São Paulo, terça-feira, 03 de fevereiro de 2009

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Barricada tinha até Kombi em chamas

Cerca de 150 policiais militares entraram a pé na favela à noite e liberaram as ruas; em três das vias, havia 19 barricadas

Lixo, madeira em chamas e pneus também foram usados para fechar as ruas; uso de correntes reforça tese de ação premeditada


LUÍS KAWAGUTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Diversas ruas e cruzamentos da favela Paraisópolis foram fechados por barricadas feitas com pneus, lixo, madeira e até carros em chamas, além de correntes e barras de ferro. A Folha esteve em três ruas e presenciou 19 dessas barricadas -havia mais pela favela.
A maior parte das barricadas tinha menos de 1 m de altura. Elas foram feitas para atrasar a entrada na comunidade de carros da polícia, do Corpo de Bombeiros e blindados Centurion (veículos da Tropa de Choque para controlar multidões).
Havia barricadas nas ruas das Jangadas, Pasquale Gallup e Ernest Renan -nesta última, estavam as maiores. Eram feitas com barras e correntes de ferro, cavaletes de madeira, pneus e colchões em chamas. Uma tinha até uma Kombi tombada e incendiada.
A Secretaria da Segurança diz estar convencida de que a ação foi planejada antecipadamente. A hipótese é sustentada por dois fatores: primeiro porque, na hora da confusão na avenida Giovanni Gronchi, várias pessoas informaram, por telefone, outras ocorrências à polícia, que se deslocou para longe da região.
O uso de correntes nas barricadas também reforça, segundo a secretaria, a hipótese de ação premeditada. Segundo a secretaria, se a ação fosse improvisada, não haveria tempo para trazer as correntes.
Divididos em cinco pelotões, cerca de 150 PMs da Rota, da Força Tática e do Batalhão de Choque entraram a pé na favela e derrubaram as barricadas manualmente, possibilitando a entrada de veículos de apoio. A Folha acompanhou a incursão.
Os policiais, ao menos o grupo que a Folha presenciou, usavam armas não-letais. Sempre que notavam a polícia chegar às barricadas, os manifestantes fugiam atirando pedras, garrafas. Alguns atiravam.
Rapazes eram maioria entre os manifestantes, mas também havia mulheres e crianças. As chamas das barricadas foram controladas por PMs e bombeiros, ajudados pela chuva.
A polícia avançou na favela pela rua Ernest Renan, onde havia ao menos quatro carros incendiados e escombros. Aos gritos, diziam aos moradores para não saírem de casa. "Volta, volta, é a Rota. Fiquem em casa ou vocês podem levar tiros [em razão do fogo cruzado]."
Ao mesmo tempo, os policiais atiravam balas de borracha, granadas de gás lacrimogêneo e bombas de luz e som. As granadas acabaram, problema resolvido quando um suprimento de munição chegou.
Do outro lado das barricadas, os manifestantes, a cerca de 100 metros dos policiais, gritavam "Filhos-da-puta" e "Vai morrer" enquanto atiravam pedras. Do alto das lajes das casas vinham garrafas e pedras.


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