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CASO ABRAVANEL
Fernando Dutra Pinto, 22, morreu após infecção generalizada; polícia investiga possível envenenamento
Sequestrador morre de forma misteriosa
DA REPORTAGEM LOCAL
O sequestrador do apresentador de TV Silvio Santos e de sua filha Patrícia, Fernando Dutra Pinto, 22, morreu ontem de forma
misteriosa após sofrer parada cardiorrespiratória provocada por
uma infecção generalizada, na penitenciária em que estava preso
em São Paulo, sem revelar todos
os detalhes dos crimes que o tornaram famoso no ano passado.
Os advogados que defendem
Dutra Pinto denunciaram, e a polícia investiga, a possibilidade de
ele ter sido assassinado, por envenenamento ou com uma superdosagem de medicamentos.
Ele estava no CDP (Centro de
Detenção Provisória) do Belém
(zona leste) desde setembro de
2001. Há dois meses dividia uma
cela com 12 presos, incluindo o irmão Esdra e o amigo Marcelo Batista Santos, ambos co-autores no
sequestro de Patrícia Abravanel.
Ontem de manhã, o sequestrador estava na enfermaria do CDP,
onde há três dias recebia medicamentos para broncopneumonia e
intoxicação alimentar. Problemas
de saúde considerados ""simples"
pelo médico da unidade que o
atendia, Ricardo Cezar Cypriani.
Por volta das 11h15, quando recebeu a visita de sua advogada,
Maura Marques, ele andava em
uma cadeira de rodas, respirava
com dificuldade e reclamava de
não conseguir enxergar com o
olho direito. Sentia sede e reclamava da quantidade de medicamentos que vinha tomando.
Logo depois, às 11h45, o rapaz
teve a parada cardiorrespiratória
e ficou inconsciente. O médico do
presídio chegou e deu os primeiros socorros para reanimá-lo.
Às 12h20, deu entrada no pronto-socorro do Hospital do Tatuapé, inconsciente, levado por uma
ambulância do CDP. Apesar dos
esforços da equipe médica, ele
morreu quarenta minutos depois.
""Sou o primeiro a reconhecer
que não é normal um moço de 22
anos morrer nessas circunstâncias", afirmou ontem o secretário
da Administração Penitenciária,
Nagashi Furukawa.
Na sexta-feira, Dutra Pinto "gozava de perfeita saúde", de acordo
com sua advogada, Maura Marques. Um dia depois apareceram
manchas na pele e mal-estar.
No domingo, ao ser visitado pelo pai, Antonio Sebastião Pinto,
ele apresentava manchas vermelhas por todo o corpo, reclamava
muito de coceira e de dor no peito
-associada com a bronquite de
que sofria desde criança. Na ocasião, não conseguiu comer nada.
Na segunda-feira, Maura conta
que não conseguiu vê-lo, mas foi
informada de que ele havia sido
medicado e passava bem.
Foi nesse dia que Dutra Pinto
passou pelo médico da unidade e
começou a dormir na enfermaria.
Segundo Cypriani, o médico do
CDP, o sequestrador disse que estava assim por ter comido carne
de porco, provavelmente entre
quinta e sexta-feira. Nenhum outro detento teve o mesmo tipo de
intoxicação. A direção do presídio
apura se foi servido esse tipo de
alimento aos presidiários. A família afirmou não ter levado carne
de porco para ele.
Anteontem, após piora no problema pulmonar, Dutra Pinto fez
raio-X do pulmão na Santa Casa,
onde outro médico constatou
broncopneumonia. Ele tinha febre e dores no corpo, na região do
peito, mas havia melhorado das
manchas, disse Cypriani. ""Se
houvesse necessidade de mantê-lo internado, isso teria sido feito."
A delegada Valderes Lopes, 41,
do 81º DP (Belém), que registrou
o caso como ""morte a esclarecer",
pediu exames químico e toxicológico, que podem identificar se alguma substância provocou a
morte do sequestrador, para dar
início às investigações.
Ontem, o diretor do IML (Instituto Médico Legal), José Jarjura
Júnior, disse que os exames preliminares revelaram infecção generalizada no corpo do preso. Exames complementares devem ficar
prontos em 20 dias. O corpo será
liberado em uma semana.
Dutra Pinto já tinha sido ouvido
em juízo sobre os sequestros de
Silvio e Patrícia. Mas havia se recusado a falar à polícia sobre o tiroteio em que morreram dois policiais em um flat em Barueri
(Grande São Paulo) e seria ouvido
pelo juiz do caso.
A promotora de execuções criminais Maria Cristina Pinto Bilcher pediu à Corregedoria dos
Presídios de São Paulo a abertura
de procedimento disciplinar para
apurar a morte. O governador Geraldo Alckmin e Silvio Santos não
comentaram o caso.
(ALESSANDRO SILVA e MARIANA VIVEIROS)
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