São Paulo, domingo, 03 de fevereiro de 2002

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COLAPSO NA SEGURANÇA

Sequestro de Olivetto acaba após 53 dias

Publicitário foi encontrado em cativeiro no Brooklin Novo, após pedir socorro aos vizinhos; grupo continua foragido

DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de 53 dias mantido refém por um grupo de sequestradores estrangeiros, o publicitário Washington Olivetto, 50, foi encontrado ontem, por volta das 22h40, no segundo andar de um sobrado de classe média na rua Kansas, número 40, no Brooklin Novo (zona sul de São Paulo).
Moradores informaram à polícia que havia uma pessoa gritando e pedindo ajuda. Ao entrar, policiais acharam um homem que se identificou como Olivetto.
Segundo o soldado Gimenez, do 12º BPM, um dos primeiros a chegar ao local, Olivetto teria dito "eu sou sequestrado, graças a Deus vocês me acharam. Eu não vou esquecer", disse. Em seguida, ele abraçou os policiais. Segundo a polícia, ele tinha de se segurar nas paredes para conseguir andar.
Com o cabelo mais comprido, barba e visivelmente abatido, o publicitário foi levado para a casa de um cunhado para ser atendido por um médico e, em seguida, para sua casa, nos Jardins. Foi levado em um Ômega pelo titular da Delegacia Anti-Sequestro, Wagner Giudice. Chegou abaixado, para evitar o assédio da imprensa.
O governador Geraldo Alckmin, em entrevista depois do sequestro com toda a cúpula da polícia, não descartou a possibilidade de crime político. Ele, porém, não quis dar mais detalhes sobre as investigações.
A polícia investiga a possibilidade de grupos estrangeiros da América do Sul, entre elas as Farc (Forças Armadas e Revolucionárias da Colômbia) e a Frente Patriótica Manuel Rodríguez, do Chile, estarem envolvidos.
Segundo a polícia, o sequestro chegou ao fim após a prisão de parte de um grupo de sequestradores em Serra Negra (150 km de São Paulo). A polícia chegou até os sequestradores após o dono do imóvel ter estranhado o pagamento da chácara em dólares (leia texto na pág. 3).
O restante da quadrilha soube da prisão quando tentou contato com celulares do grupo. De acordo com Godofredo Bittencourt, diretor do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), a polícia teria permitido que os sequestradores presos entrassem em contato com o restante do grupo para "avisá-los" da situação.
Na madrugada de sexta para sábado, o restante do grupo teria abandonado o cativeiro. A polícia ainda não sabe quantas pessoas estão foragidas.
Nos 53 dias de sequestro, a quadrilha teria mantido apenas três contatos com a família, que pediu para que imprensa e polícia ficassem fora do caso. Parentes contrataram uma empresa britânica, especializada em gerenciamento de crises, para cuidar das negociações.
O primeiro contato teria sido feito uma semana depois do sequestro, quando um entregador de uma floricultura entregou um buquê com um bilhete de apenas cinco linhas em letras de computador. "Estamos com o Olivetto. O tempo que ele vai permanecer com a gente depende de vocês."
Um anúncio no "Jornal do Brasil", publicado ontem, seria a mensagem da família aos sequestradores de que já tinha o dinheiro pedido pelo grupo. O resgate, cujo valor não foi divulgado, não foi pago, segundo o governador.
O secretário da Segurança Pública, Saulo Castro de Abreu Filho, afirmou ontem que o fato de terem abandonado Olivetto na casa possa fazer parte de uma estratégia, geralmente usada por sequestradores estrangeiros, para não haver o flagrante -o que evitaria caracterizar crime hediondo.
Segundo ele, o grupo ainda teria dito que fez o sequestro por "ideologia". "Mas eu não acredito muito nisso", disse o secretário.
Ele também disse que pediu à Polícia Federal que feche fronteiras e reforce segurança nos aeroportos para prender os demais sequestradores.
Olivetto foi sequestrado na noite de 11 de dezembro, quando deixava a agência W/Brasil, de sua propriedade, e retornava para casa. O carro foi interceptado por homens vestindo coletes da Polícia Federal.
O jornalista Juca Kfouri, amigo da família, disse que o publicitário passa bem e já foi medicado. Segundo ele, Olivetto teria sido agredido durante o tempo que ficou em cativeiro. Ele também negou que o resgate tenha sido pago pelos parentes.
"O sr. Washington Olivetto encontra-se, apesar do trauma, em condições clínicas satisfatórias. Seus parâmetros vitais são normais, com exceção da pressão arterial elevada imputável à especificidade deste momento. Recomendou-se, portanto, que o sr. Washington permaneça em repouso familiar pelo prazo mínimo de 48 horas", diz a nota assinada pelo médico Zyun Masuda.


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