São Paulo, domingo, 02 de dezembro de 2001

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OS DONOS DO ENSINO

João Uchôa Cavalcanti Netto, proprietário da universidade, se diz pessoa não muito interessada em educação

Na Estácio, tese é "inutilidade pomposa"

DA SUCURSAL DO RIO

O juiz aposentado João Uchôa Cavalcanti Netto, 68, raramente dá entrevistas. A julgar pela repercussão negativa da última, publicada neste mês no jornal carioca "Folha Dirigida", a decisão é mais do que acertada. Suas declarações repercutiram tão mal entre especialistas do MEC e a comunidade acadêmica e científica que há quem esteja trabalhando para convencer os integrantes do Conselho Nacional de Educação a cobrar explicações do fundador da Universidade Estácio de Sá.
Na entrevista, ao ser questionado sobre a razão de as universidades privadas não se destacarem em pesquisa, ele respondeu: "As pesquisas não valem nada. A gente olha todo mundo fazendo tese, pesquisa e tal, mas não tem nenhuma sendo aproveitada. É uma inutilidade pomposa, é uma perda de tempo federal. As faculdades não fazem pesquisa porque não querem jogar dinheiro fora".
Ressalva que a Estácio faz só pesquisa útil, "que pode ser aproveitada pelo homem comum".
Em outro ponto, Uchôa afirma não ser "uma pessoa muito interessada em educação". Diz: "Eu sou interessado na Estácio de Sá, isso é que importa. Estou interessado no Brasil? Não. Na cidadania? Também não. Na solidariedade? Também não. Estou interessado na Estácio de Sá... ...uma instituição que quer dar o melhor ensino possível às pessoas".
Cita o banqueiro Amador Aguiar (fundador do Bradesco, morto em 1991) como exemplo de que a educação nem sempre é importante. "A pessoa pode ser analfabeta e ser muito expressiva, inteligente, bem-sucedida. Pode ser um pós-graduado e ser uma besta completa. Não acho que seja necessário esse estudo todo. A educação mínima ofertada faz falta, mas não para todos. Trabalhei com o Amador Aguiar, que fez o Bradesco e não tinha o segundo grau. Para ele, não fez falta."
Diz ainda que estudar deve ser uma opção: "Se você chega ao Nordeste, em certas regiões, tem um menino trabalhando com 12 anos... ...aí vem o cara com a educação e diz que ele tem que ir para o colégio. Não tem que ir para o colégio, não. Ele pode não ir e estar muito bem".
A Folha entrou em contato com Uchôa para que explicasse melhor suas posições, mas o empresário disse que preferia não falar.
A Estácio provoca polêmica entre seus concorrentes desde que iniciou seu processo de crescimento. A instituição é acusada de oferecer cursos baratos (algumas mensalidades inferiores a R$ 150) para acabar com a concorrência. Outra acusação é a de colocar espiões que vão aos campi da concorrência para oferecer descontos para alunos se transferirem.
O diretor de integração social da Estácio, Marcelo Campos, nega a acusação. "Oferecemos cursos baratos sem perda de qualidade. A acusação de que colocamos espiões para tirar alunos de outras universidades é falsa. Nós é que fomos vítimas dessa prática", diz.
Campos afirma que a Estácio cresceu graças a seu pioneirismo. "Foi a natureza que levou a gente. Estamos crescendo com solidez, por causa da demanda e de oportunidades. Colocamos o preço e a qualidade sempre em primeiro lugar. Nosso crescimento no futuro vai acontecer por causa de nossa competência", diz Campos.
A universidade é reconhecida pelo seu projeto de marketing agressivo. Uma das estratégias mais bem-sucedidas é a oferta de cursos gratuitos de curta duração. Para um mês de aula, é cobrada uma taxa de R$ 15 para o certificado. Dessa maneira, a instituição consegue cadastrar alunos interessados em estudar na Estácio.
Outra característica da Estácio é o crescimento em campi espalhados pelo Estado do Rio. São 30 ao todo. A instituição costuma fazer convênios com colégios e adapta os espaços para oferecer seus cursos. Há instalações da Estácio até dentro de parques de diversão, como o Terra Encantada, na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio).



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