São Paulo, segunda-feira, 03 de abril de 2006

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Questão é complexa, diz educadora

DA SUCURSAL DO RIO

Discutir o método é essencial, mas esse não deve ser o ponto mais importante do debate e não deve se limitar a um confronto entre fônicos e construtivistas.
Essa é a opinião de dois especialistas em alfabetização ouvidos pela Folha: Antônio Augusto Gomes Batista, professor da Faculdade de Educação da UFMG e diretor do Ceale (Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita), e a psicóloga e antropóloga Elvira de Souza Lima, consultora internacional na área de educação.
Ambos já trabalharam diretamente em projetos que buscavam diagnosticar e apresentar soluções para a alfabetização.
"A questão do método foi considerada a partir dos anos 80 como uma discussão de segundo nível, quase desnecessária. Relatórios internacionais mais recentes, no entanto, têm mostrado que os resultados tendem a ser melhores quando o professor explora essa abordagem fônica. Não podemos ignorar essas pesquisas mas também não podemos esquecer que elas abordam apenas um aspecto da aprendizagem", diz Batista.
O professor dá como exemplo a experiência inglesa. "Na Inglaterra, depois que adotaram o método fônico, o governo investiu mais na formação do professor quando percebeu que a simples mudança de metodologia não estava sendo suficiente para que os bons resultados aparecessem."
Lima concorda. "Se a complexidade de se apropriar de um sistema simbólico fosse só uma questão de método, uma simples mudança resolveria o problema. Mas temos vários subsídios, como essa pesquisa do projeto Geres, que revelam que a questão é mais ampla, profunda e complexa."
Para ela, descobertas recentes no campo da neurociência demonstram que o desenvolvimento biológico recebe interferências da experiência cultural do indivíduo. "O desenvolvimento do cérebro é função da cultura. Este é um fato primordial, esquecido muitas vezes pela argumentação que usa o conhecimento da neurociência para justificar esta ou aquela posição", diz Lima. Para entender as causas, diz ela, é preciso ter uma postura interdisciplinar.


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