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GOVERNO LULA
Falta de programas de assistência social seria o maior problema
Ação contra prostituição infantil é alvo de críticas
JAIRO MARQUES
MAURO ALBANO
DA AGÊNCIA FOLHA
Entidades de defesa dos direitos
da criança, ONGs e especialistas
em desenvolvimento infantil criticaram as primeiras ações de
combate à exploração sexual de
meninas e meninos realizadas pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva, vistas como "policialescas",
"equivocadas" e "inócuas".
Seguindo ordens do Ministério
da Justiça, a Polícia Federal realizou uma operação entre os dias 17
e 19 de janeiro que terminou com
a prisão, em 19 Estados, de 52 supostos exploradores e o encaminhamento de 19 crianças e adolescentes aos conselhos tutelares.
Uma nova operação está programada para o Carnaval.
Depois das ações, a ausência de
programas adequados de acompanhamento social acabam levando as crianças de volta para a
prostituição, segundo as organizações não-governamentais.
"O que estamos vendo são ações
um pouco equivocadas, pontualmente policiais. É um desperdício
de recursos", diz Lauro Monteiro
Filho, secretário-executivo da
Abrapia (Associação Brasileira
Multiprofissional de Proteção à
Infância e à Adolescência).
"É preciso dar apoio à família,
recuperar a auto-estima dos envolvidos e apoiar as estratégias de
prevenção em andamento", afirmou Hélia Barbosa, coordenadora-executiva do Cedeca-BA (Centro de Defesa dos Direitos da
Criança e do Adolescente).
Em sua primeira reunião ministerial, Lula determinou ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz
Bastos, que priorize em sua gestão
a luta contra a prostituição infantil. "Isso deve ser uma questão de
honra", disse o presidente.
"A equipe que está cuidando
disso não tomou conhecimento
do que já está sendo feito por instituições no Brasil inteiro", declarou Monteiro Filho, da Abrapia.
Desde 2000, o país conta com
um Plano Nacional de Combate à
Violência Sexual, elaborado por
organismos ligados à infância -e
o próprio Ministério da Justiça-
com estratégias de ação para enfrentar o problema no Brasil.
Para Ivone Salucci, do Fórum de
Combate à Exploração Sexual de
Roraima, as operações "policialescas" são "inócuas": "Depois
das batidas, as meninas são devolvidas às famílias. Mas como é a situação em casa que as leva para a
rua, daqui a pouco elas aparecem
numa outra casa de prostituição."
O ECA (Estatuto da Criança e
do Adolescente) prevê pena de
quatro a dez anos de prisão para
aliciadores de crianças e para proprietários, gerentes ou responsáveis por locais onde se verifique
exploração sexual infantil.
O mestre em psicologia Antonio Carlos de Oliveira, da PUC-RJ, que trabalha com formação de
profissionais que lidam com vítimas de violência doméstica, afirma que há erro de diagnóstico no
programa lançado pelo governo.
"O governo se esquece de ver a
estrutura familiar comprometida.
Sem um programa que resgate o
potencial dos pais, fica impossível
reverter o quadro", disse.
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