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Di Rissio deixa hospital em carro "disfarçado"
Polícia manteve veículo da corporação no estacionamento do local e usou um outro, descaracterizado, para retirar o delegado
Ex-presidente da associação dos delegados do Estado, ele foi denunciado novamente ontem sob a acusação de corrupção passiva
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de passar 14 dias internado em "observação", o delegado André Luiz Martins Di
Rissio Barbosa deixou ontem,
pela porta dos fundos, sem algemas e em um carro sem identificação da polícia, o Hospital
Alemão Oswaldo Cruz, no Paraíso (zona sul de São Paulo), e
voltou para o Presídio Especial
da Polícia Civil, no Carandiru
(zona norte de São Paulo).
Um carro da Corregedoria,
que estava no estacionamento
do hospital com dois policiais
para escoltá-lo até a prisão, foi
usado para despistar a imprensa e deixou de cumpriu sua função função original.
No início da semana, conforme informou a Folha, a Procuradoria da República em Campinas (95 km da capital) havia
pedido ao Cremesp (Conselho
Regional de Medicina do Estado de São Paulo) que examinasse o prontuário médico do
delegado Di Rissio para determinar se a internação se fazia
necessária ou não.
Novas denúncias
Ontem, assim que deixou o
hospital, o delegado foi informado de que também havia sido denunciado pelo Gaeco
(Grupo de Atuação Especial de
Repressão ao Crime Organizado), do Ministério Público Estadual, à Justiça sob a acusação
de ter cometido os crimes de
corrupção passiva e advocacia
administrativa -patrocinar,
direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se
da qualidade de funcionário.
Com base em grampos telefônicos autorizados pela Justiça Federal, dentro da Operação
14 Bis, Di Rissio havia sido preso pela segunda vez no dia 19 de
outubro, acusado de falsidade
ideológica, uso de documentos
falsos, descaminho, contrabando e corrupção ativa.
A prisão ocorreu quando ele
era interrogado na Corregedoria da Polícia Civil, mas o delegado ficou pouco no presídio da
corporação e, logo em seguida,
precisou ser levado ao hospital
para ser internado.
Ex-presidente da Associação
dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, Di Rissio já
havia sido preso em junho e denunciado por crime contra o
sistema financeiro.
Depois de conseguir um habeas corpus no STF (Supremo
Tribunal Federal), o delegado
foi solto pela primeira vez em 11
de outubro último.
De acordo com a Procuradoria da República, ele integrava
uma quadrilha que liberava ilegalmente mercadorias importadas no aeroporto de Viracopos, em Campinas. O delegado,
por meio de uma carta à associação, já negou todas as acusações feitas contra ele.
Delegado do Deic
Ao lado de Di Rissio, o Gaeco
também denunciou ontem à
Justiça o delegado Fábio Pinheiro Lopes, da 4ª Delegacia
do Patrimônio, do Deic (Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado). Ele é
acusado de prevaricação -retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou
praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.
De acordo com a denúncia do
Gaeco, o delegado Lopes, a pedido de Di Rissio, deixou de investigar uma pessoa identificada apenas como Fabrício, que
era responsável pela venda de
computadores e de outros produtos de informática adquiridos do empresário Joseph
Hanna Doumith, o Turco.
No dia 2 de setembro de
2005, Di Rissio foi flagrado pelos grampos da Operação 14 Bis
ao telefone, quando tentava liberar junto a Receita Federal
do Paraná um caminhão que
havia sido apreendido com materiais de informática de Turco.
Para impressionar o fiscal
Alexandre de Souza, com quem
tentou em vão a liberação do
material apreendido, Di Rissio
disse estar lotado na Delegacia
Geral de Polícia e "ter sido retirado de uma reunião com o Secretário da Segurança Pública
de São Paulo [Saulo de Castro
Abreu Filho] para tratar do assunto abordado ao telefone."
Ele mentiu, de acordo com informações do Gaeco, pois não
estava com o secretário Saulo.
Uma das outras denúncias
contra Di Rissio diz respeito a
uma intervenção dele, no dia 14
de setembro de 2005, para impedir que policiais da 2º DIG
(Delegacia de Investigações
Gerais), também do Deic, não
apreendessem garrafas de uísque falsificadas que estavam à
venda na casa noturna Bamboa, em Pinheiros (zona oeste
de São Paulo).
Em várias ligações que foram
grampeadas, o acusado é flagrado negociando o pagamento
pela sua ação com os representantes da boate. De acordo com
o Gaeco, Di Rissio recebeu como gratificação pela não
apreensão dos uísques falsos
um conserto de R$ 9.000 em
um dos seus automóveis.
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