São Paulo, domingo, 02 de setembro de 2007

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Sem funcionários, hospitais de federais ameaçam parar

No total, as 45 unidades ligadas a universidades federais do país acumulam dívida no valor de R$ 450 milhões

Mais de 90% têm déficit de funcionários, e alguns são pagos com recursos que seriam para medicação e para equipamentos

DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Sem reajustes na verba enviada pelo governo federal há três anos nem reposição de funcionários, os 45 hospitais universitários federais do país acumulam dívida de R$ 450 milhões e começam a paralisar o atendimento à população.
Algumas unidades, como o Hospital Universitário Prof. Polydoro Ernani de São Thiago, da Federal de Santa Catarina, correm o risco de fechar nos próximos dias por conta das demissões dos médicos, segundo seu diretor-geral, Carlos Alberto Justo da Silva.
A unidade de transplantes, por exemplo, foi desativada por falta de pessoal e um dos setores de internação cirúrgica, com 30 leitos, está fechado. Duas salas de cirurgia também estão desativadas por falta de anestesistas.
"Vários funcionários admitidos pelo último concurso pediram e estão pedindo demissão em razão dos baixos salários. Precisamos de 450 profissionais para repor o quadro", afirma Silva. "Nosso serviço de emergência corre o risco de, em poucos dias, não ter condições de manter as portas abertas."
Na semana passada, o Hospital Universitário Walter Cantídio, da Federal do Ceará, parou de realizar cirurgias cardíacas. Com uma dívida de R$ 12,13 milhões, a unidade precisa de 493 funcionários para normalizar sua situação.

Atendimento
A Folha procurou os 45 hospitais e obteve respostas de 15. Em todos, há algum tipo de problema que atinge diretamente o atendimento.
A crise, segundo o presidente da Abrahue (Associação Brasileira de Hospitais Universitários e de Ensino), José Roberto Ferraro, que também é o diretor-superintendente do Hospital São Paulo, da Unifesp, tem duas causas principais: desde 2004 os hospitais universitários recebem um repasse anual de cerca de R$ 200 milhões, que deveria ser reajustado anualmente. Desde então, nenhum reajuste ocorreu.
"O combinado era usar o dinheiro para começar a saldar as dívidas. No primeiro ano, muitas unidades conseguiram fazer isso, mas, a partir do segundo, sem reajuste, a verba dava apenas para cobrir alguns gastos. Para piorar, tivemos de começar a pagar funcionários."
Este é o segundo problema. O Ministério da Educação, responsável pela contratação dos funcionários, não tem feito a reposição na mesma velocidade com que os atuais se aposentam ou se demitem, causando déficit de recursos humanos.
Como o hospital não pode deixar de funcionar, diz Ferraro, os diretores contratam profissionais regidos pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e, assim, usam recursos destinados a custeio de atendimentos, equipamentos e medicação para pagá-los.
A estimativa é que 20 mil funcionários dos hospitais universitários federais estejam no regime CLT, o que equivale a 40% do quadro total. Só no Hospital São Paulo, 57% dos profissionais são contratados por este regime. "O Tribunal de Contas tem nos questionado e entendido que esse tipo de contratação é ilegal. Mas não temos outra alternativa. Não podemos fechar as portas."
Dos 45 hospitais, 43 têm dívidas e mais de 90% estão com déficit de funcionários. A maior delas é do Hospital São Paulo, R$ 170 milhões. Lá, ainda não há serviço fechado, mas o atendimento está lento e faltam verbas para conserto de equipamentos. Um dos dois tomógrafos da unidade quebrou e está sem previsão de reparo.
Ferraro afirmou que, na terça-feira, ocorreu uma reunião entre a Abrahue e o governo federal e não houve proposta de reajuste, calculado pelos hospitais em 30%.
"Se não houver reajuste, o sistema entrará em colapso. Muitos não chegarão ao ano que vem." O problema, explica, é maior nas unidades federais porque as estaduais têm menos contratados em regime CLT.
O Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes, da Federal do Espírito Santo, também é um exemplo da crise. Com uma dívida de R$ 1,85 milhão e um déficit de 459 funcionários, a unidade teve de paralisar o serviço de cirurgia cardíaca há mais de 60 dias e 184 pacientes estão na fila de espera. O setor era tocado por médicos cedidos pela Secretaria Estadual de Saúde, que se negaram a renovar o contrato temporário.


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