São Paulo, segunda-feira, 03 de março de 2008

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Churrasco e bolo "animam" entrega de obra

Festa começou após o prefeito Gilberto Kassab e o vereador Milton Leite, ambos do DEM, entregarem urbanização de favela

Apesar de os moradores atribuírem ao vereador os comes e bebes, este negou; não é crime eleitoral, diz especialista

ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA DA FOLHA

Uma festança com 100 kg de bolo, 2.000 kits de aniversário (saquinho com pirulito, maria-mole, balas e língua-de-sogra) e guaraná, que saíam freneticamente de um imóvel. A menos de três quadras dali, o calor de 30ºC não atrapalhou uma churrascada, na meio da rua, ao som funk. Esse foi o domingo atípico da favela do Jardim Iporanga/Esmeralda (zona sul).
Antes da festa, o evento oficial não teve comes nem bebes. Por volta das 11h de ontem, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) era recebido com fogos de artifício, pela Escola de Samba do Terceiro Milênio, do Grajaú (zona sul), e com muitas faixas de "obrigado" e "parabéns" ao prefeito e ao vereador Milton Leite, também do DEM.
Os dois estavam lá para a entrega de obras de urbanização na área da favela, onde vivem 4.098 famílias, na margem direita da represa Guarapiranga, a expressiva maioria de origem nordestina, segundo a Secretaria Municipal de Habitação.
Quando Kassab, Leite e outros políticos, além da imprensa, deixaram o local, a festa, de fato, começou. Inicialmente, ao redor das 12h30, com a parte doce. Depois veio a salgada.
Quem bancou a festa, segundo os próprios moradores do bairro, foi o vereador. Já Milton Leite diz que os moradores se cotizaram para bancar a maior parte da despesa.
Procurado pela reportagem, o vereador, que em setembro do ano passado trocou o PMDB pelo DEM, partido do prefeito Kassab, disse que colaborou apenas com R$ 100 -sendo R$ 50 dele e outros R$ 50 do filho, o deputado estadual Milton Leite Filho, do mesmo partido do pai (leia texto ao lado).
O restante do custo da festa teria saído, ainda de acordo com Milton Leite, do bolso do próprios moradores da favela.
Não era essa a versão dos moradores. "Foi tudo pago pelo vereador Milton Leite", disse Sandra Regina, presidente da comunidade, enquanto distribuía pedaços de bolo e refrigerante. O evento, nas palavras dela, foi "um presente para celebrar as obras de melhoria".

Funk, suor e cerveja
Pingando suor, o letrista João José da Costa, 42, carregava a faixa de agradecimento ao prefeito e ao vereador. Contou que não ganhou um tostão pelo trabalho. "Mas o Milton Leite prometeu nos dar uma festona. Depois, é só alegria."
Em meio à festa, dois homens se aproximaram do repórter-fotográfico e tentaram tirar sua máquina, enquanto ele fotografava o churrasco.
Já a dona-de-casa Josélia de Souza Conceição, 51, esperava uma chance. "Só estou aqui na espreita, esperando a poeira baixar e a fila diminuir para eu me aproximar. A gente não pode perder um negócio desses, não é mesmo? É de graça."
Segundo o professor da USP Renato Ventura Ribeiro, 38, autor do livro "Lei Eleitoral Comentada", especialista no assunto, a festança não é considerada ilegal. "Se não houver menção a eleição, número do candidato, vote em fulano, candidato da educação ou coisas do gênero, é considerada uma mera promoção pessoal. Não é propaganda eleitoral. A partir de 5 de julho, o candidato não pode dar nada. E, antes disso, não pode fazer campanha", diz.

Jet-ski
Após o evento no Jardim Iporanga, o prefeito Kassab andou de jet-ski na represa de Guarapiranga. Ele esteve no local para a entrega da Arena de Esportes Guarapiranga.


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