São Paulo, sábado, 03 de fevereiro de 2001

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VIOLÊNCIA

Cinco crianças, de 4 a 11 anos, foram flagradas em Marília após furtar uma casa; para a PM, um adulto as orientava

"Gangue da chupeta" age no interior de SP



EDMILSON ZANETTI
DA AGÊNCIA FOLHA,

EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
A Polícia Militar de Marília, no interior de São Paulo, flagrou uma ""quadrilha" inusitada: cinco crianças, com idade entre 4 e 11 anos, que praticavam furtos em um bairro residencial. Uma delas foi pega usando chupeta.
As crianças, que não tiveram sua identidade divulgada, estavam sendo usadas por um ladrão conhecido como Floriano, que está sendo procurado pela polícia.
A prática de Floriano era simples: as crianças, ""pagas" com dinheiro para doces e sorvetes, praticavam pequenos furtos em casas e repúblicas de estudantes universitários, que costumam deixar a cidade no período de férias.
Como as crianças são inimputáveis, ele escapa ileso de flagrantes. A polícia já trabalhava com essa hipótese, mas teve a confirmação apenas na semana passada
Cinco crianças foram vistas pela PM na rua com sacolinhas de supermercados. Tinham acabado de furtar casas de universitários no Jardim Cavalari, na zona oeste. As sacolinhas continham toca-fitas, CDs, rádios e objetos de pequeno porte, cujo peso elas conseguiriam suportar.
Um garoto de 6 anos estava com chupeta na boca, segundo o tenente Sugar Ray Robson Gomes, que atendeu a ocorrência. O mais novo tinha 4 anos. "Quando eu perguntei onde eles tinham pego aquilo, o pequenino me chamou de tio, me deu a mão e me levou até a casa, com uma inocência de cortar o coração."
O caso foi encaminhado ao Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente, cujos registros revelam que cerca de 10% dos atendimentos são de crianças envolvidas com furtos e atos de violência, na condição de agentes de maiores. As crianças foram liberadas.
""Antigamente elas adquiriam hábitos de rua com 12, 13, 14 anos. Hoje, com 5, 6 anos já estão nas ruas", disse Ricardo Alves Lopes, do Conselho Tutelar.
Os números da Polícia Militar confirmam a mesma realidade. No ano passado, nas zonas norte e oeste da cidade, 81 menores se envolveram em furtos, 30 em tentativas de furto e 14 em roubos com uso de armas.
Em dezembro do ano passado, de 69 ocorrências de furtos e assaltos, oito foram praticadas por crianças, segundo a 1ª Companhia da Polícia Militar.
As crianças vivem com os pais, que também não tiveram os nomes divulgados. Segundo a polícia, os pais de todas as crianças estão empregados.
Não existem dados oficiais sobre o número de crianças que vivem nas ruas em Marília, cidade com 197 mil habitantes localizada a 443 km de São Paulo.
Um programa da prefeitura, criado em 1997 e intitulado Casa do Pequeno Cidadão, abriga, em cinco unidades, 800 crianças que vivem em situações de risco. Elas passam o dia em atividades voltadas para esportes, cultura e ensino profissionalizante.



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