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Traficantes deram ordens, dizem presos
SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO
Duas pessoas, das 22 presas entre a manhã de segunda e a madrugada de ontem pela polícia,
contaram ter recebido ordens de
traficantes para mandar fechar o
comércio em bairros do Rio e de
cidades na região metropolitana.
Os dois são dos morros do Borel, na Tijuca, e do Andaraí, ambos na zona norte da cidade. Segundo a polícia, eles contaram
nos depoimentos que as ordens
partiram de traficantes da facção
criminosa Comando Vermelho.
Os nomes dos mandantes não
foram revelados pela Polícia Civil,
que também não divulgou os nomes dos presos. Os demais detidos, segundo a DRE (Delegacia de
Repressão a Entorpecentes), não
tinham envolvimento com o comércio de drogas.
"Eles não sabiam o que estavam
fazendo nem quem tinha dado as
ordens. São uns pés-de-chinelo
que não ocupam nenhum posto
na hierarquia do tráfico", disse a
chefe do setor de investigações da
DRE, inspetora Marina Maggessi.
Dos 22 detidos -dos quais 11
são menores de 18 anos-, apenas
dois já foram liberados, por terem
doenças mentais.
Em seus depoimentos, os dois
contaram ter recebido R$ 20 de
uma pessoa desconhecida para
que percorressem os bairros da
cidade, ordenando o fechamento
do comércio. Eles não souberam
responder se o desconhecido seria traficante.
Outros três disseram ter recebido telefonemas anônimos em
orelhões das favelas onde moram.
"Eles não sabem dizer de quem
partiu a ordem, mas disseram que
se sentiram ameaçados, porque,
durante os telefonemas, a pessoa
dizia que os estava observando e
que, caso a determinação não fosse cumprida, sofreriam represálias", afirmou a investigadora.
Os demais presos, a maioria
moradora de favelas da zona norte, contaram que receberam
orientações, sob a forma de ameaças, de pessoas desconhecidas.
Anteontem, a chefe do setor de
investigações da DRE atribuiu ao
traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, a
onda de ameaças que provocou o
fechamento de comércio, escolas,
bancos e serviços públicos. Ontem, ela disse não acreditar mais
nessa possibilidade.
O isolamento a que Beira-Mar
está sendo submetido no Batalhão de Choque e as informações
prestadas pelos presos a fizeram
descartar a hipótese. A autoria da
ação, no entanto, ainda não foi
descoberta. "Existem muitas possibilidades. Desde manobra política até uma imensa boataria que ninguém sabe como começou."
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