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Questão é complexa, diz educadora
DA SUCURSAL DO RIO
Discutir o método é essencial,
mas esse não deve ser o ponto
mais importante do debate e não
deve se limitar a um confronto
entre fônicos e construtivistas.
Essa é a opinião de dois especialistas em alfabetização ouvidos
pela Folha: Antônio Augusto Gomes Batista, professor da Faculdade de Educação da UFMG e diretor do Ceale (Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita), e a psicóloga e antropóloga Elvira de
Souza Lima, consultora internacional na área de educação.
Ambos já trabalharam diretamente em projetos que buscavam
diagnosticar e apresentar soluções para a alfabetização.
"A questão do método foi considerada a partir dos anos 80 como
uma discussão de segundo nível,
quase desnecessária. Relatórios
internacionais mais recentes, no
entanto, têm mostrado que os resultados tendem a ser melhores
quando o professor explora essa
abordagem fônica. Não podemos
ignorar essas pesquisas mas também não podemos esquecer que
elas abordam apenas um aspecto
da aprendizagem", diz Batista.
O professor dá como exemplo a
experiência inglesa. "Na Inglaterra, depois que adotaram o método fônico, o governo investiu
mais na formação do professor
quando percebeu que a simples
mudança de metodologia não estava sendo suficiente para que os
bons resultados aparecessem."
Lima concorda. "Se a complexidade de se apropriar de um sistema simbólico fosse só uma questão de método, uma simples mudança resolveria o problema. Mas
temos vários subsídios, como essa
pesquisa do projeto Geres, que revelam que a questão é mais ampla, profunda e complexa."
Para ela, descobertas recentes
no campo da neurociência demonstram que o desenvolvimento biológico recebe interferências
da experiência cultural do indivíduo. "O desenvolvimento do cérebro é função da cultura. Este é
um fato primordial, esquecido
muitas vezes pela argumentação
que usa o conhecimento da neurociência para justificar esta ou
aquela posição", diz Lima. Para
entender as causas, diz ela, é preciso ter uma postura interdisciplinar.
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