São Paulo, sábado, 02 de novembro de 2002

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VIOLÊNCIA

Com pistolas e fuzil, presos ameaçaram sete PMs durante dez horas no Rio; diretor do presídio foi exonerado

Bangu enfrenta segunda rebelião em 9 dias

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Presos ligados ao Comando Vermelho protestam sobre caixa-d'água


MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Os presos da Casa de Custódia Jorge Santana, no complexo penitenciário de Bangu (zona oeste do Rio), voltaram a se rebelar ontem. Eles fizeram sete policiais militares reféns e os mantiveram amarrados em botijões de gás e com armas apontadas para a cabeça durante dez horas.
Foi o segundo motim na unidade em nove dias. Segundo a PM, a rebelião começou por volta das 5h, após uma frustrada tentativa de fuga em massa. Armados com pistolas e pelo menos um fuzil, os detentos renderam sete PMs e tentaram fugir pela porta da frente da unidade. Seis escaparam.
A partir daí iniciou-se um tiroteio. Três detentos foram baleados e um PM fraturou uma perna. Um fugitivo foi recapturado.
Os presos ocuparam o pátio e o telhado da prisão. Eles exibiam bandeiras vermelhas e faziam com as mãos as iniciais da facção criminosa Comando Vermelho. Dois reféns foram espancados pelos presos e sofreram escoriações.
Cerca de 150 PMs do Bope (Batalhão de Operações Especiais), do Getam (Grupamento Especial Tático-Móvel) e do 14º Batalhão da PM ocuparam o complexo. O dirigível da Secretaria de Segurança Pública também participou da operação. Uma equipe do Bope negociou com os presos, que exigiam a mudança da empresa que fornece comida à unidade e a transferência dos condenados. Um refém foi libertado ainda pela manhã. A PM disse que não atenderá as reclamações dos presos.
Nas negociações, os presos usavam celulares, apesar de na quarta ter sido feita uma operação pente-fino, apreendendo nove aparelhos. A rebelião foi encerrada às 15h, 20 minutos após um carro do Bope ter entrado na unidade. Os rebelados entregaram as armas e libertaram os reféns. Após o fim do motim, a polícia vistoriou as celas, mas nada encontrou.
O comandante-geral da PM, coronel Francisco Braz, disse que tudo começou quando um preso, com um fuzil, rendeu um policial que dormia em uma guarita. Daí, os demais policiais foram rendidos pelos presos. Todos dormiam, segundo Braz. Dez PMs foram detidos e autuados sob acusação de abandono de serviço.
Braz afirmou que os presos usaram armas que estavam com os PMs rendidos. Seriam quatro pistolas, além do fuzil. Também teriam usado celulares dos policiais.
Os feridos foram levados ao hospital. Segundo os médicos, eles não correm risco de morte.
O diretor da casa de custódia, o tenente Licildo Amichi Tebaldi, foi exonerado do cargo pelo comandante da PM, que nomeou o major Ari Santos.

Governo
A governadora Benedita da Silva (PT) relacionou os últimos episódios de rebeliões em presídios do Estado do Rio à sua política de segurança, que, segundo ela, vem impedindo fugas e entrada de armas e drogas em penitenciárias.
"Como temos enfrentado de forma mais eficiente a entrada de armamentos e de drogas, os presos estão frustrados e acabam tomando medidas desesperadas."
Ontem, Benedita conversou com Braz, autorizando-o, se fosse necessário, a invadir a casa de custódia. A rebelião acabou antes que a medida precisasse ser tomada.
As 250 presas na carceragem feminina da Polinter (Polícia Interestadual), no Grajaú, promoveram ontem uma rebelião, seguida de tentativa de fuga, frustrada pela PM. Após o motim, elas foram transferidas para Bangu.


Colaborou TALITA FIGUEIREDO, da Sucursal do Rio

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