São Paulo, domingo, 02 de julho de 2006

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Ambientalista é ameaçado de morte no Rio

Cadáver ensangüentado apareceu em praia ao lado da casa dele, na comunidade do Cascarejo, em Niterói, onde atua

Vilmar Berna pediu socorro à Polícia Civil e à Comissão de Direitos Humanos da OAB; em 2005, defensor do ambiente foi assassinado


SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Ambientalista atuante na região metropolitana do Estado do Rio, o jornalista Vilmar Berna, 49, vem recebendo ameaças de morte. São telefonemas e recados de vizinhos que o alertam sobre a possibilidade de ser assassinado. O corpo de um homem morto a pauladas foi deixado ao lado de sua casa.
As ameaças partiriam de pessoas incomodadas pela presença do ambientalista na comunidade do Cascarejo, na enseada de Jurujuba (Niterói, cidade a 15 km do Rio). Antigo cartão-postal da baía de Guanabara, o local convive hoje com pesca e criadouros clandestinos, favelização, poluição por esgotos e dejetos industriais e tráfico de drogas.
Com cerca de 3.000 habitantes, o Cascarejo abriga pescadores profissionais, mas também suspeitos de explorarem dezenas de criadouros clandestinos de mexilhões.
Também partiriam dali embarcações que revolvem o fundo da baía com rede de malha fina, o que é proibido pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
A malha fina arrasta no fundo do mar, captura e dizima todas as espécies. Os alvos principais desses pescadores são os camarões, antes abundantes na baía e hoje em processo acelerado de desaparecimento.
Informada sobre as ameaças, a Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) requisitou à Polícia Civil informações sobre o que está sendo feito para a proteção do ambientalista.
O temor é que ocorra com Berna o mesmo que aconteceu com Dionísio Júlio Ribeiro Filho, ambientalista assassinado no ano passado por causa do trabalho que desenvolvia na Reserva Biológica do Tinguá (Nova Iguaçu, Baixada Fluminense), invadida por caçadores e desmatadores.

Tráfico
Além dos pescadores clandestinos, são suspeitos de ameaçarem Berna traficantes e usuários de drogas que atuam no Cascarejo, para onde ele se mudou há seis anos.
Berna adquiriu uma casa que era usada para consumo e tráfico de maconha e cocaína. A casa fica na localidade de Ponta da Ilha, limite entre o Cascarejo e o mar. Logo que se mudou, proibiu o uso de drogas nas proximidades.
"Sou um ambientalista razoavelmente conhecido. A minha presença aqui trouxe uma certa preocupação a essas pessoas que pescam na época do defeso, com malha fina. Passei a ser um fator de tensão na comunidade", disse.
Neste ano, circulou na comunidade o boato de que Berna fecharia com um muro o acesso da favela à prainha.
Ele também se insurgiu contra a construção de um píer clandestino em frente à casa em que mora com a mulher e o enteado de seis anos.
As ameaças começaram desde então e se intensificaram no mês passado. Telefonemas em que uma mulher avisava que ele seria morto passaram a ser constantes. Um amigo o alertou de que estava em curso um plano para espancá-lo até a morte e sumir com o corpo no mar. Em maio, seis homens armados foram à noite à casa dele para intimidá-lo.
Para tornar a situação ainda mais dramática, um cadáver foi deixado na prainha, há cerca de dois meses. Era um homem que havia sido visto no dia anterior bebendo nos bares que ficam na favela. Ao lado do corpo, um porrete ensangüentado foi deixado pelos criminosos. Antes da chegada da polícia, o cadáver desapareceu do local.
Assustado, Berna registrou as ameaças na Polícia Civil. Inicialmente, contratou dois seguranças, que permaneciam na casa. Por falta de dinheiro, eles foram dispensados em junho.


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