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Barricada tinha até Kombi em chamas
Cerca de 150 policiais militares entraram a pé na favela à noite e liberaram as ruas; em três das vias, havia 19 barricadas
Lixo, madeira em chamas e pneus também foram usados para fechar as ruas; uso de correntes reforça tese de ação premeditada
LUÍS KAWAGUTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Diversas ruas e cruzamentos
da favela Paraisópolis foram fechados por barricadas feitas
com pneus, lixo, madeira e até
carros em chamas, além de correntes e barras de ferro. A Folha esteve em três ruas e presenciou 19 dessas barricadas
-havia mais pela favela.
A maior parte das barricadas
tinha menos de 1 m de altura.
Elas foram feitas para atrasar a
entrada na comunidade de carros da polícia, do Corpo de
Bombeiros e blindados Centurion (veículos da Tropa de Choque para controlar multidões).
Havia barricadas nas ruas
das Jangadas, Pasquale Gallup
e Ernest Renan -nesta última,
estavam as maiores. Eram feitas com barras e correntes de
ferro, cavaletes de madeira,
pneus e colchões em chamas.
Uma tinha até uma Kombi
tombada e incendiada.
A Secretaria da Segurança
diz estar convencida de que a
ação foi planejada antecipadamente. A hipótese é sustentada
por dois fatores: primeiro porque, na hora da confusão na
avenida Giovanni Gronchi, várias pessoas informaram, por
telefone, outras ocorrências à
polícia, que se deslocou para
longe da região.
O uso de correntes nas barricadas também reforça, segundo a secretaria, a hipótese de
ação premeditada. Segundo a
secretaria, se a ação fosse improvisada, não haveria tempo
para trazer as correntes.
Divididos em cinco pelotões,
cerca de 150 PMs da Rota, da
Força Tática e do Batalhão de
Choque entraram a pé na favela e derrubaram as barricadas
manualmente, possibilitando a
entrada de veículos de apoio. A
Folha acompanhou a incursão.
Os policiais, ao menos o grupo que a Folha presenciou,
usavam armas não-letais. Sempre que notavam a polícia chegar às barricadas, os manifestantes fugiam atirando pedras,
garrafas. Alguns atiravam.
Rapazes eram maioria entre
os manifestantes, mas também
havia mulheres e crianças. As
chamas das barricadas foram
controladas por PMs e bombeiros, ajudados pela chuva.
A polícia avançou na favela
pela rua Ernest Renan, onde
havia ao menos quatro carros
incendiados e escombros. Aos
gritos, diziam aos moradores
para não saírem de casa. "Volta, volta, é a Rota. Fiquem em
casa ou vocês podem levar tiros
[em razão do fogo cruzado]."
Ao mesmo tempo, os policiais atiravam balas de borracha, granadas de gás lacrimogêneo e bombas de luz e som. As
granadas acabaram, problema
resolvido quando um suprimento de munição chegou.
Do outro lado das barricadas,
os manifestantes, a cerca de
100 metros dos policiais, gritavam "Filhos-da-puta" e "Vai
morrer" enquanto atiravam
pedras. Do alto das lajes das casas vinham garrafas e pedras.
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