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Churrasco e bolo "animam" entrega de obra
Festa começou após o prefeito Gilberto Kassab e o vereador Milton Leite, ambos do DEM, entregarem urbanização de favela
Apesar de os moradores atribuírem ao vereador
os comes e bebes, este negou; não é crime
eleitoral, diz especialista
ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA DA FOLHA
Uma festança com 100 kg de
bolo, 2.000 kits de aniversário
(saquinho com pirulito, maria-mole, balas e língua-de-sogra) e
guaraná, que saíam freneticamente de um imóvel. A menos
de três quadras dali, o calor de
30ºC não atrapalhou uma
churrascada, na meio da rua, ao
som funk. Esse foi o domingo
atípico da favela do Jardim Iporanga/Esmeralda (zona sul).
Antes da festa, o evento oficial não teve comes nem bebes.
Por volta das 11h de ontem, o
prefeito Gilberto Kassab
(DEM) era recebido com fogos
de artifício, pela Escola de Samba do Terceiro Milênio, do Grajaú (zona sul), e com muitas faixas de "obrigado" e "parabéns"
ao prefeito e ao vereador Milton Leite, também do DEM.
Os dois estavam lá para a entrega de obras de urbanização
na área da favela, onde vivem
4.098 famílias, na margem direita da represa Guarapiranga,
a expressiva maioria de origem
nordestina, segundo a Secretaria Municipal de Habitação.
Quando Kassab, Leite e outros políticos, além da imprensa, deixaram o local, a festa, de
fato, começou. Inicialmente, ao
redor das 12h30, com a parte
doce. Depois veio a salgada.
Quem bancou a festa, segundo os próprios moradores do
bairro, foi o vereador. Já Milton
Leite diz que os moradores se
cotizaram para bancar a maior
parte da despesa.
Procurado pela reportagem,
o vereador, que em setembro
do ano passado trocou o PMDB
pelo DEM, partido do prefeito
Kassab, disse que colaborou
apenas com R$ 100 -sendo R$
50 dele e outros R$ 50 do filho,
o deputado estadual Milton
Leite Filho, do mesmo partido
do pai (leia texto ao lado).
O restante do custo da festa
teria saído, ainda de acordo
com Milton Leite, do bolso do
próprios moradores da favela.
Não era essa a versão dos moradores. "Foi tudo pago pelo vereador Milton Leite", disse
Sandra Regina, presidente da
comunidade, enquanto distribuía pedaços de bolo e refrigerante. O evento, nas palavras
dela, foi "um presente para celebrar as obras de melhoria".
Funk, suor e cerveja
Pingando suor, o letrista
João José da Costa, 42, carregava a faixa de agradecimento ao
prefeito e ao vereador. Contou
que não ganhou um tostão pelo
trabalho. "Mas o Milton Leite
prometeu nos dar uma festona.
Depois, é só alegria."
Em meio à festa, dois homens se aproximaram do repórter-fotográfico e tentaram
tirar sua máquina, enquanto
ele fotografava o churrasco.
Já a dona-de-casa Josélia de
Souza Conceição, 51, esperava
uma chance. "Só estou aqui na
espreita, esperando a poeira
baixar e a fila diminuir para eu
me aproximar. A gente não pode perder um negócio desses,
não é mesmo? É de graça."
Segundo o professor da USP
Renato Ventura Ribeiro, 38,
autor do livro "Lei Eleitoral Comentada", especialista no assunto, a festança não é considerada ilegal. "Se não houver
menção a eleição, número do
candidato, vote em fulano, candidato da educação ou coisas do
gênero, é considerada uma mera promoção pessoal. Não é
propaganda eleitoral. A partir
de 5 de julho, o candidato não
pode dar nada. E, antes disso,
não pode fazer campanha", diz.
Jet-ski
Após o evento no Jardim
Iporanga, o prefeito Kassab andou de jet-ski na represa de
Guarapiranga. Ele esteve no local para a entrega da Arena de
Esportes Guarapiranga.
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