UOL


São Paulo, segunda-feira, 03 de março de 2003

Próximo Texto | Índice

TRANSPORTE

Linhas chegam a ter índice de 8,2 passageiros por m2, número duas vezes superior ao limite considerado confortável

Trens de SP têm lotação além do suportável

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

O sistema de transporte sobre trilhos na Grande São Paulo mantém níveis de lotação em horários de pico que superam os limites admissíveis de conforto, de acordo com pesquisas da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e do Metrô.
A linha 3-vermelha (Leste/Oeste) do Metrô e a linha A de trem (Francisco Morato-Brás) chegam a ter índices de, respectivamente, 8,2 e 7,4 passageiros por m2. O parâmetro considerado confortável é quando há até quatro usuários por m2. O nível "suportável", conforme referências internacionais, é de até seis por m2.
"Acima desse índice, a zona de desconforto é realmente muito grande", afirma Atilio Nerilo, superintendente de planejamento e monitoração da qualidade do serviço da CPTM.
A medição do Metrô é baseada em cálculos da empresa em 2002. A da CPTM é resultado de uma pesquisa inédita, obtida pela Folha, feita pela Teknites Consultores Associados, nas seis linhas do sistema, a partir de 535 mil entrevistas no final de 2001.
A lotação atinge níveis inadequados justamente em um momento de expansão da demanda do sistema sobre trilhos, principalmente nas linhas dos trens urbanos, em contraposição à queda drástica dos passageiros nos ônibus municipais de São Paulo (leia texto nesta página).
Na malha de 270 km da CPTM, os índices superam a marca "suportável" em duas das seis linhas: além da A, a E (Guaianazes-Brás) chega a ter 6,6 usuários por m2.
Na malha de 50 km do Metrô (sem contar os 9,4 km da linha 5-lilás, do Capão Redondo ao Largo Treze, inaugurada no final de 2002), além da linha 3-vermelha, a lotação ainda atinge 6,8 por m2 na linha 1-azul (Norte-Sul).
Esses índices também ultrapassam as referências de lotação dos ônibus urbanos. Uma resolução do Conmetro (Conselho Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial), de 1993, aponta um nível máximo de cinco passageiros por m2 -que é considerado pela SPTrans (São Paulo Transporte, órgão da prefeitura que cuida do setor) nos contratos com as viações paulistanas.
Os dois modos de transporte (trem e metrô) também mantêm ligações subutilizadas, com lotações abaixo do limite de conforto.
A pesquisa encomendada pela CPTM identificou que a linha C (Osasco-Jurutuba), que circunda a marginal Pinheiros, por exemplo, tem picos máximos de 2,8 passageiros por m2.
Na linha 2-verde do Metrô (ramal Paulista), a lotação máxima não passa de 3,9 por m2, nos horários de pico da tarde.

Concentração
A CPTM avalia que uma das principais dificuldades para solucionar os níveis inadequados de ocupação nos trens é a concentração de 52,5% das viagens exclusivamente nos horários de pico -das 5h às 8h e das 16h às 19h.
Essa demanda concentrada se deve à utilização do sistema principalmente para trabalhar -85% dos passageiros declaram essa razão da viagem.
"A situação só é grave nos picos. Nos demais períodos, os trens ficam subutilizados", afirma João Carlos de Campos Leme, sociólogo que participou da coordenação técnica da pesquisa da CPTM.
O levantamento será utilizado pela empresa para reprogramar a oferta dos trens, mas, para Leme, essa não é uma solução definitiva.
"Temos que ordenar a cidade, e não só satisfazer os excessos. O reescalonamento dos horários de trabalho é uma alternativa", diz.
No Metrô, Conrado Grava de Souza, gerente de operação, afirma que a disponibilidade de mais trens na linha 3-vermelha não é tecnicamente possível. Ele diz que a lotação dela nos picos já chegou a atingir 8,5 passageiros por m2 em 2001.
"A demanda de transporte na zona leste é grande, e a oferta é restrita. A situação só vai melhorar depois das novas obras", diz Souza, em referência aos projetos de ampliação da linha 2-verde, ligando a estação Ana Rosa ao Sacomã, e da Integração Centro.
Esse projeto prevê interligar as linhas E e F da CPTM, na zona leste, às estações Luz e Barra Funda do Metrô, sem a necessidade de transferências.
A conclusão das linhas era prometida pela gestão Geraldo Alckmin (PSDB) para os últimos meses do ano passado, mas as obras sofreram atrasos e só devem ficar prontas na metade deste ano, segundo a CPTM.


Próximo Texto: Inclusão de novas composições não resolve problema
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.