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É preciso inibir a polícia, diz Hélio Luz
Ex-chefe da Polícia Civil do Rio afirma que é necessário controle interno, pois há policiais envolvidos nos crimes
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
Ex-chefe da Polícia Civil do Rio
de Janeiro, o delegado Hélio Luz,
55, é direto: para diminuir o número de sequestros em São Paulo
é preciso aumentar o controle interno da polícia, pois há policiais
envolvidos com os crimes.
Hoje deputado estadual no Rio
pelo PT, Luz dirigiu por dois meses em 1995 a DAS (Divisão Anti-Sequestros) e assumiu no mesmo
ano a chefia da polícia. Sua gestão
marcou o início da redução do
número de sequestros no Estado.
Os casos chegaram a 108 em 1995.
Caíram para 58 em 1997, ano em
que Luz deixou o cargo, em solidariedade à greve da Polícia Civil
por aumento de salários.
"No Rio, quem estava sequestrando era a polícia. São Paulo está passando por isso", afirma o
delegado. Luz adotou medidas
polêmicas, como o uso de policiais considerados corruptos, porém eficientes, para elucidar sequestros. Iniciada na gestão de
Luz, a redução dos sequestros
continuou no Rio: no ano passado foram registrados nove casos.
Folha - O que o sr. encontrou na
DAS (Divisão Anti-Sequestros)?
Hélio Luz - Quem estava sequestrando era a polícia. São Paulo está passando por isso. Lógico que
os sequestros de lá têm ligação
com a polícia. Como foi aquele
negócio do sequestrador do Silvio
Santos? Desde o primeiro momento, o cheiro era de extorsão,
"mineira" de policial.
A polícia de São Paulo é tão corrupta quanto a do Rio. As polícias
são corruptas porque refletem o
Estado brasileiro, que é corrupto.
Os meios de controle interno não
dão conta da corrupção, porque o
Estado é corruptor e as elites se
aproveitam disso.
Quando falo em polícia sequestrando, é Polícia Civil, Polícia Militar, Polícia Federal, Polícia Rodoviária. A primeira coisa para
parar sequestro é controle interno
da polícia. A outra é distribuição
de renda, porque a desigualdade é
causa da criminalidade.
Folha - Como foi o combate aos
sequestros no Rio?
Luz - Um dos maiores problemas que eu tive foi o empresariado. Empresário faz questão de dar
dinheiro para a polícia, de manter
a polícia corrupta. Não dêem dinheiro para a polícia, eu dizia. A
polícia tem de reivindicar salário.
Outro problema era o dos seguros contra sequestros. Quando
tem sequestro, essas empresas de
seguros vão negociar o resgate.
Acabei com isso, botei todo mundo para fora da DAS, assim como
os advogados que negociavam
resgate. Todo mundo ganhava dinheiro. Era um negocião.
Essas empresas cobram de cada
empresário por mês, negociam
com vagabundo, ficam com uma
parte do resgate e pronto. O meu
interesse era não pagar o resgate.
Folha - Como o sr. fez o que chama de controle interno da polícia?
Luz - Quando eu cheguei na
DAS, tinha 150 homens lá. Tinha
cinco quadrilhas de policiais sequestrando. Eu disse: "A DAS a
partir de hoje não sequestra mais,
a polícia não sequestra mais". Falei: "Quem sequestrar vai perder
arma e carteira. Quem quiser ficar
aqui, é para a dura (para trabalhar). Quem não quer, rua". De
150 homens, ficaram 30.
Folha - Até que ponto chegava o
envolvimento da polícia com os sequestros?
Luz - Era total. Tinha camburão
e carro da polícia escoltando pagamento de resgate. Não para garantir a segurança da família, mas
para garantir que outra quadrilha
não tomasse o dinheiro.
Folha - Para resolver sequestros e
prender sequestradores, o sr. chamou policiais ligados à chamada
"banda podre", o grupo Astra. Isso
compensa?
Luz - O que era o grupo Astra?
Era o pessoal que tinha competência, mas era problemático, que
tinha um pé na lama. Aí você chega para o cara e diz: "Meu irmão, é
a tua chance de lavar o pé". O dirigente não pode botar o pé na lama, mas dá chance para quem está com o pé na lama limpar o pé.
Não houve acerto. Foi a chance
que eles tiveram de lavar o pé.
Folha - O que o sr. acha da tese de
que os sequestros no Rio caíram
porque a polícia fez acordo com os
traficantes, dizendo que liberaria o
tráfico caso eles parassem os sequestros?
Luz - Isso é estúpido, não existe
isso. Isso é coisa de quem não conhece nem polícia nem vagabundagem no Rio. Quem vai iniciar
essa negociação? Quem vai garantir um acordo desse?
Folha - O que o sr. acha da proposta de bloquear bens de pessoas
sequestradas?
Luz - É um absurdo. Você não
pode chegar para um pai, uma
mãe que tem dinheiro e está com
um filho em cativeiro, e dizer para
ele não pagar o resgate. Isso é uma
tortura.Compete ao Estado ser
competente e evitar o pagamento.
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