São Paulo, domingo, 03 de março de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CAMPINAS

Além do grupo de Andinho, preso na última segunda-feira, há pelo três quadrilhas que se especializaram nesse tipo de crime

Sequestro continuará na região, diz polícia

MÁRIO TONOCCHI
FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINAS
RICARDO BRANDT
EDITOR-ASSISTENTE DA FOLHA CAMPINAS

A prisão de Wanderson Newton de Paula Lima, 23, o Andinho, não vai pôr fim aos sequestros na região de Campinas. A polícia já identificou pelo menos outras três quadrilhas que se especializaram nesse tipo de crime.
Além disso, os grupos organizados não são fechados nem possuem membros fixos. De acordo com o delegado titular da Deas (Delegacia Especializada Anti-Sequestro) de Campinas, Joel Antônio dos Santos, 46, essa dinâmica de atuação dos bandos permite a continuidade dos sequestros.
"Há troca de integrantes ou a "requisição" de um membro de uma quadrilha para atuar em um crime que está prestes a ser cometido por outra", afirmou.
Santos disse que as prisões e as mortes de alguns integrantes do grupo vão apenas "aliviar" o índice de sequestros na região.
"Uma quadrilha foi desmontada, mas as demais continuam atuando. Acredito que, momentaneamente, o número desse tipo de crime vai diminuir, mas deve voltar a crescer", disse Santos.
Em 2001, a Polícia Civil registrou 39 sequestros na região. Somente nos dois primeiros meses deste ano, foram nove casos. Uma das vítimas foi a dona-de-casa Rosana Melotti, 52, assassinada em frente à sua casa em Campinas no último dia 10 de janeiro.
Juntos, os líderes do grupo de Andinho espalharam medo pela região nos últimos dois anos, arrecadaram pelo menos R$ 2,8 milhões em ações de sequestro e contaram com a participação de integrantes da polícia para atuar.
Pelo menos 19 sequestros, quatro ações de resgate de presos (em São Paulo, Hortolândia, Sumaré e Americana) e 12 assassinatos são atribuídos ao grupo.
"O Andinho conseguiu reunir, numa mesma base de quadrilha, criminosos muito perigosos. Apesar de ser analfabeto, ele conseguia articular muito bem a quadrilha em ações ousadas", afirmou o delegado da Deas.
Para a professora de psicologia forense da PUC-Campinas Maria de Fátima Franco dos Santos, criminosos como Andinho se agrupam com pessoas com o mesmo perfil psicopata e acabam se tornando "dependentes".
A polícia apontou Anderson José Bastos, o Anso, Valmir Conti, o Valmirzinho, e Valdeci de Souza Moura, o Fiinho, como os mais violentos do grupo. Os três já foram mortos em ações da polícia.
O líder Andinho foi preso na última segunda-feira. Há, no entanto, outros membros da quadrilha que ainda estão foragidos: Cristiano Nascimento de Faria, 25, o Cris, Claudenor Henrique Marinho, o Timba, Fábio Conti, 23, Roberto Custódio Júnior, 32, e Romilson Rosa Tosta, 34.
De acordo com o delegado, quem participou de crimes com a quadrilha de Andinho vai acabar levando essa "tecnologia" do crime para outro grupo.
O know-how da quadrilha de Andinho, segundo Santos, evoluiu com o passar do tempo. "No início, eles entravam nas casas para roubar os pertences das vítimas. Depois, passaram a exigir dinheiro para não levar alguém da família e, a seguir, passaram a levar uma das pessoas das casas assaltadas em sequestros rápidos, com baixo valor de resgate", disse.
O ápice do bando, segundo o delegado da Deas, aconteceu depois do assassinato de Rosana Melotti. "A partir desse momento, a quadrilha começou a fazer um sequestro atrás do outro. Temos investigações que mostram que uma vítima era sequestrada antes mesmo de a outra ser libertada com pagamento do resgate."


Texto Anterior: Há 50 anos
Próximo Texto: Inquéritos revelam brutalidade
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.