São Paulo, quinta-feira, 02 de novembro de 2006

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Di Rissio deixa hospital em carro "disfarçado"

Polícia manteve veículo da corporação no estacionamento do local e usou um outro, descaracterizado, para retirar o delegado

Ex-presidente da associação dos delegados do Estado, ele foi denunciado novamente ontem sob a acusação de corrupção passiva


ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de passar 14 dias internado em "observação", o delegado André Luiz Martins Di Rissio Barbosa deixou ontem, pela porta dos fundos, sem algemas e em um carro sem identificação da polícia, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, no Paraíso (zona sul de São Paulo), e voltou para o Presídio Especial da Polícia Civil, no Carandiru (zona norte de São Paulo).
Um carro da Corregedoria, que estava no estacionamento do hospital com dois policiais para escoltá-lo até a prisão, foi usado para despistar a imprensa e deixou de cumpriu sua função função original.
No início da semana, conforme informou a Folha, a Procuradoria da República em Campinas (95 km da capital) havia pedido ao Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) que examinasse o prontuário médico do delegado Di Rissio para determinar se a internação se fazia necessária ou não.

Novas denúncias
Ontem, assim que deixou o hospital, o delegado foi informado de que também havia sido denunciado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), do Ministério Público Estadual, à Justiça sob a acusação de ter cometido os crimes de corrupção passiva e advocacia administrativa -patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário.
Com base em grampos telefônicos autorizados pela Justiça Federal, dentro da Operação 14 Bis, Di Rissio havia sido preso pela segunda vez no dia 19 de outubro, acusado de falsidade ideológica, uso de documentos falsos, descaminho, contrabando e corrupção ativa.
A prisão ocorreu quando ele era interrogado na Corregedoria da Polícia Civil, mas o delegado ficou pouco no presídio da corporação e, logo em seguida, precisou ser levado ao hospital para ser internado.
Ex-presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, Di Rissio já havia sido preso em junho e denunciado por crime contra o sistema financeiro.
Depois de conseguir um habeas corpus no STF (Supremo Tribunal Federal), o delegado foi solto pela primeira vez em 11 de outubro último.
De acordo com a Procuradoria da República, ele integrava uma quadrilha que liberava ilegalmente mercadorias importadas no aeroporto de Viracopos, em Campinas. O delegado, por meio de uma carta à associação, já negou todas as acusações feitas contra ele.

Delegado do Deic
Ao lado de Di Rissio, o Gaeco também denunciou ontem à Justiça o delegado Fábio Pinheiro Lopes, da 4ª Delegacia do Patrimônio, do Deic (Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado). Ele é acusado de prevaricação -retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.
De acordo com a denúncia do Gaeco, o delegado Lopes, a pedido de Di Rissio, deixou de investigar uma pessoa identificada apenas como Fabrício, que era responsável pela venda de computadores e de outros produtos de informática adquiridos do empresário Joseph Hanna Doumith, o Turco.
No dia 2 de setembro de 2005, Di Rissio foi flagrado pelos grampos da Operação 14 Bis ao telefone, quando tentava liberar junto a Receita Federal do Paraná um caminhão que havia sido apreendido com materiais de informática de Turco.
Para impressionar o fiscal Alexandre de Souza, com quem tentou em vão a liberação do material apreendido, Di Rissio disse estar lotado na Delegacia Geral de Polícia e "ter sido retirado de uma reunião com o Secretário da Segurança Pública de São Paulo [Saulo de Castro Abreu Filho] para tratar do assunto abordado ao telefone." Ele mentiu, de acordo com informações do Gaeco, pois não estava com o secretário Saulo.
Uma das outras denúncias contra Di Rissio diz respeito a uma intervenção dele, no dia 14 de setembro de 2005, para impedir que policiais da 2º DIG (Delegacia de Investigações Gerais), também do Deic, não apreendessem garrafas de uísque falsificadas que estavam à venda na casa noturna Bamboa, em Pinheiros (zona oeste de São Paulo).
Em várias ligações que foram grampeadas, o acusado é flagrado negociando o pagamento pela sua ação com os representantes da boate. De acordo com o Gaeco, Di Rissio recebeu como gratificação pela não apreensão dos uísques falsos um conserto de R$ 9.000 em um dos seus automóveis.


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