São Paulo, sexta-feira, 02 de outubro de 2009

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PF investiga vazamento de provas do Enem

Principal suspeita é de fraude nas etapas de impressão ou de distribuição; nova prova será aplicada em novembro, diz ministro

Maior exame do país seria feito neste fim de semana por mais de 4 milhões de pessoas; consórcio foi contratado para imprimir e distribuir teste

Hans von Manteuffel/Agência O Globo
Estudantes de colégios particulares protestam em Recife contra o cancelamento da prova do Enem; exame começaria amanhã

MARTA SALOMON
LARISSA GUIMARÃES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Ministério da Educação cancelou ontem, a dois dias do início das provas, o Enem, o maior exame já feito no país. A decisão foi tomada depois que foi constatado o vazamento da prova, que seria feita por mais de 4 milhões de estudantes.
Segundo o ministro Fernando Haddad, novas questões serão aplicadas "provavelmente" no início de novembro. O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) substitui o vestibular em 24 universidades federais e é usado como critério de seleção na maioria das instituições públicas e particulares do país.
A Polícia Federal abriu inquérito para identificar os responsáveis pelo vazamento. "O mais plausível é que a fraude tenha ocorrido a partir da impressão", disse o ministro.
A quebra do sigilo do Enem veio a público ontem pelo jornal "O Estado de S. Paulo".
Uma repórter foi procurada na véspera por pessoas dispostas a vender a prova por R$ 500 mil.
Ela leu trechos do exame e alertou o ministério. Após confirmado o vazamento, o MEC decidiu adiar a prova.
O ministério diz que já existem dois modelos de provas, que podem substituir a que foi cancelada. O problema é que as novas datas do Enem podem coincidir com a de outros vestibulares, além de trazer outros problemas de logística.
A elaboração das questões do Enem fica a cargo do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais). A impressão e a distribuição do material é de responsabilidade do Consórcio Nacional de Avaliação e Seleção (Connasel), escolhido por meio de licitação. O consórcio, liderado pela empresa baiana Consultec (Consultoria em Projetos Educacionais e Concursos), é formado também pela Funrio e pelo Instituto Cetro, de São Paulo.
O consórcio contratou para a impressão das provas a Plural Gráfica e Editora, uma parceria entre o Grupo Folha, que edita a Folha, e a Quad Graphics, maior gráfica das Américas.
O consórcio não quis se manifestar e a Plural afirma que não tem nenhuma responsabilidade sobre o vazamento.
Haddad estimou em R$ 35 milhões o prejuízo. Ontem, ele não soube informar quem terá de arcar com o prejuízo, mas já está definido que não haverá nova licitação. "Há duas alternativas: continuar com o consórcio, que foi o único a apresentar propostas, ou fazer contratação emergencial de outra empresa, que enfrenta dificuldades porque não há segundo colocado", disse.
Ontem à noite, o MEC cancelou a reunião com a Consultec. Os representantes da empresa foram até o ministério, mas ficou decidido que o encontro ocorreria hoje.
O contrato com a Consultec foi assinado em 13 de agosto, no valor de R$ 116,9 milhões.
O contrato, divulgado no início da noite pelo MEC, previa entre as obrigações do consórcio "manter, sob rigorosos controle e sigilo, todos os dados, as informações e os documentos, responsabilizando-se por sua adequada guarda e transporte".
À noite, em pronunciamento em rede de televisão, Haddad convidou os estudantes "a aproveitar o tempo e aprimorar seus estudos".

Inquérito
A apuração do caso será rápida, diz o ministro. As pessoas que tentaram vender a prova disseram ao "Estado" que haviam obtido o documento no Inep, em Brasília. Haddad afastou a hipótese de o sigilo da prova ter sido quebrado no instituto, que teria acesso a apenas uma cópia digital do Enem.
O ministro resistiu, porém, a especular sobre os responsáveis pelo vazamento da prova: "É assunto de polícia, a PF vai investigar, fazer o circuito completo, não sou investigador nem delegado".
Segundo informações disponíveis ontem no MEC, o que vazou foi o conjunto impresso de provas que seriam aplicadas neste final de semana, que deveriam ter sido lacradas, por imposição do contrato fechado com o consórcio.
Após a impressão na gráfica, a etapa seguinte era a distribuição para 10 mil locais de provas, em 1.860 municípios do país. "A logística envolveu mais de 400 mil pessoas", disse Reynaldo Fernandes, presidente do Inep.
No momento em que o vazamento foi tornado público, a impressão tinha acabado, mas a distribuição tinha começado nas regiões Norte e Nordeste.


Veja a prova que vazou e o gabarito em
www.folha.com.br/0927418



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