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Ambientalista é ameaçado de morte no Rio
Cadáver ensangüentado apareceu em praia ao lado da casa dele, na comunidade do Cascarejo, em Niterói, onde atua
Vilmar Berna pediu socorro à Polícia Civil e à Comissão de Direitos Humanos da OAB; em 2005, defensor do ambiente foi assassinado
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Ambientalista atuante na região metropolitana do Estado
do Rio, o jornalista Vilmar Berna, 49, vem recebendo ameaças
de morte. São telefonemas e recados de vizinhos que o alertam
sobre a possibilidade de ser assassinado. O corpo de um homem morto a pauladas foi deixado ao lado de sua casa.
As ameaças partiriam de pessoas incomodadas pela presença do ambientalista na comunidade do Cascarejo, na enseada
de Jurujuba (Niterói, cidade a
15 km do Rio). Antigo cartão-postal da baía de Guanabara, o
local convive hoje com pesca e
criadouros clandestinos, favelização, poluição por esgotos e
dejetos industriais e tráfico de
drogas.
Com cerca de 3.000 habitantes, o Cascarejo abriga pescadores profissionais, mas também
suspeitos de explorarem dezenas de criadouros clandestinos
de mexilhões.
Também partiriam dali embarcações que revolvem o fundo da baía com rede de malha
fina, o que é proibido pelo Ibama (Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis).
A malha fina arrasta no fundo do mar, captura e dizima todas as espécies. Os alvos principais desses pescadores são os
camarões, antes abundantes na
baía e hoje em processo acelerado de desaparecimento.
Informada sobre as ameaças,
a Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) requisitou à
Polícia Civil informações sobre
o que está sendo feito para a
proteção do ambientalista.
O temor é que ocorra com
Berna o mesmo que aconteceu
com Dionísio Júlio Ribeiro Filho, ambientalista assassinado
no ano passado por causa do
trabalho que desenvolvia na
Reserva Biológica do Tinguá
(Nova Iguaçu, Baixada Fluminense), invadida por caçadores
e desmatadores.
Tráfico
Além dos pescadores clandestinos, são suspeitos de
ameaçarem Berna traficantes e
usuários de drogas que atuam
no Cascarejo, para onde ele se
mudou há seis anos.
Berna adquiriu uma casa que
era usada para consumo e tráfico de maconha e cocaína. A casa fica na localidade de Ponta
da Ilha, limite entre o Cascarejo e o mar. Logo que se mudou,
proibiu o uso de drogas nas
proximidades.
"Sou um ambientalista razoavelmente conhecido. A minha presença aqui trouxe uma
certa preocupação a essas pessoas que pescam na época do
defeso, com malha fina. Passei
a ser um fator de tensão na comunidade", disse.
Neste ano, circulou na comunidade o boato de que Berna fecharia com um muro o acesso
da favela à prainha.
Ele também se insurgiu contra a construção de um píer
clandestino em frente à casa
em que mora com a mulher e o
enteado de seis anos.
As ameaças começaram desde então e se intensificaram no
mês passado. Telefonemas em
que uma mulher avisava que
ele seria morto passaram a ser
constantes. Um amigo o alertou de que estava em curso um
plano para espancá-lo até a
morte e sumir com o corpo no
mar. Em maio, seis homens armados foram à noite à casa dele
para intimidá-lo.
Para tornar a situação ainda
mais dramática, um cadáver foi
deixado na prainha, há cerca de
dois meses. Era um homem que
havia sido visto no dia anterior
bebendo nos bares que ficam
na favela. Ao lado do corpo, um
porrete ensangüentado foi deixado pelos criminosos. Antes
da chegada da polícia, o cadáver
desapareceu do local.
Assustado, Berna registrou
as ameaças na Polícia Civil. Inicialmente, contratou dois seguranças, que permaneciam na
casa. Por falta de dinheiro, eles
foram dispensados em junho.
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