio, as obras do trecho sul
do Rodoanel já provocaram
mudanças significativas na paisagem da região do ABC paulista. Vigas de aço e concreto tomaram o lugar de mata nativa.
Grandes áreas terraplenadas
ocupam o espaço onde, antes,
viviam centenas de famílias.
Depois de uma longa negociação para que as compensações ambientais e sociais fossem definidas por causa da intervenção, outro problema entrou em pauta: o possível aumento populacional em volta
da via, o que deve comprometer
ainda mais o precário estado
dos mananciais da Grande São
Paulo, em especial o da represa
Billings, que abastece 1,5 milhão de pessoas no ABC.
A Folha participou de parte
de uma expedição às obras do
trecho sul promovida pelo ISA
(Instituto Socioambiental),
que ontem levou cerca de 500
pessoas, divididas em 30 grupos comandados por fotógrafos
profissionais, para registrarem
com suas câmeras a situação de
dezenas de áreas de mananciais da região metropolitana.
Terra prometida?
Às margens da represa Billings, o Jardim Canaã, em São
Bernardo do Campo, é um dos
locais que devem sofrer forte
pressão de adensamento populacional com o Rodoanel.
As obras de uma ponte de
quase dois quilômetros que
passará sobre a Billings ficam a
poucos metros da comunidade,
antes cercada de vegetação nativa -agora, uma extensa área
desmatada para a passagem da
futura estrada delimita uma
das fronteiras do bairro.
Nas ruas do Jardim Canaã, o
asfalto é ecológico, feito de material que permite maior absorção de água. Só que não há esgoto para as aproximadamente
2.000 pessoas que moram no
local. As casas têm fossas. A
água da rua, o lixo e os entulhos
acumulados correm direto para
o manancial.
"Aqui, o que fica na rua vai
para a represa", diz a diarista
Zanaide da Silva, 27, que mora
em uma casa a uma quadra do
brejo da Billings.
Em 2000, o Ministério Público do Estado conseguiu proibir
a construção de novas moradias no bairro. Mas a pressão é
constante. "Em 2001, construíram 85 barracos do lado da represa. Com muito esforço conseguimos tirá-los de lá", diz a líder comunitária Maria do Carmo Pereira da Silva, 45.
A alguns quilômetros dali,
uma outra comunidade foi cortada pelo traçado do Rodoanel,
e também corre o risco de ver
sua população crescer após a
conclusão da obra, o que o governo promete para 2010. Trata-se de uma favela conhecida
como Areião. Parte dela foi removida para a construção da
via. Os barracos que ficaram -a
maioria- não contam com infra-estrutura. Parte do esgoto
corre por um pequeno rio que
deságua na Billings, a algumas
dezenas de metros do local.
Gilvan dos Santos, 35, proprietário de uma loja de materiais de limpeza, mora na
Areião há 20 anos, quase
embaixo das vigas que sustentarão um viaduto do Rodoanel
sobre a rodovia Anchieta. "Tem
época do ano que o cheiro aqui
fica insuportável", diz.
Plínio Camillo, representante do Dersa (Desenvolvimento
Rodoviário S.A.) participou da
expedição de ontem às obras do
Rodoanel. Ele diz que há, sim,
problemas de adensamento em
toda a região. Mas ressalta que,
por causa de restrições de acesso, o Rodoanel não trará tanto
impacto populacional nas comunidades que o cercam. "O
risco de aumento de ocupações
existe com ou sem as obras."
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