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DANUZA LEÃO
Adolescentes para sempre
Quando era garota, eu e as
amigas e amigos da minha
turma só queríamos uma coisa
na vida: sermos independentes,
para poder sair todas as noites,
chegar tarde em casa e sermos donos de nossas vidas. Morar sós
nem passava pela cabeça: era inimaginável sair da casa dos pais, a
não ser casada; mas, lá no fundo,
era o que começávamos a querer.
Mas trabalhar, ganhar nosso
próprio dinheiro, já nos dava liberdade suficiente para levar a vida como queríamos, e o primeiro
passo para chegar lá, isto é, podermos alugar um conjugado
com uns colchonetes na sala,
umas almofadas, e poder ouvir
um som bem alto; esse era nosso
sonho.
O tempo passou, as coisas mudaram. Os adolescentes de hoje
podem tudo, e a tal ponto que
ninguém quer sair da casa dos
pais. E convenhamos: com toda
razão. Se eles podem chegar em
casa -ou não chegar-, botar
um CD de funk aos berros, trazer
as gatinhas ou os gatinhos para
dormir, ter carro, mesada que dá
para pagar a gasolina, o show de
rock e a pizza, sem precisar assumir uma só das responsabilidades
de um adulto, para que querer ser
independente?
Outro dia um pai me contou a
via-crúcis que foi quando o filho
perdeu o celular -que todos têm,
é claro. Ele passou o dia inteiro
correndo de um lugar para o outro, até porque o menino não podia ficar sem o celular um dia que
fosse. Isso aconteceu num sábado,
e, à noite, esse pobre pai estava
exausto, arrasado, tal o trabalho
que deu. Detalhe: não era a primeira vez que o fato acontecia.
Eu, ingenuamente, sugeri que
deixasse que o próprio menino resolvesse esse tipo de problema sozinho, que, se ele tivesse que passar por isso sem nenhuma ajuda,
dificilmente perderia o celular de
novo.
O pai foi quase agressivo comigo; como não estar perto do seu filhinho -19 aninhos- numa hora dessas? Botei minha viola no
saco e não disse mais nada.
Outro amigo se queixa do seu filho que, com 18 anos, ganhou um
carro; em um ano, já bateu seis
vezes - batidas ligeiras, mas batidas. O garoto garante que,
quando sai para a balada e toma
umas cervejas, dirige melhor do
que nunca, e o pai não sabe o que
fazer. Tive a audácia de sugerir
que seria mais simples e mais seguro não deixar o garoto sair de
carro à noite. O pai foi sincero,
disse que não tinha coragem de
fazer isso e que estava pensando
em duas possibilidades: ou contratar um motorista para levar o
menino às festas, que são várias e
diárias, ou acertava com um rádio-taxi para fazer a ronda noturna com seu filho.
Tudo bem, tudo lindo, quem
não quer ter pais assim? Só que
esses meninos não vão crescer
nunca. E crescer para quê? Para
ter responsabilidades, contas para pagar, ter que providenciar alguém para vir consertar a televisão, o computador, ter comida na
geladeira?
Eu conheço várias moças -e
sobretudo rapazes- que já passaram dos 40, continuam na casa
da mamãe, e, pelo andar da carruagem, não vão sair de lá nunca.
Eles não têm profissão definida,
fazem uns bicos às vezes, e, em
qualquer emergência, os pais estão lá, para ajudar.
Cada um vive como quer, mas
se um adolescente de 18 anos pode
ser muito interessante, ser adolescente aos 50 é triste.
Ou deprimente.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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