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Atrasos fazem o tempo "parar" em Congonhas
Apesar da aglomeração, passageiros pareciam conformados com a longa espera
Delegacia do aeroporto não registrou nenhuma ocorrência ontem; posto médico atendeu apenas três casos de rotina
LAURA CAPRIGLIONE
REGIANE SOARES
DA REPORTAGEM LOCAL
Entrada do saguão de embarque do aeroporto de Congonhas, em São Paulo: meia centena de pessoas estão paradas,
os olhos postos em duas televisões de plasma com a programação dos vôos. A cena até parece normal, mas não é.
Na tela, o vôo Gol para Belo
Horizonte planejado para as
15h50 aparece às 19h30 como
confirmado para o horário das
15h50 -mas o avião ainda está
em terra. O vôo das 17h25 para
o Rio de Janeiro pede (às
19h30) embarque imediato, como se esse embarque estivesse
acontecendo pontualmente às
17h25. O tempo ficou louco em
Congonhas. A maioria dos vôos
está atrasada, mas, surpresa,
reina uma calma estranha e fatalista no ambiente. Todos sabem que, se não estão atrasados, ficarão. E que não há nada
que se possa fazer.
O aeroporto passou o dia lotado. Ao feriado, que fez aumentar em 10% o número de
vôos (de 630 para 693), com o
conseqüente aumento de gente
embarcando e desembarcando,
somou-se o atraso imposto a
decolagens e aterrissagens pela
operação-padrão dos controladores de vôo. A bagunça já
grande piorou com a chuvarada
que despencou sobre São Paulo
às 16h20 e que fechou o aeroporto por 25 minutos.
A soma de todos esses fatores
implicou atrasos de duas a três
horas em média. Mas houve casos de passageiros que marcaram seis horas de retardo. Foi o
que aconteceu com os ocupantes do vôo Gol proveniente de
Macapá, com escalas em Belém
e Brasília. A chegada estava
prevista para as 8h30, mas o
avião só aterrissou às 14h15 em
Congonhas. Ruim? Os passageiros ainda tiveram de esperar
por mais uma hora até conseguir resgatar a bagagem.
No check-in da Gol, como se
os problemas não bastassem, o
final do dia foi marcado por um
problema no sistema de informática -para confirmar uma
única informação, levava de um
a três minutos. Resultado: o saguão tornou-se intransitável, a
fila única estendendo-se por 60
metros que insistiam em não
andar. E, como era um retrato
perfeito do caos, as câmaras de
TV, iluminação e técnicos ajudaram a congestionar ainda
mais o ambiente.
O professor de engenharia
mecânica Alisson Rocha Machado, da Universidade Federal de Uberlândia, esperava
embarcar às 14h40. Três horas
depois do programado, ele tomava café com dois colegas no
bar do aeroporto, sem previsão
de quando voaria. Bem humorado, disse que não pensava em
processar ninguém pela perda
de tempo: "A gente [os docentes das federais] também faz
greves bem demoradas".
A farmacêutica Maria Inez
Poletto, de Belo Horizonte, tinha vôo marcado para as 17h57.
Já sabia que o prazo não seria
cumprido, mas tudo bem: "Está
na hora de resolver a situação
dos controladores. Eles tomaram um susto com o acidente
da Gol e resolveram só cuidar
dos vôos que de fato conseguem controlar. Isso é bom".
A Infraero diz que, até as 18h,
278 vôos tinham se atrasado.
Mas o critério dela é tolerante:
só considera atrasados os vôos
retardados por mais de 40 minutos. Às 17h55, a dificuldade
era entender o que significava a
linguagem cifrada dos painéis
de avisos. De 25 vôos arrolados
no painel, um estava em "embarque imediato", dois constavam como "confirmados". Em
oito, os passageiros eram orientados: "procure a companhia".
Catorze vinham com a evasiva:
vôo "a confirmar".
A maioria das pessoas, ao fazer o check-in, por via das dúvidas, já se dirigia à sala de embarque que, por isso, ficou lotada. O jornalista Cadu Cortez,
que tinha passagem marcada
para Brasília às 17h20 e até as
20h não havia embarcado, contou que, na lanchonete, a comida havia acabado. Que não existia mais lugar para sentar. Que
o ar-condicionado não dava
conta de refrigerar o excesso de
calor humano.
"Por causa do reposicionamento de aeronaves, o vôo X foi
transferido para o portão Y",
era um aviso recorrente segundo o jornalista, o que obrigou os
passageiros a pequenas maratonas entre andares e alas do
aeroporto, depois da longa espera. "Mas está todo mundo
calmo, conformado", disse.
"Se tivesse acontecido alguma desinteligência, teria vindo
parar aqui -com certeza. E não
veio", contou o policial da delegacia do aeroporto. Segundo
ele, os policiais civis não registraram nenhuma ocorrência
ontem. "Nenhuma briga, nenhuma desinteligência. Nenhum roubo de laptop. Nada."
No Posto de Primeiros Socorros do aeroporto, a enfermeira batia papo com um colega. Só três casos, de pressão alta, foram atendidos -o normal
de todo dia. "Gente que esqueceu de tomar o remédio, sabe?
É um milagre essa capacidade
humana de se adaptar a qualquer circunstância, não é?"
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