São Paulo, quinta-feira, 03 de janeiro de 2002

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CASO ABRAVANEL

Fernando Dutra Pinto, 22, morreu após infecção generalizada; polícia investiga possível envenenamento

Sequestrador morre de forma misteriosa

DA REPORTAGEM LOCAL

O sequestrador do apresentador de TV Silvio Santos e de sua filha Patrícia, Fernando Dutra Pinto, 22, morreu ontem de forma misteriosa após sofrer parada cardiorrespiratória provocada por uma infecção generalizada, na penitenciária em que estava preso em São Paulo, sem revelar todos os detalhes dos crimes que o tornaram famoso no ano passado.
Os advogados que defendem Dutra Pinto denunciaram, e a polícia investiga, a possibilidade de ele ter sido assassinado, por envenenamento ou com uma superdosagem de medicamentos.
Ele estava no CDP (Centro de Detenção Provisória) do Belém (zona leste) desde setembro de 2001. Há dois meses dividia uma cela com 12 presos, incluindo o irmão Esdra e o amigo Marcelo Batista Santos, ambos co-autores no sequestro de Patrícia Abravanel.
Ontem de manhã, o sequestrador estava na enfermaria do CDP, onde há três dias recebia medicamentos para broncopneumonia e intoxicação alimentar. Problemas de saúde considerados ""simples" pelo médico da unidade que o atendia, Ricardo Cezar Cypriani.
Por volta das 11h15, quando recebeu a visita de sua advogada, Maura Marques, ele andava em uma cadeira de rodas, respirava com dificuldade e reclamava de não conseguir enxergar com o olho direito. Sentia sede e reclamava da quantidade de medicamentos que vinha tomando.
Logo depois, às 11h45, o rapaz teve a parada cardiorrespiratória e ficou inconsciente. O médico do presídio chegou e deu os primeiros socorros para reanimá-lo.
Às 12h20, deu entrada no pronto-socorro do Hospital do Tatuapé, inconsciente, levado por uma ambulância do CDP. Apesar dos esforços da equipe médica, ele morreu quarenta minutos depois.
""Sou o primeiro a reconhecer que não é normal um moço de 22 anos morrer nessas circunstâncias", afirmou ontem o secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa.
Na sexta-feira, Dutra Pinto "gozava de perfeita saúde", de acordo com sua advogada, Maura Marques. Um dia depois apareceram manchas na pele e mal-estar.
No domingo, ao ser visitado pelo pai, Antonio Sebastião Pinto, ele apresentava manchas vermelhas por todo o corpo, reclamava muito de coceira e de dor no peito -associada com a bronquite de que sofria desde criança. Na ocasião, não conseguiu comer nada.
Na segunda-feira, Maura conta que não conseguiu vê-lo, mas foi informada de que ele havia sido medicado e passava bem.
Foi nesse dia que Dutra Pinto passou pelo médico da unidade e começou a dormir na enfermaria.
Segundo Cypriani, o médico do CDP, o sequestrador disse que estava assim por ter comido carne de porco, provavelmente entre quinta e sexta-feira. Nenhum outro detento teve o mesmo tipo de intoxicação. A direção do presídio apura se foi servido esse tipo de alimento aos presidiários. A família afirmou não ter levado carne de porco para ele.
Anteontem, após piora no problema pulmonar, Dutra Pinto fez raio-X do pulmão na Santa Casa, onde outro médico constatou broncopneumonia. Ele tinha febre e dores no corpo, na região do peito, mas havia melhorado das manchas, disse Cypriani. ""Se houvesse necessidade de mantê-lo internado, isso teria sido feito."
A delegada Valderes Lopes, 41, do 81º DP (Belém), que registrou o caso como ""morte a esclarecer", pediu exames químico e toxicológico, que podem identificar se alguma substância provocou a morte do sequestrador, para dar início às investigações.
Ontem, o diretor do IML (Instituto Médico Legal), José Jarjura Júnior, disse que os exames preliminares revelaram infecção generalizada no corpo do preso. Exames complementares devem ficar prontos em 20 dias. O corpo será liberado em uma semana.
Dutra Pinto já tinha sido ouvido em juízo sobre os sequestros de Silvio e Patrícia. Mas havia se recusado a falar à polícia sobre o tiroteio em que morreram dois policiais em um flat em Barueri (Grande São Paulo) e seria ouvido pelo juiz do caso.
A promotora de execuções criminais Maria Cristina Pinto Bilcher pediu à Corregedoria dos Presídios de São Paulo a abertura de procedimento disciplinar para apurar a morte. O governador Geraldo Alckmin e Silvio Santos não comentaram o caso. (ALESSANDRO SILVA e MARIANA VIVEIROS)


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