São Paulo, quinta-feira, 02 de agosto de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRAGÉDIA EM CONGONHAS/INVESTIGAÇÃO

Pilotos acham improvável colega ter errado

Manuseio incorreto, sugerido pela caixa-preta, é erro primário, disseram 8 profissionais, e não seria cometido mesmo por inexperientes

Defeito eletrônico ou um toque acidental nos aparelhos da aeronave são as hipóteses que eles consideram mais prováveis

DA REPORTAGEM LOCAL

Pilotos ouvidos pela reportagem consideram improvável que os comandantes do Airbus-A320 da TAM que se acidentou em Congonhas tenham cometido uma falha tão "primária" como a que sugere a leitura das caixas-pretas do avião.
Na avaliação deles, deslocar um dos manetes da aeronave para uma posição errada na hora do pouso seria um erro de procedimento tão básico que dificilmente seria cometido até mesmo por profissionais inexperientes ou que tenham tido um treinamento deficiente.
Seria, na comparação de um comandante da TAM entrevistado pela Folha, algo equivalente a um motorista profissional errar a marcha do carro.
Até por esse motivo, consideram ser mais possível uma falha eletrônica ou mecânica ter motivado esse registro das caixas-pretas ou, para alguns, um eventual erro humano, mas por um toque acidental (que deslocaria a posição do manete em milímetros), e não pelo manuseio incorreto do aparelho.
O fato de a caixa-preta mostrar um posicionamento incorreto do manete, avaliam, não é suficiente para concluir que houve esse erro, até porque os registros se referem ao que foi lido pelo computador, e não necessariamente às atitudes do piloto. As considerações foram feitas ontem por oito profissionais ouvidos pela Folha.
O avião da TAM que se acidentou em Congonhas voava no dia 17 com seu reversor direito -que auxilia no sistema de frenagem- inoperante.
Essa situação, na avaliação de alguns dos pilotos, poderia até ser um complicador para momentos do pouso, como a própria dificuldade de parar numa pista curta (1,94 km de extensão) e molhada sem esse freio adicional, mas não atrapalharia no manuseio do manete -que seria igual independentemente de estar ou não com os reversores ativados.
A preocupação da categoria de que uma falha eletrônica possa ter levado à aceleração do Airbus-A320 independentemente de vontade ou erro do piloto é citada por conta das características dessa aeronave, uma das mais automatizadas.
Ela tem como controles de vôo não manches convencionais, mas sim um tipo de joystick, semelhante aos usados em videogame. Também tem um sistema conhecido como "fly-by-wire", que substituiu as conexões mecânicas do manche por comandos eletrônicos.
Com a tecnologia, algumas ações do piloto são desconsideradas automaticamente pelo avião -como, por exemplo, uma manobra muito brusca.
O seu sistema automático de aceleração muitas vezes funciona sem que haja alteração dos manetes, diferentemente de um Boeing. Ou seja, quando a aeronave está voando, ela pode estar acelerando, programada por outros comandos do computador, sem que haja deslocamento imediato do manete para a posição de aceleração.
No caso do acidente em Congonhas, isso significa que, se houve alguma pane que tenha acelerado automaticamente a aeronave, isso pode ter ocorrido sem mudança do manete.
A tecnologia é exaltada pelos fabricantes e muitos usuários do Airbus-A320 como um adicional de segurança por diminuir interferências humanas. Mas, para parte dos pilotos, é prejudicial. (ALENCAR IZIDORO, KLEBER TOMAZ E FABIO TAKAHASHI)


Texto Anterior: Empresa dos EUA vai resgatar objetos de vítimas
Próximo Texto: Para ex-piloto, houve falha no equipamento
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.