São Paulo, quinta-feira, 02 de novembro de 2006

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Em Congonhas, temor é com rádios piratas

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

É véspera de feriado, a chuva fecha a pista de Congonhas e, depois que ela reabre, a mudança de vento obriga os pilotos a fazer percursos diferentes no pouso. Os controladores de tráfego em Brasília mantêm a operação-padrão -a demora para que autorizem a saída de São Paulo chega a triplicar-, aumentando atrasos nos vôos, as filas de passageiros no check-in e de aviões no céu e na pista.
O clima de confusão só parece não chegar à torre nem ao centro que monitora a aproximação de aviões no aeroporto mais movimentado do país, onde a Folha esteve ontem por três horas, das 17h30 às 20h30.
Apesar do dia agitado, admitido pelos operadores do tráfego aéreo, um leigo pensaria reinar uma aparente calmaria.
O fato de alguns aviões terem de arremeter (pousar e subir em seguida) por algum imprevisto de visibilidade é visto com naturalidade. "É muito comum, por segurança", diz Delany Lopes, tenente-coronel.
Quem entrava na sala do APP-SP (onde os controladores mantêm contato com os aviões até a aproximação do aeroporto, quando a responsabilidade é repassada à torre) poderia imaginar inclusive que se tratava de uma madrugada, até pela quantidade de equipamentos e cadeiras sobrando.
O espaço tem estrutura para abrigar 14 setores, mas há gente trabalhando só em sete. O excesso, alegam os oficiais, serve para uma expectativa futura, por não ser possível comprar aparelhos de uma hora para a outra. Não podem ficar obsoletos?, questiona a Folha. "Por outro lado, se houver uma emergência, já estamos prontos para atender", diz Lopes.
O sistema, que chega a agrupar 190 controladores em Congonhas, trabalhava nesta semana desfalcado de seis, transferidos para Brasília. Os oficiais falavam na possibilidade de reforço, mas negam urgência.
Na sala onde olham pontinhos e siglas nos monitores, como se fosse uma tela de video-game, os controladores de vôo -diante de seus chefes- não reclamam de quase nada.
Ontem, ninguém monitorava mais do que a limitação de sete aviões para aquela região.
O que atrapalha mesmo e é motivo de preocupação generalizada, afirmam abertamente, é a interferência de celulares clandestinos e rádios piratas. O operador vai se comunicar com um piloto e a conversa fica truncada pelo som de forró, axé ou de pregações religiosas no meio de uma ligação. No espaço vazio em que trabalham, "dá para fazer um baile" com a música, brinca um deles.
O problema ocorre porque as rádios comunitárias invadem a freqüência do tráfego aéreo. A Aeronáutica dá os alertas para a Anatel, mas as ações para controlar a interferência são sempre mais lentas do que a expansão da clandestinidade. "Muitas podem ter até boa intenção, mas atrapalha de verdade", afirma Bruno Barbosa, que é tenente do APP-SP.
Num dos poucos momentos de agitação visível ontem, a motivação não estava relacionada à turbulência dos últimos dias. Um supervisor dá orientações enfáticas por causa do "sumiço" de um helicóptero que deveria se comunicar em Bauru. Alívio minutos depois: a aeronave havia pousado em São José dos Campos, sem avisar. O piloto seria multado, dizem.


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