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País perde cada vez mais "cérebros" para o exterior
Número dos que receberam visto dos EUA dado a profissionais qualificados cresceu 185%
Em dez anos, quase dobrou
a proporção de brasileiros
com nível superior vivendo
nos países da OCDE,
que reúne nações ricas
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
DENYSE GODOY
DE NOVA YORK
Atraídos pela escassez de
mão-de-obra qualificada, brasileiros com alto nível de instrução estão, cada vez mais, migrando para Europa e América
do Norte. O fenômeno, chamado de fuga de cérebros, fica claro na análise de dois dados:
1) De 1996 a 2006, o número
de brasileiros que receberam
visto dos Estados Unidos dado
somente a profissionais de alta
qualificação aumentou 185%.
2) De 1990 a 2000, quase dobrou -de 1,7% para 3,3%- a
proporção de brasileiros com
nível superior vivendo nos 30
países da OCDE, que reúne, na
maioria, nações ricas de Europa, Ásia e América do Norte.
O Brasil não é o único afetado
pela tendência. É a Índia o país
com maior número de vistos
dos EUA para trabalhadores
qualificados, mas são nações de
pequeno porte -como Guiana,
Jamaica ou Haiti- que têm
proporção de população com
nível superior vivendo em outros países superior a 80%.
Mesmo assim, o aumento da
fuga de cérebros do Brasil preocupa e muda o perfil do emigrante. Franklin Goza, professor da Universidade Estadual
de Bowling Green (Ohio) que
estuda a imigração brasileira
para os EUA, afirma que ela está em transição.
"Nos anos 80, a vasta maioria
de brasileiros que vinha para cá
entrava ilegalmente, tinha baixa qualificação ou eram profissionais que chegavam como turistas, mas acabavam estendendo a estadia e trabalhando
sem permissão em empregos
não condizentes com sua formação, como professores lavando prato em restaurantes."
Hoje, no entanto, ele define a
migração brasileira para lá como bi-modal. O fluxo de ilegais
ainda é grande -no ano passado, os brasileiros perderam
apenas para os mexicanos entre os que foram apreendidos
na fronteira-, mas cresceu significativamente o número de
profissionais em situação legal.
No Brasil, os efeitos também
já são identificáveis. Para o demógrafo Eduardo Rios-Neto,
presidente da Comissão Nacional de População e Desenvolvimento, o principal problema é a
escassez de recursos humanos
de alta qualidade no Brasil e no
mundo. "O Brasil fornece talentos para esse mercado global. O ponto é saber se é benéfico ou deletério. Se o trabalhador tiver estudado numa universidade pública, é deletério,
pois foi o Estado que subsidiou
sua educação. Mas, se a tendência é inexorável, há que se desenhar arranjos institucionais,
como retornos periódicos e
transferências de tecnologia,
para minimizar as perdas."
O demógrafo, no entanto, enxerga oportunidades: "Há risco
de longo prazo de que a classe
média seja insuficiente para
prover toda a demanda por
qualificação do país. Com isso,
pela primeira vez a elite empresarial terá de investir na educação popular como prioridade e
devido a interesse econômico, e
não por altruísmo."
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