São Paulo, quinta, 2 de julho de 1998

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SAÚDE
Médico registra caso de homem que ficou com maxilar duro por 40 minutos e outro que teve ereção de 12 horas
Efeito colateral de Viagra assusta paciente

LUCIA MARTINS
da Reportagem Local

Os efeitos colaterais do Viagra, a droga para impotência sexual, estão começando a surgir nos consultórios médicos e a superar os 10% previstos pelo fabricante do remédio, a Pfizer.
A Folha ouviu médicos que tratam impotência em São Paulo e todos afirmam ter registrado efeitos colaterais da droga. Eles divergem, no entanto, sobre a intensidade e a quantidade dessas desagradáveis ações do remédio.
O médico que afirma ter registrado graves ações do remédio é o cirurgião vascular Roberto Tullii. Segundo ele, dos 58 pacientes tratados com a droga, 16 tiveram problemas -dois deles teriam tido queda de pressão brusca e quase morrido por causa da droga.
Dois casos surpreendem porque nunca foram documentados pela literatura médica. João Roberto Toquero, 43, afirma ter ficado com o maxilar duro por 40 minutos após tomar o remédio. Marcelo (nome fictício), 23, tomou o remédio sem indicação médica e diz ter tido uma ereção de 12 horas.
Os dois casos, segundo Tullii, não deixaram sequelas, mas Marcelo (leia texto ao lado) correu o risco de ficar impotente para sempre. A ereção prolongada (chamada de priapismo) é um efeito colateral comum das injeções aplicadas para provocar ereção, mas nunca foi documentada.
A Pfizer afirma que o enrijecimento do maxilar é um efeito que não poderia ser causado pelo remédio (Tullii discorda), mas não elimina a hipótese da ocorrência do priapismo.
Os outros médicos ouvidos pela reportagem, no entanto, afirmam que nunca registraram nenhum outro efeito colateral, além dos já documentados na própria bula. Dor de cabeça, rubor facial, problemas gástricos e confusão de cores (entre azul e verde) são os efeitos mais notados.
Esses efeitos, no entanto, são mais frequentes do que a média de 10% feita pelo laboratório e, apesar de aparentemente não muito graves, estão fazendo com que muitos pacientes abandonem o tratamento.
"Com certeza, registrei mais de 10% desses problemas. A dor de cabeça insuportável é o que mais faz com que eles (os pacientes) abandonem o tratamento", afirma o cirurgião vascular Alfredo Romero.
O urologista do Hospital do Servidor Estadual, Eduardo Bertero, conta que a dor de cabeça forte provocada pelo remédio fez com que dois pacientes parassem de usar a medicação.
Mas Bertero diz que nunca registrou nenhum efeito colateral que colocasse a vida do paciente em risco. O professor de urologia da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) Celso Gromatzky também afirma nunca ter notado nenhum efeito colateral, além dos já registrados pelo laboratório. A dor de cabeça também é o efeito mais comum no consultório de Gromatzky e atinge 15% dos pacientes do urologista.



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