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São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2003

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Associação das casas de jogos diz defender projeto que restringe acesso de menores e critica excessos dos clientes

Entidade quer atenção à saúde do jogador

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Adolescentes jogam em uma lan house de uma das principais redes de casas de jogos do país


DA REPORTAGEM LOCAL

A Associação Brasileira de Lan Houses defende que as cerca de 3.000 empresas do setor no país preocupem-se com a saúde das crianças e adolescentes que frequentam os empreendimentos.
"Tudo em excesso faz mal. O uso do computador também deve ser limitado", afirma Alexandre Hlebanja, presidente da entidade.
Nas duas principais redes de lojas do país, a Cyber Games e a Monkey, clientes ficam em média duas horas. Em ambas, o preço médio é de R$ 3 por hora. Nos fins de semana as lan houses costumam fazer promoções. Cobram um preço fixo para o usuário passar a noite inteira no local.
Lan houses são lojas que oferecem diversos computadores, conectados em rede, para jogos em grupos ou consultas à internet. A palavra lan é a sigla em inglês para "local area network" (rede local de computadores).
Levantamentos informais do setor apontavam a existência de cerca de 500 casas desse tipo até o ano passado. O total de 3.000 apresentado hoje pela entidade também é estimado, já que essas casas não têm um registro específico nas juntas comerciais. Em São Paulo, há expansão significativa para bairros da periferia. Já há até um empreendimento imobiliário que coloca, entre as atrações do edifício, uma lan house.
A associação aponta como modelo um projeto do vereador tucano William Woo (PSDB) que tramita na Câmara Municipal de São Paulo. A proposta é que menores sejam proibidos de usar as máquinas por mais de três horas ininterruptas por causa dos riscos à saúde, além da obrigatoriedade de iluminação natural ou artificial adequada e móveis "adaptáveis".
Como o setor não tem regulamentação nem fiscalização, diz Hlebanja, ocorrem incoerências como o uso de mesas de vidro para suportar as máquinas.
O projeto que tramita em São Paulo fala em risco de vertigem, alterações visuais, perda de consciência e convulsões para quem abusar do uso. O que soa como exagero para especialistas. Isso pode acontecer com pessoas que já apresentem algum distúrbio de saúde e realmente extrapolem. Há relato sobre a morte de um jogador na Coréia do Sul após 86 horas ininterruptas de disputa.
O estudante Gustavo, 19, já passou 72 horas dentro de uma lan house. Na época, ele tinha acabado de completar 16 anos. "Quando você começa a jogar, fica viciado e não consegue mais parar." Para não dormir, fumava e bebia guaraná. Quando voltava para casa, sentia dor de cabeça e incômodo nos olhos. Hoje, joga "apenas" 36 horas a cada fim de semana.
Segundo o neuropsicólogo Daniel Fuentes, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, não há evidências de que os jogos causem "dependência". "O que há é um comportamento excessivo." De acordo com ele, para detectar se os jogos são prejudiciais, os pais devem observar não só o desempenho na escola, mas também as relações pessoais. "É preciso ver se o jovem regula a vida em torno dos jogos."
Fuentes afirma que não há como dizer que quantidade de horas pode ser prejudicial. "Para algumas crianças pode ser uma hora por dia. Para outras, isso pode não trazer impacto algum."
Em geral, diz, os jogos causam agitação psicomotora e podem trazer problemas psiquiátricos à tona. Mas não há provas de que causem esses problemas. "Especialistas defendem a psicoterapia como forma de reduzir as horas de jogo", diz Maria José O'Neill, presidente do Instituto Nacional de Prevenção às LER/Dort (lesão por esforço repetitivo).

Juízes e pais
Preocupados com o excesso de tempo que jovens passam nas lan houses e, principalmente, com o livre acesso à internet e a jogos violentos, juízes da infância e juventude têm usado o poder que o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) lhes confere para regulamentar por conta própria esses empreendimentos.
Em Curitiba, uma decisão da Justiça proíbe que crianças com menos de 12 anos frequentem as casas sem os pais. A medida surgiu após os responsáveis fazerem reclamações, por exemplo, sobre casas que deixavam crianças cansadas dormirem sobre o teclado.
"As casas de jogos eletrônicos sempre foram uma preocupação dos juízes. Mas e os pais, onde estão? O primeiro fiscal é o pai", diz o presidente da Associação Brasileira de Magistrados da Infância e Juventude, Rodrigo Enout.
(FABIANE LEITE E AMARÍLIS LAGE)


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