São Paulo, sexta-feira, 02 de setembro de 2005

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CRÔNICA DO DESESPERO

Professor da USP apóia interrupção de terapia para garoto com doença degenerativa em Franca

Médico defende fim do tratamento de Jhéck

DA FOLHA RIBEIRÃO

O médico Marco Aurélio Guimarães, 35, diretor do Centro de Medicina Legal e docente de bioética da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, defendeu o direito de o recepcionista Jeson de Oliveira, de 35 anos, pleitear judicialmente a morte do filho Jhéck Breener de Oliveira, 4.
De acordo com o especialista, o pai não quer o homicídio do filho, mas o término do sofrimento da criança. "A suspensão do esforço terapêutico é uma situação que não vejo com ressalvas. Se é a vontade de Deus que ele viva, ele viverá. Se não for a vontade de Deus, ele não viverá. Se ele morrer, essa não terá sido a vontade divina?", questionou o médico.
Jhéck, internado há quatro meses no CTI (Centro de Terapia Intensiva) do hospital Unimed, em Franca (SP), sofre de uma doença degenerativa do sistema nervoso central que já fez com que ele perdesse a visão, a fala e os movimentos do pescoço, dos braços e das pernas. Ele apenas se alimenta por meio de sondas e respira com o auxílio de aparelhos.
O médico e professor da USP afirmou, no entanto, ser contrário à eutanásia -que, para ele, se configura homicídio.
O infectologista Caio Rosenthal já defendeu a ortotanásia -o ato de cessar a utilização de recursos que prolonguem artificialmente a vida quando não há mais chances de recuperação.
Para o especialista do HC, como há impasse no pátrio poder sobre a decisão a ser tomada -o pai quer a eutanásia, mas a mãe, não-, o caminho judicial é a alternativa que resta a Oliveira. "Nenhuma religião tem o direito de impor suas condutas a quem quer que seja, já que o Brasil é um país livre. Não se trata de o pai querer o homicídio, mas o curso natural da vida biológica do filho. A suspensão do esforço terapêutico é uma saída."
Ele disse esperar coerência da Justiça. "Em uma análise fria, ele até ocupa o espaço de outros pacientes que podem ser recuperados. Não se trata de crueldade, mas de uma visão fria. Não podemos ser arrogantes e achar que a ciência pode tudo hoje, porque isso é brigar com o inevitável."
O presidente do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), Isac Jorge Filho, disse à Folha também ser totalmente contrário à eutanásia, prática proibida pela legislação brasileira pela qual se busca abreviar a vida de um doente incurável, sem dor ou sofrimento. Oliveira reafirmou ontem que só a eutanásia cessará a dor do filho.


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