São Paulo, domingo, 03 de fevereiro de 2008

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PROTESTO

Imperador do Ipiranga terá ala contra cobaias

RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Antes mesmo de entrar no sambódromo, uma escola de samba paulistana está provocando uma discussão nacional entre cientistas, que estão preocupados com a imagem da categoria. A Imperador do Ipiranga, do Grupo de Acesso (sétima a desfilar na madrugada de domingo para segunda) tem uma ala de fantasias que é um protesto contra o uso de animais em pesquisas.
Concebida para integrar o enredo "A Salvação do Planeta é o Bicho!", a ala critica o uso de cobaias. É difícil deduzir o significado da fantasia "Animais no ensino e pesquisa" apenas por observação, mas o carnavalesco Anselmo de Brito, autor do figurino, explicou à Folha.
"É um [monstro de] Frankenstein", como se fosse criação de laboratório, e ele carrega nas costas ratinhos que são usados em laboratório, coelhos também", diz. Completa a fantasia uma seringa gigante em alusão ao sofrimento das injeções.
"Veremos também fantasias de domadores, com leões pulando rodas de fogo, representando o mau-trato no circo" conta Anselmo de Brito.
O "Frankenstein" cor-de-rosa poderia até passar desapercebido, mas, em janeiro, um comunicado de imprensa sobre o enredo chegou ao farmacólogo carioca Renato Balão Cordeiro, que encaminhou a mensagem por e-mail a vários cientistas.
O teor da crítica os deixou inquietos. "Um carnavalesco sério aproveitaria essa oportunidade e mostraria também a importância da experimentação animal para a saúde humana e para a dos animais", diz Cordeiro. "A vacina que temos contra a febre amarela agora, por exemplo, saiu da experimentação animal."
Particularmente decepcionada ficou a bióloga Anamaria Feijó, que defende o uso minimizado de animais e até o diálogo com ativistas. "Isso é agressão à ciência e não contribui para o diálogo." A polêmica criação do carnavalesco Brito foi, em parte, concebida por Altina Mabellini, diretora da ONG Tribuna Animal, que orientou a escola de samba (e exigiu que não se usasse penas). "Eu queria divulgar a proteção animal. Se eles [cientistas] se sentiram ofendidos, não posso fazer nada."


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