São Paulo, quarta-feira, 02 de outubro de 2002

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SEGURANÇA

No último dia 16, o secretário Roberto Aguiar recebeu gravação em que traficante falava de ação do Comando Vermelho

Governo sabia de plano para aterrorizar Rio

DA SUCURSAL DO RIO

O secretário de Segurança Pública do Estado do Rio, Roberto Aguiar, recebeu no último dia 16, do procurador-geral de Justiça, José Muiños Piñeiro Filho, gravações em que traficantes ligados à facção criminosa CV (Comando Vermelho), presos na penitenciária Bangu 1 (zona oeste), planejavam ações como a de anteontem na região metropolitana do Rio, quando o comércio fechou em pelo menos 36 bairros da capital e em municípios vizinhos.
As gravações feitas pelo Ministério Público Estadual mostram conversas em que o traficante Marco Antônio Tavares, o Marquinho Niterói, dizia que o CV aterrorizaria os fluminenses.
"Nas gravações, o traficante [Marquinho Niterói" afirmou que quem não participasse da ação seria alemão [inimigo"", disse Aguiar, acrescentando não estar ainda convencido de que a ação de anteontem teria sido realizada por ordem do tráfico. Niterói é ligado a Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar.
O secretário disse que, a partir do dia 16, colocou toda a polícia em alerta, mas que não pôde evitar o fechamento do comércio porque as gravações não mencionavam dia, hora e local em que ocorreria a ação.
Em nota oficial, o Ministério Público informou que não quis tornar público o conteúdo das gravações para não criar "um pânico social e dar tempo" à cúpula da segurança "de se preparar para o enfrentamento".
Aguiar disse que não descarta ser do CV um documento distribuído ontem em várias redações de jornais cariocas, em uma emissora de TV e em pontos da cidade. Supostamente assinado pela facção, a nota informa que o fechamento do comércio é uma retaliação à falta de regalias de traficantes presos no Batalhão de Choque, vindos de Bangu 1.
O secretário informou que investiga também a possibilidade de a carta ter sido enviada por funcionários públicos. Em fax encaminhado a um jornal, apareceu o número de um aparelho que pertence ao Iperj (Instituto de Previdência do Estado do Rio de Janeiro). Os telefones do órgão estão sendo rastreados.
O "aviso" informa que o fechamento do comércio não foi terrorismo nem ato político, mas um manifesto contra o "tratamento arbitrário" sofrido pelos líderes do motim no presídio de Bangu 1, levados para o Batalhão de Choque". A nota afirma que, se não houver providências, o comércio terá de fechar de novo suas portas. No batalhão, estão Fernandinho Beira-Mar e Elias Maluco.
Apesar do anúncio de reforço de policiamento feito pelo governo, com 43.500 homens nas ruas, a Folha circulou ontem por bairros das zonas norte e sul, das 11h às 15h30 de ontem, e não viu policiamento ostensivo.
Aos poucos, a tranquilidade voltou, mas ainda havia vestígios do medo. O comércio voltou ao normal pela manhã, com as lojas abrindo entre 30 minutos e uma hora mais tarde do que o horário normal. Durante a madrugada, muitos bares e restaurantes ficaram fechados.
(MARIO HUGO MONKEN, FERNANDA DA ESCÓSSIA E TALITA FIGUEIREDO)

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