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OS DONOS DO ENSINO
João Uchôa Cavalcanti Netto, proprietário da universidade, se diz pessoa não muito interessada em educação
Na Estácio, tese é "inutilidade pomposa"
DA SUCURSAL DO RIO
O juiz aposentado João Uchôa
Cavalcanti Netto, 68, raramente
dá entrevistas. A julgar pela repercussão negativa da última, publicada neste mês no jornal carioca
"Folha Dirigida", a decisão é mais
do que acertada. Suas declarações
repercutiram tão mal entre especialistas do MEC e a comunidade
acadêmica e científica que há
quem esteja trabalhando para
convencer os integrantes do Conselho Nacional de Educação a cobrar explicações do fundador da
Universidade Estácio de Sá.
Na entrevista, ao ser questionado sobre a razão de as universidades privadas não se destacarem
em pesquisa, ele respondeu: "As
pesquisas não valem nada. A gente olha todo mundo fazendo tese,
pesquisa e tal, mas não tem nenhuma sendo aproveitada. É uma
inutilidade pomposa, é uma perda de tempo federal. As faculdades não fazem pesquisa porque
não querem jogar dinheiro fora".
Ressalva que a Estácio faz só
pesquisa útil, "que pode ser aproveitada pelo homem comum".
Em outro ponto, Uchôa afirma
não ser "uma pessoa muito interessada em educação". Diz: "Eu
sou interessado na Estácio de Sá,
isso é que importa. Estou interessado no Brasil? Não. Na cidadania? Também não. Na solidariedade? Também não. Estou interessado na Estácio de Sá... ...uma
instituição que quer dar o melhor
ensino possível às pessoas".
Cita o banqueiro Amador
Aguiar (fundador do Bradesco,
morto em 1991) como exemplo de
que a educação nem sempre é importante. "A pessoa pode ser
analfabeta e ser muito expressiva,
inteligente, bem-sucedida. Pode
ser um pós-graduado e ser uma
besta completa. Não acho que seja
necessário esse estudo todo. A
educação mínima ofertada faz falta, mas não para todos. Trabalhei
com o Amador Aguiar, que fez o
Bradesco e não tinha o segundo
grau. Para ele, não fez falta."
Diz ainda que estudar deve ser
uma opção: "Se você chega ao
Nordeste, em certas regiões, tem
um menino trabalhando com 12
anos... ...aí vem o cara com a educação e diz que ele tem que ir para
o colégio. Não tem que ir para o
colégio, não. Ele pode não ir e estar muito bem".
A Folha entrou em contato com
Uchôa para que explicasse melhor suas posições, mas o empresário disse que preferia não falar.
A Estácio provoca polêmica entre seus concorrentes desde que
iniciou seu processo de crescimento. A instituição é acusada de
oferecer cursos baratos (algumas
mensalidades inferiores a R$ 150)
para acabar com a concorrência.
Outra acusação é a de colocar espiões que vão aos campi da concorrência para oferecer descontos
para alunos se transferirem.
O diretor de integração social da
Estácio, Marcelo Campos, nega a
acusação. "Oferecemos cursos
baratos sem perda de qualidade.
A acusação de que colocamos espiões para tirar alunos de outras
universidades é falsa. Nós é que
fomos vítimas dessa prática", diz.
Campos afirma que a Estácio
cresceu graças a seu pioneirismo.
"Foi a natureza que levou a gente.
Estamos crescendo com solidez,
por causa da demanda e de oportunidades. Colocamos o preço e a
qualidade sempre em primeiro
lugar. Nosso crescimento no futuro vai acontecer por causa de nossa competência", diz Campos.
A universidade é reconhecida
pelo seu projeto de marketing
agressivo. Uma das estratégias
mais bem-sucedidas é a oferta de
cursos gratuitos de curta duração.
Para um mês de aula, é cobrada
uma taxa de R$ 15 para o certificado. Dessa maneira, a instituição
consegue cadastrar alunos interessados em estudar na Estácio.
Outra característica da Estácio é
o crescimento em campi espalhados pelo Estado do Rio. São 30 ao
todo. A instituição costuma fazer
convênios com colégios e adapta
os espaços para oferecer seus cursos. Há instalações da Estácio até
dentro de parques de diversão,
como o Terra Encantada, na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio).
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