São Paulo, quarta-feira, 02 de outubro de 2002

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Traficantes deram ordens, dizem presos

SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO

Duas pessoas, das 22 presas entre a manhã de segunda e a madrugada de ontem pela polícia, contaram ter recebido ordens de traficantes para mandar fechar o comércio em bairros do Rio e de cidades na região metropolitana.
Os dois são dos morros do Borel, na Tijuca, e do Andaraí, ambos na zona norte da cidade. Segundo a polícia, eles contaram nos depoimentos que as ordens partiram de traficantes da facção criminosa Comando Vermelho.
Os nomes dos mandantes não foram revelados pela Polícia Civil, que também não divulgou os nomes dos presos. Os demais detidos, segundo a DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes), não tinham envolvimento com o comércio de drogas.
"Eles não sabiam o que estavam fazendo nem quem tinha dado as ordens. São uns pés-de-chinelo que não ocupam nenhum posto na hierarquia do tráfico", disse a chefe do setor de investigações da DRE, inspetora Marina Maggessi.
Dos 22 detidos -dos quais 11 são menores de 18 anos-, apenas dois já foram liberados, por terem doenças mentais.
Em seus depoimentos, os dois contaram ter recebido R$ 20 de uma pessoa desconhecida para que percorressem os bairros da cidade, ordenando o fechamento do comércio. Eles não souberam responder se o desconhecido seria traficante.
Outros três disseram ter recebido telefonemas anônimos em orelhões das favelas onde moram.
"Eles não sabem dizer de quem partiu a ordem, mas disseram que se sentiram ameaçados, porque, durante os telefonemas, a pessoa dizia que os estava observando e que, caso a determinação não fosse cumprida, sofreriam represálias", afirmou a investigadora.
Os demais presos, a maioria moradora de favelas da zona norte, contaram que receberam orientações, sob a forma de ameaças, de pessoas desconhecidas.
Anteontem, a chefe do setor de investigações da DRE atribuiu ao traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, a onda de ameaças que provocou o fechamento de comércio, escolas, bancos e serviços públicos. Ontem, ela disse não acreditar mais nessa possibilidade.
O isolamento a que Beira-Mar está sendo submetido no Batalhão de Choque e as informações prestadas pelos presos a fizeram descartar a hipótese. A autoria da ação, no entanto, ainda não foi descoberta. "Existem muitas possibilidades. Desde manobra política até uma imensa boataria que ninguém sabe como começou."


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