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SOB O DOMÍNIO DO MEDO
Com onda de crimes, um número cada vez maior de pessoas aprende como é viver com segurança pessoal
Sequestráveis convivem 24h por dia com seguranças
PAULO SAMPAIO
ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA
Mil e trezentas pessoas foram
convidadas para o vernissage da
exposição coletiva que a empresária Joëlle Nasser, mulher do banqueiro Ezequiel Nasser, promoveu na última quarta em sua galeria no Jardim Paulistano. Discretamente diluídos na multidão,
três seguranças se faziam de invisíveis para zelar por ela, no melhor estilo "Onde está Wally?".
No dia-a-dia, Joëlle é acompanhada por apenas um, mas, como
se tratava de um evento grande, a
empresária -que teve seu marido sequestrado há seis anos-
convocou outros dois homens,
que atendem seus filhos.
"Tenho seguranças há sete
anos, já cheguei a ter cinco de
uma só vez. Eles me acompanham o tempo todo", conta Joëlle.
Quem nunca usou um serviço
de guarda-costas tenta imaginar
como é viver assim, colado a um
"protetor" quase desconhecido e
armado com uma pistola semi-automática. Será que o "armário"
acompanha o patrão em tudo que
ele faz? No banheiro do restaurante? No almoço com a amante?
As empresas dizem que o próprio cliente estabelece os limites.
"É claro que o segurança passa a
ter informações pessoais. Mas o
assunto só deve interessá-lo se e
quando isso interferir na segurança do cliente", diz Elie Barrak, 46,
diretor de operação da Oregon,
que dobrou o número de seguranças nos últimos 12 meses.
O crescimento dos negócios é
um reflexo da democratização do
pânico. Como não é preciso ser rico para se tornar sequestrável, a
lista de clientes da segurança privada cresceu com a adesão da
classe média: publicitários, profissionais liberais, médicos e pequenos empresários são responsáveis
por 30% do movimento.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, os crimes de sequestros aumentaram
cerca de 1.500% de 1999 (19 casos)
para 2001 (foram 307). A reboque,
a expansão da indústria da segurança não deixa dúvidas. Há dois
anos, o guarda-costas pessoal não
representava 2% do faturamento
total. Hoje, gira em torno de 10%
do faturamento de R$ 7,8 bilhões.
Atualmente, 2.791 empresas de
segurança privada são cadastradas no país pela Polícia Federal, a
quem cabe o controle dos cursos
preparatórios e de reciclagem,
além dos próprios seguranças. Há
dois anos, eram 415.
O maior "boom" veio após o sequestro de Patrícia Abravanel, 23,
filha de Silvio Santos, há cinco
meses: desde então, aumentou
30% a procura pelos denominados agentes de proteção pessoal.
Não é somente o tipo de "segurado" que está mudando, o perfil
dos guarda-costas também. Antes, reinava o figurino "Homens
de Preto": fortes e de óculos escuros, partidários da chamada segurança ostensiva. Nos últimos
anos, está fazendo escola um visual mais discreto.
O guarda-costas tem que ser
quase invisível, uma sombra.
"Meus seguranças jamais vão
trabalhar de terno e gravata, ou
óculos escuros", diz Montserrat
Coelho, 53, que defende a longa
convivência entre seguranças e
segurados. "Uma vez escolhido,
tem de ser para sempre."
A estratégia é reprovada por
Wagner Giudice, 36, titular da Delegacia Anti-Sequestro de São
Paulo. "O segurança deve ser trocado de três a quatro meses. O
tempo estreita a relação e acaba
gerando intimidade. Isso é ruim,
pois o cliente pode acabar ficando
na "mão" do guarda-costas."
Além da companhia do segurança, os sequestráveis gostam de
ter carros bem preparados: alto-falante, sirene e vidros blindados.
Não param por aí. Para saber como agir em situações de risco, frequentam cursos anti-sequestro.
No Centro de Formação e de
Aperfeiçoamento Profissional de
Segurança Pires, por exemplo,
três turmas de 30 pessoas (cada
uma ao custo de R$ 6.000) aprendem regras básicas para tentar
prevenir um sequestro.
Leia a reportagem completa no site da Revista da Folha: www.uol.com.br/revista<BR>
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