São Paulo, segunda-feira, 02 de agosto de 2004

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Na volta às aulas, carona é opção para aliviar trânsito

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Ana Cláudia Canesin Dias, 41, com filhos e colegas deles, que aproveitam o sistema de carona solidária no transporte até a escola


DA REPORTAGEM LOCAL

A relações-públicas Ana Cláudia Canesin Dias, 41, se desdobrava para levar os três filhos à escola e, parada nos semáforos, costumava deparar com um morador de seu quarteirão, em outro carro, levando um filho ao mesmo lugar.
A cena se tornou habitual até que um dia eles resolveram fazer a "baldeação" dos filhos na metade do caminho, liberando um dos motoristas para voltar para casa.
A cena também se tornou habitual e hoje Dias consegue trabalhar e manter os três filhos em três colégios diferentes, sem ter de contratar perua escolar, graças a um esquema de transporte compartilhado que ela faz com um pai e uma mãe de outros dois alunos -desta vez, da porta da casa à porta da escola, sem depender da sorte de encontrar com os vizinhos parados no semáforo.
Um leva num dia, traz no outro e todos evitam viagens desnecessárias -que trazem mais poluição e congestionamentos-, perda de tempo e de dinheiro.
"Era uma situação ridícula", lembra Dias, sobre os tempos em que não usava a carona solidária.
Aliada ao crescimento da frota paulistana -que recebe 500 novos carros por dia- e à resistência da população em aderir aos coletivos -entre outras razões, pela falta de qualidade-, a subutilização da capacidade do automóvel é um dos obstáculos à fluidez freqüentemente citados por especialistas.
Segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), a média em São Paulo é de 1,6 passageiro para cada carro, que geralmente tem espaço para cinco pessoas.
Embora os incentivos governamentais tenham diminuído nos últimos anos, os esquemas de transporte solidário são uma alternativa para mitigar os impactos no trânsito a partir de hoje, quando a maioria dos estudantes volta às aulas -as férias tiram até 15% da frota das ruas.
A CET vai deslocar 120 marronzinhos para fiscalizar a circulação nas escolas e coibir infrações como formação de filas duplas e estacionamento irregular.

Incentivos
Logo após os primeiros testes do rodízio de veículos, em 1995, ainda a cargo do Estado e para combater a poluição, os governos estadual e municipal chegaram a adotar medidas de incentivo ao transporte compartilhado.
A Cetesb (companhia ambiental) entregou programas de computador para escolas, condomínios e empresas -para compatibilizar os horários, origens e destinos de alunos/funcionários.
Foram distribuídos mais de 10 mil softwares, mas, depois de três anos, a campanha terminou. "Era uma ação atrelada ao rodízio estadual. Mas deixamos algumas sementes", afirma Maria de Lourdes Rocha Freire, gerente de mídias eletrônicas da Cetesb.
A CET também adotou faixas solidárias, a partir de 1997, em oito vias, nas quais podiam circular, nas horas de pico, apenas carros ocupados por mais de uma pessoa. Atualmente restam somente três trechos -na ponte das Bandeiras, na av. Luís Dumont Vilares e na ponte João Dias.
A suspensão desses incentivos foi motivada, em parte, pela baixa adesão dos motoristas. Mas também levou aqueles que haviam aderido ao movimento a abandonar a prática.
A diretora do Colégio Brasília, Ayako Kuba Sakamoto, diz que não apenas os estudantes como os membros de sua própria família aderiram à carona solidária na segunda metade dos anos 90 -a partir do programa da Cetesb.
"A vantagem, além do trânsito, é que reforça as ligação de amizade entre os pais", afirma Sakamoto, cujo colégio deixou de incentivar essa prática depois do fim da campanha estadual. "Hoje, na minha família, os horários são diferentes, mas, se a gente quisesse, até que daria", afirma.
Tanto a relações-públicas Dias como Sakamoto afirmam que a condição para que esses sistemas tenham sucesso é a organização dos pais. "Tem de haver comunicação e obedecer horário. Não dá para atrasar ao levar os filhos dos outros", afirma Dias, para quem a carona solidária "é bem melhor do que deixar as crianças na perua escolar". "Eu já testei essa opção, mas eles ficavam uma hora dentro da perua. Comigo ou com outros pais não dura mais de dez minutos." (ALENCAR IZIDORO)


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