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Associação de delegado dá título de "sustentável" a cidades miseráveis
Prefeito diz ter sido instado a pagar até R$ 5.000 para participar
RICARDO GALLO
DE SÃO PAULO
Senador Rui Palmeira (AL)
está entre as cem cidades
mais miseráveis do Brasil, segundo o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal.
Metade dos 13 mil habitantes não sabe ler nem escrever. A seca assola a região. A
população depende do Bolsa
Família para sobreviver.
Pois a cidade recebeu em
maio o título de uma das
"cem mais bem avaliadas e
sustentáveis do país" da
ANPV (Associação Nacional
de Prefeitos e Vice-Prefeitos).
A entidade é presidida por
um delegado plantonista de
um DP de Itaquera (zona leste de São Paulo).
A entrega do prêmio ocorreu em Brasília, no Senado,
diante de parlamentares.
O ranking de sustentabilidade não existe. O Ministério
do Meio Ambiente diz não
haver tal seleção nacional.
A escolha foi feita pela entidade, que procurou as cidades no início do ano.
Prefeitos vencedores foram instados a colaborar
com dinheiro. Três disseram
à Folha que a entidade lhes
pediu de R$ 500 a R$ 5.000.
Nem todos pagaram. Compareceram 50 dos 100 prefeitos.
CONFRATERNIZAÇÃO
Documento da ANPV falava em "recolhimento de contribuição" e deixava número
de conta para depósito. Segundo a entidade, foi uma
ajuda para a festa de confraternização -18 pagaram.
Matões (MA), 5.152ª colocação entre as 5.565 cidades
brasileiras no IDH-M, também foi premiada.
Metrópoles integravam a
lista. São Paulo foi indicada,
mas o prefeito Gilberto Kassab (DEM) não compareceu
nem enviou representante.
A seleção usou critérios
vagos -"espírito empreendedorista do prefeito" e "gerenciamento estratégico".
Havia também aspectos
objetivos, como cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal e das metas de educação e saúde. Não se trata
de mérito, porém; essas são
obrigações constitucionais.
Ganhou o prêmio mesmo
quem não atendeu aos requisitos. "Se a sua cidade não
pontuou em algum item, por
certo foi bem avaliada em outros", informava a ANPV.
A entidade admitiu à Folha que a escolha não teve rigor científico. Atribuiu a seleção a levantamentos em
bancos de dados públicos,
além de ligações a "lideranças" e pesquisas na internet.
A ANPV afirma ter contado com a parceria da Fundação Universa, do Distrito Federal. A fundação nega. Diz
que só divulgou cursos para
gestores na premiação.
O Senado diz ter cedido o
auditório gratuitamente.
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