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Sem funcionários, hospitais de federais ameaçam parar
No total, as 45 unidades ligadas a universidades federais do país acumulam dívida no valor de R$ 450 milhões
Mais de 90% têm déficit de funcionários, e alguns são pagos com recursos que seriam para medicação
e para equipamentos
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Sem reajustes na verba enviada pelo governo federal há
três anos nem reposição de
funcionários, os 45 hospitais
universitários federais do país
acumulam dívida de R$ 450
milhões e começam a paralisar
o atendimento à população.
Algumas unidades, como o
Hospital Universitário Prof.
Polydoro Ernani de São Thiago,
da Federal de Santa Catarina,
correm o risco de fechar nos
próximos dias por conta das demissões dos médicos, segundo
seu diretor-geral, Carlos Alberto Justo da Silva.
A unidade de transplantes,
por exemplo, foi desativada por
falta de pessoal e um dos setores de internação cirúrgica,
com 30 leitos, está fechado.
Duas salas de cirurgia também
estão desativadas por falta de
anestesistas.
"Vários funcionários admitidos pelo último concurso pediram e estão pedindo demissão
em razão dos baixos salários.
Precisamos de 450 profissionais para repor o quadro", afirma Silva. "Nosso serviço de
emergência corre o risco de, em
poucos dias, não ter condições
de manter as portas abertas."
Na semana passada, o Hospital Universitário Walter Cantídio, da Federal do Ceará, parou
de realizar cirurgias cardíacas.
Com uma dívida de R$ 12,13
milhões, a unidade precisa de
493 funcionários para normalizar sua situação.
Atendimento
A Folha procurou os 45 hospitais e obteve respostas de 15.
Em todos, há algum tipo de
problema que atinge diretamente o atendimento.
A crise, segundo o presidente
da Abrahue (Associação Brasileira de Hospitais Universitários e de Ensino), José Roberto
Ferraro, que também é o diretor-superintendente do Hospital São Paulo, da Unifesp, tem
duas causas principais: desde
2004 os hospitais universitários recebem um repasse anual
de cerca de R$ 200 milhões,
que deveria ser reajustado
anualmente. Desde então, nenhum reajuste ocorreu.
"O combinado era usar o dinheiro para começar a saldar as
dívidas. No primeiro ano, muitas unidades conseguiram fazer isso, mas, a partir do segundo, sem reajuste, a verba dava
apenas para cobrir alguns gastos. Para piorar, tivemos de começar a pagar funcionários."
Este é o segundo problema.
O Ministério da Educação, responsável pela contratação dos
funcionários, não tem feito a
reposição na mesma velocidade com que os atuais se aposentam ou se demitem, causando
déficit de recursos humanos.
Como o hospital não pode
deixar de funcionar, diz Ferraro, os diretores contratam profissionais regidos pela CLT
(Consolidação das Leis do Trabalho) e, assim, usam recursos
destinados a custeio de atendimentos, equipamentos e medicação para pagá-los.
A estimativa é que 20 mil
funcionários dos hospitais universitários federais estejam no
regime CLT, o que equivale a
40% do quadro total. Só no
Hospital São Paulo, 57% dos
profissionais são contratados
por este regime. "O Tribunal de
Contas tem nos questionado e
entendido que esse tipo de contratação é ilegal. Mas não temos outra alternativa. Não podemos fechar as portas."
Dos 45 hospitais, 43 têm dívidas e mais de 90% estão com
déficit de funcionários. A
maior delas é do Hospital São
Paulo, R$ 170 milhões. Lá, ainda não há serviço fechado, mas
o atendimento está lento e faltam verbas para conserto de
equipamentos. Um dos dois tomógrafos da unidade quebrou
e está sem previsão de reparo.
Ferraro afirmou que, na terça-feira, ocorreu uma reunião
entre a Abrahue e o governo federal e não houve proposta de
reajuste, calculado pelos hospitais em 30%.
"Se não houver reajuste, o
sistema entrará em colapso.
Muitos não chegarão ao ano
que vem." O problema, explica,
é maior nas unidades federais
porque as estaduais têm menos
contratados em regime CLT.
O Hospital Universitário
Cassiano Antonio Moraes, da
Federal do Espírito Santo,
também é um exemplo da crise. Com uma dívida de R$ 1,85
milhão e um déficit de 459 funcionários, a unidade teve de paralisar o serviço de cirurgia cardíaca há mais de 60 dias e 184
pacientes estão na fila de espera. O setor era tocado por médicos cedidos pela Secretaria
Estadual de Saúde, que se negaram a renovar o contrato
temporário.
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