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RETRATOS DO BRASIL
Expectativa de vida chega aos 71 anos, o que aumenta exigências para aposentadoria sem redução de benefício
Brasileiro vive mais e terá de trabalhar mais
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pela primeira vez na história, a
expectativa de vida do brasileiro
chegou aos 71 anos, segundo estimativa da Tábua de Mortalidade
de 2002, divulgada ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O lado ruim dessa notícia é que,
a partir de 2004, o brasileiro precisará trabalhar por mais tempo para poder se aposentar sem perdas
no valor do seu benefício. O aumento da expectativa de vida elevou em cerca de dois anos a idade
ou o tempo de contribuição no
momento da aposentadoria.
Segundo o secretário de Previdência Social, Helmut Schwarzer,
atualmente o trabalhador do setor
privado precisa atingir 60 anos de
idade e 35 anos de contribuição ao
INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) para poder se aposentar
sem perdas no valor do benefício.
Essa estimativa é uma média e
abrange homens e mulheres. É
preciso calcular cada caso individualmente.
Com a nova expectativa de vida,
o mesmo trabalhador terá duas
opções: trabalhar até os 62 anos e
contribuir por 36 anos ou trabalhar até os 61 anos e contribuir por
38 anos. Segundo Schwarzer, a expectativa de vida teve um aumento "muito forte", que não deve se
repetir nos próximos anos.
Em 2001, a esperança de vida era
de 70,7 anos. Em 2000, 70,5 anos.
De 1980 a 2002, houve um crescimento de 13,6% na esperança de
vida do brasileiro.
O aumento na longevidade afeta as aposentadorias por conta do
chamado fator previdenciário, regra que entrou em vigor em 1999 e
que leva em conta idade, tempo
de contribuição e expectativa de
vida no momento da concessão
do benefício.
Na prática, o fator previdenciário reduz o valor dos benefícios de
quem se aposenta mais cedo e aumenta o de quem trabalhar por
mais tempo. As estimativas de
Schwarzer dizem respeito a um
fator previdenciário de equilíbrio,
ou seja, sem aumentar ou reduzir
o valor do benefício.
Dados da Previdência mostram
que a idade média de aposentadoria hoje é de 54 anos de idade e 35
anos de contribuição.
Queda da mortalidade
Para o IBGE, o principal motivo
para o aumento da expectativa de
vida é a retração na mortalidade
infantil, que passou de 69,1 óbitos
por mil nascidos vivos, em 1980,
para 28,4 por mil no ano passado.
Apesar da evolução, o Brasil
ainda está na 88ª posição entre os
192 países pesquisados pela ONU
no caso da expectativa de vida. Na
América Latina, ficou atrás de nações como Cuba, Chile, Uruguai,
Argentina e Colômbia.
Fernando Albuquerque, gerente da Coordenação de População
e Indicadores Sociais do IBGE, diz
que, apesar dos números melhores, "ainda há muito o que fazer".
"É um progresso, mas um progresso como o da nossa economia, que cresceu 0,4% [variação
do PIB no terceiro trimestre ante
o segundo trimestre]. Os dados,
em geral, são lastimáveis", afirmou o médico epidemiologista da
Fiocruz (Fundação Oswaldo
Cruz) Eduardo Costa.
Para Costa, a principal causa do
aumento da expectativa de vida,
até mais importante do que a redução da mortalidade, foi a queda
na taxa de fecundidade nos últimos anos.
Isso porque, segundo Costa, o
fato de a mulher ter menos filhos
puxa para baixo a taxa de mortalidade infantil -um dos índices
analisados para compor a taxa da
expectativa de vida.
Pelos dados do Censo 2000, cada mulher brasileira tem, em média, 2,3 filhos.
Metodologia
A Tábua de Mortalidade é uma
estimativa feita todos os anos pelo
IBGE. Tem como base de dados
os Censos e as Estatísticas do Registro Civil. A de 2002 foi atualizada para incorporar informações
do Censo 2000 e das estatísticas de
óbitos da pesquisa de Registro Civil (feita com dados dos cartórios)
de 1999 a 2001.
A tábua estima a expectativa de
vida para todas as faixas etárias.
Por exemplo: quem chegou, em
2002, aos 21 anos tem expectativa
de vida de mais 53,3 anos. Já
quem completou 80 terá, ao menos na teoria, a possibilidade de
viver mais 9,2 anos.
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