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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/INVESTIGAÇÃO
Pilotos acham improvável colega ter errado
Manuseio incorreto, sugerido pela caixa-preta, é erro primário, disseram 8 profissionais, e não seria cometido mesmo por inexperientes
Defeito eletrônico ou
um toque acidental nos aparelhos da aeronave
são as hipóteses que eles consideram mais prováveis
DA REPORTAGEM LOCAL
Pilotos ouvidos pela reportagem consideram improvável
que os comandantes do Airbus-A320 da TAM que se acidentou
em Congonhas tenham cometido uma falha tão "primária"
como a que sugere a leitura das
caixas-pretas do avião.
Na avaliação deles, deslocar
um dos manetes da aeronave
para uma posição errada na hora do pouso seria um erro de
procedimento tão básico que
dificilmente seria cometido até
mesmo por profissionais inexperientes ou que tenham tido
um treinamento deficiente.
Seria, na comparação de um
comandante da TAM entrevistado pela Folha, algo equivalente a um motorista profissional errar a marcha do carro.
Até por esse motivo, consideram ser mais possível uma falha eletrônica ou mecânica ter
motivado esse registro das caixas-pretas ou, para alguns, um
eventual erro humano, mas por
um toque acidental (que deslocaria a posição do manete em
milímetros), e não pelo manuseio incorreto do aparelho.
O fato de a caixa-preta mostrar um posicionamento incorreto do manete, avaliam, não é
suficiente para concluir que
houve esse erro, até porque os
registros se referem ao que foi
lido pelo computador, e não
necessariamente às atitudes do
piloto. As considerações foram
feitas ontem por oito profissionais ouvidos pela Folha.
O avião da TAM que se acidentou em Congonhas voava
no dia 17 com seu reversor direito -que auxilia no sistema
de frenagem- inoperante.
Essa situação, na avaliação
de alguns dos pilotos, poderia
até ser um complicador para
momentos do pouso, como a
própria dificuldade de parar
numa pista curta (1,94 km de
extensão) e molhada sem esse
freio adicional, mas não atrapalharia no manuseio do manete -que seria igual independentemente de estar ou não
com os reversores ativados.
A preocupação da categoria
de que uma falha eletrônica
possa ter levado à aceleração
do Airbus-A320 independentemente de vontade ou erro do
piloto é citada por conta das características dessa aeronave,
uma das mais automatizadas.
Ela tem como controles de
vôo não manches convencionais, mas sim um tipo de joystick, semelhante aos usados em
videogame. Também tem um
sistema conhecido como "fly-by-wire", que substituiu as conexões mecânicas do manche
por comandos eletrônicos.
Com a tecnologia, algumas
ações do piloto são desconsideradas automaticamente pelo
avião -como, por exemplo,
uma manobra muito brusca.
O seu sistema automático de
aceleração muitas vezes funciona sem que haja alteração
dos manetes, diferentemente
de um Boeing. Ou seja, quando
a aeronave está voando, ela pode estar acelerando, programada por outros comandos do
computador, sem que haja deslocamento imediato do manete
para a posição de aceleração.
No caso do acidente em Congonhas, isso significa que, se
houve alguma pane que tenha
acelerado automaticamente a
aeronave, isso pode ter ocorrido sem mudança do manete.
A tecnologia é exaltada pelos
fabricantes e muitos usuários
do Airbus-A320 como um adicional de segurança por diminuir interferências humanas.
Mas, para parte dos pilotos, é
prejudicial.
(ALENCAR IZIDORO, KLEBER TOMAZ E FABIO TAKAHASHI)
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