São Paulo, quarta-feira, 02 de julho de 2008

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Ele morreu em meus braços, afirma pai de rapaz perdido na selva

Família continuou busca por Jonathan Alves, 18, perdido há 50 dias na Amazônia, mesmo após bombeiros encerrarem procura

Rapaz se perdeu após sair para caçar em área de difícil acesso a 107 km de Manaus; ele morreu no sábado nos braços de seu pai, Edilson dos Santos

KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

O pai do rapaz que ficou perdido na selva amazônica por 50 dias e morreu logo depois de ser encontrado pela família disse ontem, no enterro, que nunca desistiu das buscas porque sabia que o filho estava vivo.
Jonathan dos Santos Alves, 18, morreu nos braços do pai, o agricultor e mateiro Edilson Avelino dos Santos, 40, no último sábado.
O jovem havia se perdido em 11 de maio, após sair para caçar com amigos, em área de difícil acesso em Presidente Figueiredo (107 km de Manaus).
"Eu sabia que ele estava vivo, senti isso no coração. Desde o dia em que ele se perdeu eu passei 20, 30 dias na mata, não parei. Fiquei doente, fui picado por insetos, machuquei os braços em galhos, mas não desisti", disse Edilson.

Buscas
A família realizou buscas por uma semana depois do desaparecimento de Jonathan. Depois acionou o Corpo de Bombeiros, que vasculhou a selva por 20 dias e encerrou os trabalhos. Edilson continuou a procurar o filho, com um irmão e outros dois mateiros.
Na manhã do último sábado, o agricultor encontrou Jonathan caído na terra, próximo a um rio, a 45 km de onde ele havia desaparecido. Estava debilitado e vestia apenas camiseta e cueca.
"Encontrei muitos vestígios, pássaros e peixes que ele matava e comia. Roupas, canivete, até a espingarda achei. Quando fui me aproximando, ele já estava quase morrendo, morreu nos meus braços", afirmou o pai do rapaz.
Para evitar que animais atacassem o corpo do filho até o resgate, o pai o enrolou em uma rede e o amarrou a dois metros do solo, em uma árvore.
O rapaz, que costumava caçar com o pai, tinha estudado até a quarta série e queria servir no Exército. A família vive da plantação de hortaliças.
O corpo de Jonathan foi enterrado ontem no cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus, na presença de 32 familiares e amigos.
Com flores de papel nas mãos, a mãe do rapaz, Maria do Socorro Santos, 36, disse que incentivou Edilson a manter as buscas pelo filho.
"Eu sonhava com onças e cobras dentro da mata, elas cercavam meu filho, mas ficavam paradas", afirmou Maria do Socorro.
O resgate do corpo de Jonathan, feito anteontem, durou três horas. Uma equipe de bombeiros seguiu por três horas em uma camionete até uma clareira aberta na mata, na altura do km 26 de uma estrada vicinal da BR-174. Desse ponto, outro grupo seguiu 70 km de helicóptero para dentro da selva.

Resgate
O tenente Andrey Costa, 31, disse que a equipe do helicóptero demorou 40 minutos para encontrar o corpo na árvore, mesmo com ajuda do pai. O militar e outro bombeiro desceram com cordas e içaram o corpo para dentro da aeronave em uma maca.
Não havia espaço para todos no helicóptero, e o tenente, especialista em operações de resgate, teve que pernoitar na selva, pois já estava escuro e a aeronave não tinha como voltar.
Ele subiu em uma árvore e fez um abrigo a 12 metros de altura. Comeu ração e bebeu água, mas foi picado por muitos insetos. "Fiquei preso na árvore sem poder dormir, tinha muito bicho. Pelo que passei [na selva], o Jonathan fez o impossível para sobreviver, foi um herói", disse o tenente.


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