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PASQUALE CIPRO NETO
É grego, governador!
No último domingo , foi
ao ar a participação de alguns de nossos políticos no "Show
do Milhão", de Silvio Santos. Não
vi o programa, mas soube pela
imprensa e por alguns conhecidos
que Maluf não perde o vício de
achar que sabe o que não sabe,
que Garotinho (para o qual Lula
é capaz de confundir uma usina
de tratamento de esgoto com uma
fábrica de cimento) teve problemas com a composição da água,
que César Borges não sabe o significado de "soteropolitano", adjetivo pátrio relativo à capital do
Estado que governa...
Não me atrevo a analisar o desempenho de quem quer que seja
nesse tipo de programa. Não sei se
eu faria melhor, nem mesmo sei
se aceitaria participar. Mas não
resisto à tentação de dizer duas
palavras sobre o fato de o governador da Bahia desconhecer o
significado de "soteropolitano".
Imagino que o público tenha ficado frustrado nessa hora. A sensação deve ser semelhante à que
tem o turista brasileiro que, em
Cuba, descobre que na ilha de Fidel não existe o nosso "filé à cubana". Será que na Grécia se come o
nosso arroz à grega?
E a expressão "sair à francesa",
que aparece numa bela canção do
repertório de Marina Lima ("Se
eu saísse à francesa...")? Será que
na França se sai à francesa? Antes
que alguém pergunte, "sair à
francesa" significa "sair de fininho", "sair sem se despedir".
Cabe aqui um breve comentário sobre o acento grave presente
nas expressões "à cubana", "à
grega" e "à francesa". Está subentendida a palavra "moda", que
constitui a expressão "à moda",
cujos correspondentes masculinos
seriam "ao modo" ou "ao estilo"
("à moda francesa", "ao modo"
ou "ao estilo francês").
Bem, voltando às frustrações, é
bom citar a de quem vai à Itália e
não encontra por lá nenhuma
"cantina". Em italiano, "cantina"
é o lugar da casa, geralmente no
subsolo, em que se guardam bebidas e alimentos, ou (uso menos
comum) o armazém em que se
vende vinho a varejo.
Também ficam desapontados
os papais e as mamães que vão à
Itália com suas Paôlas (o acento é
intencional) a tiracolo, na ânsia
de encontrar suas "primas" por
lá. Não encontram, porque na
Itália não existe Paôla, nem umazinha sequer. Em italiano, lê-se
"Páola" (o "a" é tônico e aberto).
Depois dessa conversa toda, não
posso me esquecer do simpático
governador da Bahia. Soube que
ele usou a palavra "etimologia"
quando disse desconhecer o significado de "soteropolitano". A etimologia, como se sabe, é a parte
dos estudos linguísticos que trata
da origem e da evolução histórica
das palavras.
Permita-me, então, caro governador, explicar-lhe a etimologia
de "soteropolitano", assunto de
que tratei no ano passado, neste
espaço. O termo vem de "Soterópolis", que é a "helenização do
nome da cidade de Salvador", como diz o "Aurélio". Tradução:
"sotérion", em grego, é "salvação"; "polis" é "cidade".
Vá lá que se viaje para a Itália e
por lá não se encontrem Paôlas
ou cantinas como as nossas, que
se vá a Cuba e não se encontre filé
à cubana, ou que se vá à Grécia e
não se encontre arroz à grega.
Mas que se converse com um
baiano ilustre e não se descubra o
que é "soteropolitano"... É isso.
Pasquale Cipro Neto escreve
nesta coluna às quintas-feiras
E-mail - inculta@uol.com.br
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