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Direitos de C.B.S. são ignorados, diz OAB
AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local
A família da menina C.B.S. tem o
direito de pedir na Justiça indenização por danos morais contra todos que estão interferindo no seu
direito legal de decidir se faz ou
não o aborto. A começar pelos representantes locais do Ministério
Público e da Igreja Católica.
A afirmação é de Lais Amaral
Rezende de Andrade, presidente
da Comissão da Mulher Advogada
da OAB, Ordem dos Advogados
do Brasil, seção São Paulo.
Entre o momento em que se soube que C.B.S estava grávida de
múltiplos estupros até a hora em
que a Justiça confirmou o aborto,
passaram-se quase dois meses. Se
as autoridades tivessem respeitado o artigo 128 do Código Penal,
que é de 1940, teriam informado à
família que não há necessidade de
alvará. A demora aumentou o desespero da família, pode tornar
impossível o aborto legal e está
pondo a vida de C.B.S. em perigo.
"É preciso deixar claro que, no
caso dessa menina, não havia necessidade de uma decisão da Justiça", afirma a professora Silvia Pimentel, da Faculdade de Direito
da PUC-SP e da Comissão de Cidadania e Reprodução. Promotor,
juiz e advogado agiram como se
não soubessem disso.
Pode-se argumentar que a Justiça agiu dentro do bom senso, mas
o promotor da cidade, Reuder Cavalcanti, emperrou o processo ao
entrar com um "recurso ilegal".
"Ao contrário do que fez, o Ministério Público deveria estar
atuando em defesa da dignidade e
da privacidade da menina, preservando seu direito de decidir com
os pais", afirma Lais de Andrade.
Enquanto representantes da
igreja promovem vigílias e não
deixam a família dormir, o Ministério da Saúde se mantém calado.
Uma simples portaria desse ministério, aguardada há anos, poderia
regulamentar o aborto legal nos
serviços públicos de saúde. Teria
poupado parte do sofrimento das
centenas de C.B.Ss que passam pela mesma violência. "Que país é
esse que precisa de um programa
sensacionalista de TV para pagar
um aborto reconhecido na lei?",
pergunta Jacira Melo, da Rede Nacional Feminista de Saúde.
A tragédia de C.B.S. é o retrato
quase cotidiano da miséria e da
desinformação. Para esse nível do
"porão", não existem direitos,
afirmam representantes das instituições ouvidas.
"Os pobres e desinformados estão sujeitos às pressões daqueles
que tem a informação e a manipulam segundo seus interesses",
afirma Silvia Pimentel.
Os que sabiam dos direitos de
C.B.S. silenciaram ou contaram
sua "própria verdade". "Ao tentar impedir o aborto, os religiosos
estão desrespeitando a dignidade
da pessoa definida na Constituição", diz Silvia Pimentel.
A família de C.B.S. vive com R$
90,00 por mês. O pai está desempregado e a mãe virou cozinheira.
Estão agora ameaçados de perder
a única referência que restou, o lugar em que moram. Manoel Batista Souza, o pai, disse que a vida na
pequena Israelândia ficou insuportável. "Eles já são tão pobres,
são tão despossuídos, e agora nem
sabem se poderão voltar para lá",
afirma Silvia. "Como é possível
pressionar alguém a esse ponto?
Estão ferindo os direitos e garantias dessa família."
Os grupos feministas optaram
por não fazer uma pressão contrária. "Oferecemos solidariedade e
informação. O momento não é de
pressão, mas de cuidados, de delicadeza", afirma Jacira Melo. As
feministas, no entanto, estão se
perguntando como agir diante dos
casos das C.B.S. que se multiplicam. Pois enquanto elas oferecem
solidariedade, a igreja está oferecendo cesta básica e os Ratinhos
estão dando passagem de avião e
apartamento em hotel cinco estrelas. Acabam levando.
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