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CRÔNICA DO DESESPERO
Professor da USP apóia interrupção de terapia para garoto com doença degenerativa em Franca
Médico defende fim do tratamento de Jhéck
DA FOLHA RIBEIRÃO
O médico Marco Aurélio Guimarães, 35, diretor do Centro de
Medicina Legal e docente de
bioética da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, defendeu o direito de o recepcionista Jeson de Oliveira, de 35 anos,
pleitear judicialmente a morte do
filho Jhéck Breener de Oliveira, 4.
De acordo com o especialista, o
pai não quer o homicídio do filho, mas o término do sofrimento da criança. "A suspensão do
esforço terapêutico é uma situação que não vejo com ressalvas.
Se é a vontade de Deus que ele viva, ele viverá. Se não for a vontade de Deus, ele não viverá. Se ele
morrer, essa não terá sido a vontade divina?", questionou o médico.
Jhéck, internado há quatro meses no CTI (Centro de Terapia Intensiva) do hospital Unimed, em
Franca (SP), sofre de uma doença
degenerativa do sistema nervoso
central que já fez com que ele
perdesse a visão, a fala e os movimentos do pescoço, dos braços e
das pernas. Ele apenas se alimenta por meio de sondas e respira
com o auxílio de aparelhos.
O médico e professor da USP
afirmou, no entanto, ser contrário à eutanásia -que, para ele, se
configura homicídio.
O infectologista Caio Rosenthal
já defendeu a ortotanásia -o ato
de cessar a utilização de recursos
que prolonguem artificialmente
a vida quando não há mais chances de recuperação.
Para o especialista do HC, como há impasse no pátrio poder
sobre a decisão a ser tomada -o
pai quer a eutanásia, mas a mãe,
não-, o caminho judicial é a alternativa que resta a Oliveira.
"Nenhuma religião tem o direito
de impor suas condutas a quem
quer que seja, já que o Brasil é um
país livre. Não se trata de o pai
querer o homicídio, mas o curso
natural da vida biológica do filho.
A suspensão do esforço terapêutico é uma saída."
Ele disse esperar coerência da
Justiça. "Em uma análise fria, ele
até ocupa o espaço de outros pacientes que podem ser recuperados. Não se trata de crueldade,
mas de uma visão fria. Não podemos ser arrogantes e achar que a
ciência pode tudo hoje, porque
isso é brigar com o inevitável."
O presidente do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do
Estado de São Paulo), Isac Jorge
Filho, disse à Folha também ser
totalmente contrário à eutanásia,
prática proibida pela legislação
brasileira pela qual se busca abreviar a vida de um doente incurável, sem dor ou sofrimento. Oliveira reafirmou ontem que só a
eutanásia cessará a dor do filho.
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