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DANUZA LEÃO
Amor de mãe
A primeira coisa que se espera de um amor é que ele
dure para sempre. Com ou sem
casamento -de preferência
com-, num amor de verdade se
colocam todas as fichas para que
ele seja, no mínimo, eterno.
Mas existe um tipo de amor que
já nasce predestinado à separação: é o amor de uma mãe por um
filho. Elas sabem que um dia ele
vai se apaixonar por uma mulher
com a qual terão não só de conviver como de gostar -por amor a
ele. Faz sentido? Claro que não.
Durante anos, a figura mais importante da vida de um menino é
a mãe; se fosse possível, ele gostaria que ela jamais saísse de perto,
dia e noite, só tendo olhos para
ele.
Só que o tempo passa, as coisas
mudam, um dia aparece a primeira namorada, e a mãe
-aquela que era a única sobre a
terra- passa a ocupar um lugar
secundário na escala de afetos do
seu amado filho.
Se o namoro está indo bem, ele
não pára em casa e mal tem tempo de trocar um alô -conversar,
nem pensar. Se o namoro vai mal,
pior ainda: ele se tranca no quarto e não quer saber de falar com
ninguém, muito menos com ela, a
mãe, a culpada, já que desde o
primeiro dia foi contra o namoro
(contra esse e contra todos, aliás).
Morta de ciúmes, a mãe observa
como ele trata bem a namorada
-todas elas; é para ela o melhor
pedaço da galinha, a última empadinha da travessa, a cereja do
bolo e, se a mãe se distrair, ele pede, com olhos doces, aquele brinco
de pérola verdadeira que ela ganhou quando fez 15 anos para dar
à sua eleita. E o pior: ela é bem capaz de dar. A cada atenção do filho para com a namorada, a cada
"meu amor", a mãe sente uma
punhalada no coração, mas tem
de sorrir e fingir que está muito
feliz. Francamente, amor de mãe
é normal?
Todo filho, quando fala ao telefone com a mãe, termina sempre
com um pequeno comentário do
tipo "ai, como minha mãe fala"
-a não ser que seja um assunto
do interesse dele, claro. Você já
ouviu falar de algum que tenha
ido a um restaurante novo, comido uma coisa bem gostosa e dito
"vou trazer minha mãe aqui, ela
vai adorar"? Se dissesse, iria até
pegar mal com os companheiros
de mesa; mas isso se dissesse, o
que nunca aconteceu na história
da civilização.
As mães são delirantes e, quando estão em crise -e sempre estão-, pensam nas coisas mais
absurdas, como por exemplo: se
estivessem no Titanic e, no bote
salva-vidas, só coubessem duas
pessoas, é claro que ele salvaria a
namorada e a deixaria morrer
afogada. Essa mãe, no dia de uma
grande briga -por ciúmes, claro-, disse ao filho que tinha certeza de que ele faria isso; ele ouviu
estarrecido, mas não foi capaz de
negar. Sinal evidente de que ela
tinha razão.
Mas sejamos justas: alguns filhos são bem legais e às vezes telefonam para perguntar se podem
aparecer para jantar. A mãe fica
toda feliz, manda fazer aquele
prato que ele adora e, no fundo, lá
no fundo do coração, pensa, já
animada: "Será que eles brigaram?" Afinal, no meio da semana, ele ir jantar sozinho deve querer dizer alguma coisa. Bota um
vestido bem bonito, se arruma do
jeito que sabe que ele gosta, mas
não recebe um só elogio. E filho
por acaso elogia mãe?
Ela oferece um drinque, ele prefere uma Coca-Cola, janta com a
cabeça nas nuvens e, 12 minutos
depois do café, o celular toca. É
ela, a outra, dizendo que o chá-de-bebê acabou e que ele já pode
ir buscá-la.
O mundo é mesmo muito cruel.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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