São Paulo, quinta-feira, 03 de março de 2005

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CRIME NO CEARÁ

Manifestantes pediram justiça; magistrado matou segurança de supermercado em Sobral (CE) no domingo

Juiz que matou vigia se entrega sob pedradas

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Houve protesto e até pedradas na chegada do juiz Pedro Percy Barbosa Araújo, 57, ao Comando do Corpo de Bombeiros, em Fortaleza, onde ele está preso sob a acusação de matar o vigia de um supermercado em Sobral (CE).
A imagem de Araújo atirando na nuca de José Renato Coelho Rodrigues, 32, foi gravada pelo circuito de câmeras do supermercado e testemunhada por outros funcionários no domingo à noite.
Logo que chegou para se entregar à prisão, às 20h30 de terça, o juiz foi recebido por manifestantes que gritavam "assassino", "covarde" e "justiça".
Algumas pedras foram jogadas contra seu carro, mas ninguém se feriu. Policiais tiveram de impedir que alguns manifestantes invadissem o prédio do Corpo de Bombeiros.
Ontem, o desembargador do Tribunal de Justiça que preside o inquérito, Edmilson da Cruz Neves, determinou o apoio de dois delegados da Polícia Civil para reunir provas e iniciar diligências em Sobral (cidade que fica a 233 quilômetros de Fortaleza).
Também foi iniciada uma sindicância, na Corregedoria do Tribunal, para avaliar uma possível punição administrativa a Araújo.
O juiz já foi afastado de suas funções, na 4ª Vara da Comarca de Sobral, e não receberá mais salário.
Um dos advogados de Araújo, Paulo Quezado, afirmou ontem que não deu entrada ao pedido de habeas corpus no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e que ainda analisa o caso para decidir que providências tomar.
Pela manhã, Araújo recebeu a visita da mulher e de uma filha, que levaram comida, roupas e revistas. Ele divide uma cela com outro preso e não tem televisão nem ventilador.
A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) do Ceará deverá acompanhar o andamento do inquérito judicial, o que foi aceito pelo próprio TJ, para evitar suspeitas de proteção e de corporativismo.

Tiro
Segundo as testemunhas e as imagens gravadas, não houve motivo algum para o crime.
O juiz chegou ao local às 22h20 no domingo, quando o supermercado já estava fechado. O vigia Rodrigues o informou de que o expediente já havia terminado, mas Araújo insistiu em entrar para fazer as compras.
Ao perceber que era "uma autoridade", o gerente da loja permitiu a entrada. O juiz, então, entrou com a arma na mão, já ameaçando o vigia, que não esboçou nenhuma reação de defesa.
Pelas costas, o juiz disparou um tiro à queima-roupa na nuca do vigilante, que morreu na hora. Em seguida, Araújo fugiu.


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