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PCC conquista favela com leite e comida
Facção responsável pela maior onda de violência de SP cria uma espécie de programa social em ponto de venda de drogas
Grupo criminoso entrega também gás de cozinha, remédio e enxoval de bebê na comunidade Pedra sobre Pedra, zona sul da capital
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL
Em um cenário desenhado
por morros tomados por barracos, lixo, esgoto a céu aberto e
onde carteiros, lixeiros e serviços sociais não chegam, a facção criminosa PCC (Primeiro
Comando da Capital) montou,
com o apoio dos moradores,
uma de suas bases de venda de
droga em São Paulo. Em troca,
criou uma espécie de programa
assistencial, batizado de Ajuda
da Correria para o Social, que
distribui leite, gás e cestas básicas a 200 famílias cadastradas.
"Correria" significa crime na
linguagem das ruas.
Com o conhecimento de parte das cerca de 36 mil pessoas
que moram na favela Pedra sobre Pedra, em Cidade Júlia, zona sul paulistana, a venda e o
preparo da droga -maconha e
cocaína- são feitos à luz do dia.
Mas os traficantes são apenas
alguns dos soldados da facção.
Recebem ordens de dois presos, que comandam até a distribuição dos alimentos na favela.
"Para vocês da cidade o PCC
traz medo, para nós da favela
traz leite", afirma a empregada
doméstica Lúcia, 19, uma das
cadastradas no "programa".
Por segurança, a Folha usa nomes fictícios para preservar a
identidade dos moradores.
"O partido [PCC] ajuda mais
a gente do que o governo. Minha mulher está desempregada. Tem de ir à cidade, pegar
ônibus e passar por um bando
de burocracia para ser cadastrada em um programa social.
Aqui é tudo rápido", afirma o
marceneiro João, 27.
O PCC distribui, por semana,
150 sacos de dois quilos de leite
em pó, cem litros de sopa e até
60 botijões de gás de cozinha. O
"programa" também inclui remédios e enxoval de bebê, que
são distribuídos até mesmo a
quem não é cadastrado. Favorece principalmente 97 famílias de uma área de risco, na
parte baixa da favela.
Os alimentos são comprados
com o dinheiro da venda das
drogas ou cedidos por comerciantes por ordem da facção.
"Eu jamais vou falar mal deles [dos membros do PCC] ou
dedurá-los à polícia. Não me fazem mal. Um dia meu menino
teve febre alta e eu estava sem
dinheiro para comprar remédio. Expliquei o que houve a
um funcionário do partido, que
depois voltou com o dinheiro
na mão e fui à farmácia", diz
Bruna, 30, mãe de duas crianças e já grávida de outra.
Outras favelas também estariam sendo favorecidas pelos
criminosos da facção, responsável pela pior onda de violência no Estado, em maio deste
ano, quando mais de 40 agentes de segurança foram assassinados. A polícia de São Paulo
diz que investigará a ocorrência do assistencialismo.
De acordo com uma liderança comunitária, o único programa social do Estado que chega
à favela é o Viva Leite, para 200
famílias. O local tem só uma escola e um posto de saúde.
"Se você está com a panela
vazia, ele [o PCC] dá comida. O
PCC vê nosso lado da favela",
fala o traficante Cláudio, 32,
que recebe ordens de membros
da facção de dentro das cadeias
para distribuir os alimentos.
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